Saudade

A saudade nem se define nem se torna indiferente, se acomoda nos corações que sabem amar. Saudades tão antigas e sempre novas. Hoje sentei na escada, em frente ao portão de casa, para chorar a saudade, que só na língua portuguesa se configura tão bem, mostrando que o amor sobrevive ao tempo e ao espaço. O olhar no portão parecia querer dizer àqueles que amei, mesmo por um instante, através de um olhar, de um pedido de perdão, de um sorriso sincero, de um abraço prolongado ou de uma partilha: “Voltem logo!”

A saudade é a dor da alma daquele que crê em segredo, sem deixar de recolher as folhas da esperança, de ouvir o canto do rio, de perceber que o tempo passa e a vida sempre volta à alegria. E de entender que o barulho do trem, para aqueles que esperam, sempre indica chegada e nunca partida.

Esse desassossego, que toma conta de nosso coração, causa uma dor que não se localiza e é diante dela que experimentamos as boas lembranças, o desejo de amar melhor. Diante dela [saudade] também percebemos as nossas limitações, projetamos “bombas” de amor e sentimos a culpa (que deve ser expurgada da alma) de ter perdido as oportunidades de dizer com a vida: “EU TE AMO!” Há sempre uma chance para se recomeçar, pois o Evangelho está em nós e Jesus não quer que essa dor paralise nosso coração, mas que ela nos impulsione.

Precisamos aprender com o Senhor, pois, muitas vezes, ao passar pelo outro, nos olhamos sem nos encontrar, sorrimos sem dizer nada, trocamos palavras e nenhuma se eterniza em nossas histórias. É preciso que as coisas aconteçam de forma “contrária” para “contrariar” o ser amado e surpreendê-lo.

Saudade sempre tem algo a revelar. É próprio dela ser desvendada como expressão de um cantar íntimo. Ela consolida belas experiências, que, antes, eram apenas silêncio no coração do poeta.
Minha alma permanecerá na “escada da vida” olhando para o “portão do mundo” para fazer da saudade grandes poemas e belas canções de espera. Como diz padre Fábio de Melo: “Que ninguém fique de fora dessa espera, mesmo aqueles que dizem não crer, tenham a paciência de velar conosco. A espera será mais bela quanto maior for o número daqueles que esperarem juntos”.

Portanto, não perca tempo e permita àqueles que fazem parte de sua história, neste momento, fazer parte de suas saudades um dia.

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