Uma viagem ao México e a espiritualidade presente em Guadalupe
Há alguns anos, tive uma graça especial, realizei uma viagem para o México. Estando lá, um dos trajetos obrigatórias foi Guadalupe. Fiz, junto com outras pessoas, um tour guiado por um homem da própria cidade. Chegamos na praça em frente à Basílica, escutamos as explicações históricas e logo já seguimos; tivemos um momento para percorrer e escutamos mais explicações sobre a bela arquitetura daquele lugar: enorme, maravilhoso, clássico e moderno, não encontro palavras para descrever bem o que está contemplado naquele lugar. O passeio incluía outros lugares, que logo já fomos visitar. Quando voltamos para o hotel, voltei a ver as fotos e fiquei pensando sobre aquela experiência, foi uma sensação estranha, pois o que tanto desejava conhecer tinha “pouco sabor”.
Isso não poderia ficar assim! Então, no dia seguinte, bem cedo, perguntei qual transporte público chegava à Basílica. Peguei minha mochila, um mapa e a vontade no meu coração de reivindicar essa experiência.
Foto: Arquivo pessoal
Cheguei bem cedo ao local e logo perguntei que horário poderia concelebrar a Eucaristia; assim começou a aventura de redescobrir o “fenômeno guadalupano” de que tanto havia escutado falar.
Percorri os lugares com muita tranquilidade, acabei me empolgando e passando várias vezes nas “esteiras elétricas” diante da imagem santa – uma, duas, três, muitas vezes passei por ali (já que não podemos ficar parado nesse lugar). Sua beleza, cheia de imperfeições e defeitos, é cativante. Logo depois, ao celebrar a Eucaristia, fiquei um pouco mais perto, olhava com o canto dos olhos e sorria. Pedi, insistentemente, por esta querida América, tão linda nas suas imperfeições e em seus defeitos.
São Juan Diego
A experiência da minha visita já tinha mudado, mas ainda faltava o melhor: subir à capela da colina, esse lugar que nos lembra o encontro tão fecundo com São Juan Diego.
Ali estava eu, percorrendo as escadas que me levaram a esses santos lugares, como esta oração que está escrito nas paredes: “A terra que você pisa, peregrino, é consagrada, pois também pisou Maria quando, nesta colina, apareceu para Juan Diego”. Ao ler isso, encontrei uma parte da resposta que procurava, só assim pude compreender plenamente o que levou Juan Diego a confiar nesta bela dama, que lhe transmitia uma mensagem e encomendava-lhe uma missão.
Estive nesta terra onde, entre os dias 9 e 12 de dezembro de 1531, a Mulher vestida de sol se mostrou a Juan Diego e disse: “Não estou aqui, que sou tua Mãe?”. Ali onde morou Juan Diego, a seus pés até 1548.
Fixemos o olhar, neste dia, na figura do mensageiro, a do pequeno “Juan Dieguito”.
Trago a essas linhas as palavras de outro santo, João Paulo II, o qual, no dia da beatificação, nomeava-o como “o confidente da doce Senhora do Tepeyac”, uma linda imagem, confidente de sua mãe, quem lhe presta seu ouvido e o coração. Naquela celebração (6 de maio de 1990), destacou algumas de suas virtudes cristãs: “Sua fé singela, nutrida na catequese e acolhedora dos mistérios; sua esperança e confiança em Deus e na Virgem; sua caridade, sua coerência moral, seu desprendimento e pobreza evangélica”, em resumo, fé, esperança e caridade vividas profundamente.
O caminho percorrido por Juan Diego não foi singelo. Não vou relatar aqui o que já múltiplas biografias suas nos recordam sobre as idas e vindas de seus encontros com a Senhora do Céu, nem das experiências de “fracasso e frustração” em seus diálogos com o bispo, só será bom recordar que esse caminho é o da santidade, não é um caminho em linha reta, também não está semeado de rosas (as que aparecem, encontramo-nas nos lugares menos pensados), mas verdadeiramente é o caminho que guia ao lugar onde devemos estar, ao regaço onde repousamos, no manto.
O mesmo João Paulo II (Juan Pablo II) foi quem presidiu a cerimônia de canonização, nela recordava outras virtudes deste grande santo de nosso tempo, quando dizia naquele 31 de julho 2002: “No novo santo, tendes o maravilhoso exemplo de um homem de bem, reto de costumes, leal filho da Igreja, dócil aos pastores, amante da Virgem, bom discípulo de Jesus”, não são simples características as que se nos recorda, são as notas essenciais da vida cristã. Que bom exame de consciência poderíamos fazer com essas seis notas que nos presenteou João Paulo II (Juan Pablo II)!
A vida e a santidade deste homem de Deus, Juan Diego, deve ser um chamado permanente para todos nós e nos recordar a responsabilidade que temos “na transmissão da mensagem evangélica e no depoimento de uma fé viva e operante”. Juan Diego foi dócil à voz de Deus, que se manifestou na pessoa de Maria, a Mãe do Céu. Assim também deverá ser nosso caminho de santidade, um ouvido atento ao que Deus tem para nos dizer e os pés dispostos a cumprir Sua vontade.
Amado Juan Diego, “o águia que fala!”, ensina-nos o caminho que leva à Virgem Morena do Tepeyac, para que ela nos receba no íntimo de seu coração, pois é a Mãe amorosa e compassiva que nos guia até o verdadeiro Deus. Amém. (São João Paulo II).
São Juan Diego, rogai por nós!
Padre Martin Daniel Gonzalez
Arquidiocese de Corrientes – Argentina