Impressiona-me a coragem que as pessoas têm de dizer quem são, mesmo sem nos conhecer direito. Talvez por acreditarem no Deus que anunciamos, ou pela necessidade de ser ouvidas, aproximam-se de nós e em poucos minutos de conversa partilham suas lutas e vitórias, escancaram-nos o coração!
Um rapaz, que há pouco partilhou sua vida comigo, levou-me a pensar na responsabilidade e no dom de ouvir o outro.
A princípio, fomos apresentados profissionalmente, foi a desculpa de que Deus usou para nos aproximar, mas que surpresa! Aquele homem conhecido por sua voz e talento, não estava interessado em falar sobre trabalho. Tinha sede do que é eterno, desejo de ser ouvido, acolhido e amado pelo Deus que conheceu, há pouco tempo, através da televisão.
Apesar de sua estatura alta, quando falava parecia um menino, que deseja fazer tudo novamente, para ver se desta vez acerta. Abriu o coração sem medo e sua confissão era diretamente a Deus. Eu apenas o ouvi procurando dar-lhe atenção, enquanto uma pergunta invadia minha sensibilidade: “o que devo dizer a este homem?
Somente quando me aquietei um pouco, é que ouvi Deus falar-me baixinho em meu coração: “você não precisa dizer-lhe nada. Escute-o, acolha-o…” Foi isso que fiz. Diga-se de passagem, com muito custo, porque meu ser falante queria logo dar-lhe respostas para suas dúvidas, e soluções para seus problemas. Quando será que vou aprender que não é assim?
Ver seus olhos brilhando e seu suspiro aliviado, no final da longa conversa, foi minha recompensa, ao menos, naquele momento.
Na verdade, o que o ser humano mais deseja é ser acolhido e amado por aquilo que é em sua essência: filho de Deus! O que faz ou deixou de fazer, não vem muito ao caso quando o assunto é felicidade eterna. Admitir os erros, falar das lutas, dos medos, partilhar sua verdade, parece-me que é uma forma autêntica de pedir socorro neste mundo meio louco, envolvido pelo barulho e pela constante pressa de seus habitantes.
Fico imaginando se eu teria a mesma coragem daquele homem de confessar minhas fraquezas a alguém que apenas se dispôs a ouvir-me. Compreendo que preciso ser mais simples, acreditar mais no Deus que se revela através dos acontecimentos e das pessoas. Claro que em tudo é preciso discernimento! Neste caso, refiro-me à coragem de assumir minha verdade e partilhá-la sem medo, isso é um dom preciso!
A verdade, por mais dura que seja, sempre é a melhor e única saída equilibrada que podemos ter na vida. Na verdade, não há ameaças nem culpas. A culpa corrói o peito, a verdade liberta a alma. Meu coração nasceu para ser livre em Deus, e n’Ele não há mentiras, Deus é a verdade!
São Francisco afirmou certa vez que o homem vale o que é diante de Deus e mais nada.
A simplicidade, a coragem e a sinceridade das partilhas que escuto, concretizam e atualizam esta mensagem.
Parece-me que Deus sempre amou aqueles que tiveram coragem de assumir sua verdade e aproximar-se d’Ele, mesmo conscientes de sua pobreza. Que o diga Maria Madalena!
O mundo carece de corações simples e verdadeiros, que tenham também a coragem de assumir o que são.
Preciso amar a realidade que está impregnada em mim: sou pequena, Deus é grande! Eu erro muito e Ele acerta sempre! Eu quero começar de novo. Ele o permite e me ensina como!
Sou o que sou diante de Deus, e não o que querem que eu seja, nem o que penso que sou. Que o Senhor nos conceda força e coragem para amar e viver a verdade!