Uma vida a serviço do Evangelho na comunicação
Todos nós temos nossas histórias e, nelas, detalhes que nos distinguem uns dos outros. Neste contexto, relato minha trajetória de vida religiosa consagrada na Congregação das Filhas de São Paulo, que tem o carisma de anunciar o Evangelho a todos pelos meios de comunicação.

Créditos: Acervo pessoal / Ir. Élide Fogolari
Nasci no estado do Rio Grande do Sul, em uma pequena comunidade rural com o nome de Lajeado Barracão, distrito localizado próximo a Santa Rosa. No pequeno vilarejo, havia uma capela, uma escola e um centro de lazer. Meus pais eram católicos e participavam assiduamente na comunidade, onde aprendi a viver os valores humanos, cristãos e éticos.
A mamãe e o seu pequeno livro de catequese
Quando meu irmão mais velho e eu estávamos nos preparando para a Primeira Comunhão, todas as noites, após o jantar, minha mãe se assentava na ponta da mesa, eu de um lado, meu irmão do outro, e respondíamos as perguntas que minha mãe nos fazia, com base no pequeno livro de catequese. Após um ano, sabíamos as perguntas e respostas de cor.
A minha Primeira Comunhão
No dia de minha Primeira Comunhão, após ter recebido Jesus, senti e vivenciei uma alegria imensa que é impossível descrever. A partir desse dia, comecei a dizer para meus pais que eu queria ser religiosa. Meus pais e ninguém da comunidade acreditava que um dia eu seria religiosa, porque eu era uma menina envolvida com todas as atividades da comunidade, muito criativa e divertida. Creio que pensavam que, para ser religiosa, eu deveria ser quietinha demais ou até apática.
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Você quer ser religiosa?
Certo dia, uma Irmã da Congregação das Irmãs Paulinas visitou a casa de meus pais, oferecendo bons livros. A religiosa olhou para mim e me fez uma pergunta: você quer ser religiosa? A resposta foi imediata: Eu quero. Olhei para meus pais e disse: Eu vou ser religiosa como esta irmã. Tive a plena convicção de que Jesus me dizia na pessoa da religiosa: “Vem e segue-me”.

Créditos: Acervo pessoal / Ir. Élide Fogolari
A voz de Jesus ecoava no profundo do meu ser: “Segue-me”
Houve muita resistência por parte de meus pais. Lembro muito bem que foram dias de muita oração, lágrimas e sofrimentos. No domingo, durante a Celebração Eucarística, diante da imagem de Nossa Senhora, na minha paróquia, chorei o tempo todo, pedindo que ela intercedesse junto a Jesus para que meus pais me deixassem ser religiosa.
A voz de Jesus ecoava no profundo do meu ser: “Segue-me”. Essa voz ressoava de forma insistente e conduzia-me a superar qualquer situação e obstáculo.
Na bagagem, uma sólida formação humana e cristã
Após 15 dias de diálogo e discernimento, finalmente, no dia 20 de julho de 1955, com apenas 15 anos, viajei com aquela irmã paulina para Porto Alegre, levando na bagagem uma sólida formação humana e cristã, além de um grande amor à Palavra de Deus, a Nossa Senhora, à Eucaristia e aos irmãos. Na capital gaúcha, estudei e me preparei para os primeiros passos para a vida religiosa com mais outras jovens que tinham o mesmo ideal.
Em 1962, já em São Paulo capital, com mais 18 jovens, consagrei-me a Deus, mediante os votos de pobreza, castidade e obediência na Pia Sociedade Filhas de São Paulo.
Uma missão específica: a Comunicação para anunciar a Boa Nova
Após minha consagração religiosa, continuei a missão e os estudos. Fiz minha graduação em Jornalismo, especialização em Comunicação e mestrado em Ciências da Comunicação na USP/ECA, com o objetivo de anunciar a todos a Palavra de Deus.
Com essa bagagem intelectual, religiosa e humana, coloquei-me a serviço de Deus, que me chamou para anunciá-lo a todos com a comunicação.
A serviço da Igreja
Prestei assessorias na área da comunicação na Arquidiocese de Olinda e Recife durante o curso de Jornalismo, onde fiz estágio; fui assessora de comunicação na Arquidiocese de Curitiba (de 1983 a 1987); prestei assessoria de comunicação na Arquidiocese de São Paulo (em 1993); na Arquidiocese de Maputo, na África, durante o Sínodo Africano (em 1993 e 1994), na Arquidiocese de Porto Alegre como Coordenadora Regional da Pastoral da Comunicação (em 2004), assessora do Setor de Comunicação da Pastoral da Criança e responsável pela produção dos programas radiofônicos “Viva a Vida” em Curitiba (em 1995 e 1996).
Assessora de Comunicação na Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação na CNBB (de 2007 a 2014); voltei à Arquidiocese de Olinda e Recife como coordenadora da Assessoria de Imprensa (de 2014 a 2020); e, atualmente, participo da Comissão para a Comunicação na Arquidiocese de Curitiba. Publiquei três livros – um, fruto do Mestrado; e os outros dois que exploram a temática da Pastoral da Comunicação.
Fui coordenadora dos cursos no SEPAC – Serviço à Pastoral da Comunicação e outros trabalhos de governo na Congregação.
Vida comprometida com o Evangelho
Confesso que, aos 85 anos de vida, posso dizer como minha cofundadora, Venerável Tecla Merlo: “Se mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria para o Evangelho”.
Durante minha trajetória, vivenciei o que Jesus respondeu ao apóstolo Pedro. “Certo dia, Pedro se aproximou de Jesus e disse: ‘Eis que deixamos tudo e te seguimos’. Jesus disse: ‘Em verdade vos digo que não há quem tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa ou por causa do Evangelho, que não receba cem vezes mais desde agora, (…) e, no mundo futuro, a vida eterna’” (Mc 10, 28-31).
Jesus convida todos a segui-Lo mais de perto, de várias formas. No entanto, implica renúncia pessoal, aceitação da cruz e compromisso com o Evangelho.
Gratidão a Deus pelas graças e perdão pelas incorrespondências
Tomo a liberdade para interpretar umas das frases de Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, quando disse que, se fosse contar a história da sua vida, a contaria numa atitude de louvor e de perdão a Deus. Assim como Tiago Alberione, nos 85 anos de vida e 63 de consagração a Deus, canto um hino de gratidão a Ele pelas inúmeras graças que me concedeu e peço perdão pelas incorrespondências às graças concedidas ao longo desses anos.
Pais, ensinem seus filhos a rezar e a acolher Jesus em seus corações
Peço a Deus que os pais ensinem seus filhos a rezar, a acolher Jesus em seus corações para segui-lo mais de perto – seja qual for a vocação. O importante é deixar-se envolver, possuir por Deus, seguir o Evangelho e viver os valores humanos, cristãos e éticos.
Para o Papa Leão XII, a “Vocação é uma aventura de amor com Deus, e não só um conjunto de normas”. Essa aventura, eu a vivo e procuro concretizá-la no meu dia a dia, em resposta ao chamado especial que me fez, seguindo-o mais de perto, para amá-lo no outro e em mim.
Ir. Élide Fogolari
Religiosa Paulina, atualmente integrante da Comissão para a Comunicação da Arquidiocese de Curitiba.