Do otimismo tecnológico ao chamado de Carlo Acutis
Costuma afirmar-se que o século XX acabou com a queda do muro de Berlim, em 1989, e o século XXI começou com o atentado às Torres Gémeas, de Nova Iorque, a 11 de setembro de 2001. Que aconteceu então entre 1989 e 2001?
No mundo ocidental foi um tempo de grande otimismo e desenvolvimento. Parecia que todas as sombras se tinham dissipado e que agora a humanidade só podia alcançar o seu pleno desenvolvimento.

Créditos: carloacutis.com
O salto tecnológico, sobretudo com a democratização da informática ao longo da última década do século XX, fez com que o ser humano se sentisse senhor de si próprio e do seu destino. Nada fazia pensar que haveria uma travagem neste otimismo.
Contudo houve, e o atendado às Torres Gêmeas veio mostrar que a inclinação para o mal tenta sempre o ser humano, e que este não pode confiar apenas nas suas forças. Precisa de Deus.
É neste contexto que Deus suscita a pessoa e a missão de Carlo Acutis: nascido em 1991, viveu os primeiros anos naquele pleno desenvolvimento otimista da sociedade. Eu próprio vivi esse tempo e, do que me recordo (nasci em 1990), era, em tudo, um tempo em que as metas mais sorridentes da humanidade pareciam estar ao nosso alcance.
Anunciar o Evangelho
Sobretudo, a democratização do computador, com o seu rápido progresso para processadores mais rápidos, internet mais rápida e mais instrumentos de desenvolvimento, expandiu o mundo que estava ao nosso acesso. Com facilidade, podíamos saber o que se passava do outro lado do mundo e podíamos entabular um contato pessoal e digital com tantas pessoas. Fomos a primeira geração que, desde o início, se sentiu «cidadã do mundo».
Carlo Acutis desenvolveu, no seu coração, um enorme amor a Jesus, e isso fez com que olhasse para toda essa situação como uma oportunidade de evangelização. A esse respeito, viveu bem aquilo que, em 2009, o Papa Bento XVI dizia a todos os jovens católicos na Mensagem para o 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais: «Senti-vos comprometidos a introduzir, na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo, os valores sobre os quais assenta a vossa vida».
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Depois, recordava uma trave-mestra da evangelização desde os primeiros tempos: «Nos primeiros tempos da Igreja, os Apóstolos e os seus discípulos levaram a Boa Nova de Jesus ao mundo greco-romano: como então a evangelização, para ser frutuosa, requereu uma atenta compreensão da cultura e dos costumes daqueles povos pagãos com o intuito de tocar as suas mentes e corações». Os evangelizadores da cada época são os homens e mulheres profundamente implicados nas dinâmicas sociais, culturais e intelectuais de cada momento.
Fé no mundo digital
Só corações bem mergulhados na realidade, iluminados pela luz do Evangelho, podem ser portadores da vida de Jesus em cada tempo e em cada lugar.
Bento XVI usa uma imagem bonita: como outrora, os povos cristãos, na expansão marítima, levaram o Evangelho aos continentes a que iam chegando; agora, é necessário chegar a este novo continente. «A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital”», afirma o Papa.
Carlo Acutis consegue compaginar a fé e a devoção a Jesus de todos os tempos com as características particulares do tempo em que ele viveu e, assim, colocar toda a sua inteligência e todas as suas forças ao serviço da transmissão da fé, ao maior número de pessoas.
Quando assistimos aos vídeos por ele criados e que estão acessíveis ainda hoje, por exemplo, no YouTube, vemos como ele procurava todas as formas para transmitir até os aspetos mais particulares da fé.
A este respeito, é muito interessante o vídeo que ele desenvolveu para ensinar a doutrina da transubstanciação, isto é, da transformação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus no sacramento da Eucaristia.
Celebrar a santidade de Carlo Acutis deve ser, hoje, para nós, uma súplica para que o Espírito Santo nos conceda, como ao Carlo, o dom de colocar todo o empenho e toda a criatividade em transmitir a fé. É possível isso acontecer na vida de cada um de nós, se abrirmos, como generosidade, o nosso coração a Deus.
Padre Ricardo Figueiredo