A distância e a correria do dia a dia não rompem uma verdadeira amizade
Imagine aquele amigo que, durante anos, conviveu com você, dividindo sonhos, brincadeiras, sorrisos, lutas e conquistas. Enfim, essa pessoa que deu mais cor e brilho à sua vida – essa é uma das faces da amizade –, mas, por motivos superiores, precisou partir.
O tempo foi passando, alimentado por boas lembranças e algumas vagas notícias ou comentários distantes. Falta de iniciativas, descuido pelo afeto, respeito ao processo que cada um precisou viver? Talvez um pouco de tudo isso, mas o certo é que a amizade verdadeira é como a boa semente que, guardada na terra, espera o tempo de germinar. Quando a chuva cai, quando chega o outono, ela rompe o silêncio do solo e revela a força que jamais deixou de ter.
Hoje, vivo um pouco de tudo isso ao reencontrar um grande amigo, além de irmão de comunidade: padre Fernando Santamaria. Nós nos conhecemos há vários anos, e sempre nos demos bem, apesar de nossas inúmeras diferenças. Aliás, concordo quando dizem que as diferenças pessoais num relacionamento não são barreiras, mas riquezas, desde que haja respeito e caridade de ambas as partes. Trabalhando e convivendo com ele, experimentamos bem isso. Mas as próprias exigências da missão nos conduziram por outros caminhos, diga-se de passagem, bem distantes.
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
A alegria de encontrar um amigo
Hoje, ao encontrá-lo de novo, constato, com alegria, que mesmo tendo se tornado sacerdote, e com isso tenha tantas novas responsabilidades, seu coração é o mesmo e me encontro nele sem esforço nem embaraço. Quanto a mim, sua amizade sempre teve lugar seguro em minha alma. Alegramo-nos muito recordando nossas aventuras, brincadeiras e nosso jeito simples, talvez até ingênuo, de nos aprofundarmos na fé. A oração da manhã é uma das boas lembranças da qual gostamos de nos recordar. Antes de começar o trabalho, reuníamo-nos diante da imagem de Nossa Senhora e ali rezávamos empolgados. Um dos dois precisava tomar a iniciativa corajosa de interromper a prece, visto que as atividades estavam à nossa espera. E todos os dias a cena era a mesma. Hoje, padre Fernando brinca, recordando que nosso grupo começou, perseverou e terminou com os mesmos membros, ou seja, nós dois. E creio que a base de nossa amizade está na oração.
Há uma jaculatória do terço da família que diz: “Família que reza unida permanece unida”. Com esse testemunho, posso afirmar também “Amigos que rezam unidos permanecem unidos”. A Palavra de Deus diz em Eclesiástico 6,14: “um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, encontrou um tesouro”. Sou muito grata por cada tesouro que Deus, em Sua infinita bondade, me permitiu encontrar.
Leia mais:
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A amizade não morre
Pense, com carinho, nas sementes de amizade que, com certeza, estão guardadas no solo fértil de seu coração e deixe a chuva das boas recordações regá-las enquanto você espera o tempo de vê-las germinar.
Gosto quando a Ziza Fernandes canta: “amigo a gente guarda mesmo que haja falha, quando Deus constrói um laço, o amor jamais se acaba (…)
A amizade verdadeira nunca morre, e se vier a morrer, é porque talvez nunca tenha sido verdadeira ou faltou “terra boa” para guardá-la durante o sol ardente do verão inevitável da vida.
Hoje, passeando nas lembranças de amizade que marcam sua história, quem sabe seja oportuno manifestar, de alguma forma, para seus amigos o quanto eles são preciosos em sua vida.
Que Jesus, o Mestre da Amizade em todos os tempos, nos ensine a arte de cultivar esse dom tão precioso. Lembre-se sempre: amigo a gente guarda.