“Uma amizade são duas vidas unidas no amor e vividas como se fossem uma só.”
A beleza da amizade cristã revela a profundidade da categoria de relação mais alta e mais nobre que os homens podem construir entre si: um elo de amizade possui algo de divino e de superior ao mundo sensível porque espalha, ainda que em fagulhas, a beleza da gratuidade, da doação e do amor mútuo e eterno que há na vida da Trindade. A relação de amor entre o Pai e o Filho gera o Espírito, vínculo de caridade e amizade que tem como fundamento primaz a mútua doação. É contemplando este mistério sublime de amor subsistente entre as Pessoas Divinas que
descobrimos o segredo para se construir uma verdadeira e profunda amizade.
É condição e pressuposto da amizade uma mútua estima entre os amigos, uma união de ideias e sentimentos manifestada pela cumplicidade e reciprocidade. Tal relação deverá ser pautada e edificada sobre um tríplice fundamento: a gratuidade, a liberdade e a confiança. O amigo é um bem por si mesmo, tê-lo ao nosso lado já basta para contemplar nele uma dádiva do céu. Por isso o amor da amizade é gratuito e independente, marcado pela iniciativa e pela presença, sem esperar nada em troca, sem usufruir do outro em benefício próprio, sem qualquer
mancha de exigências e expectativas desmedidas. Nesse sentido a amizade torna-se uma experiência pascal, uma vez que ela é passagem do egoísmo para a liberdade, da centralidade em si mesmo para a doação em prol do amigo.
É a partir de Cristo que toda amizade cresce e se desenvolve
Esta liberdade, por sua vez, é o segundo fundamento onde se estabelecem autênticas e maduras amizades. O amor de amigo é um amor que não prende, que não retém, que não segura a pessoa amada. Relações livres são garantias firmes de que serão duradouras: amizades presas e fechadas estão fadadas a autodestruição. Não haverá progresso no amor onde reina o aprisionamento. Por isso, é importante que o amigo construa outras relações e tenha o espaço para sua autonomia e liberdade, só assim o encontro amistoso será pleno de outras experiências e belezas.
Somos pobres demais para bastar ao coração do nosso amigo. Ele deve ser livre para buscar em outros corações e sobretudo no Coração de Cristo a plenitude que sua alma almeja.
Por fim, a confiança é a âncora segura da amizade, é por meio dela que os amigos encontram um no outro o abrigo e o refúgio para derramar suas dores, suas angústias e misérias. Confiar é entregar o próprio coração aos cuidados de outro coração, é dar ao amigo um espaço de liberdade e de participação dentro dos segredos da nossa alma. Somos ávidos de intimidade. Ser íntimo nada mais é do que se sentir em casa com alguém, é estar à vontade dentro do coração do outro, sem medo do desprezo ou da indiferença por nos apresentarmos com toda a nossa verdade. E somente o amor confiante saciará a sede de liberdade que trazemos dentro de nós. Assim, o coração do amigo torna-se o porto seguro onde podemos atracar nosso coração, o lugar do descanso e da segurança, porque é prefiguração do céu, o lugar da estabilidade e da segurança.
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As amizades marcadas pela gratuidade, pela liberdade e pela confiança serão sempre mais promissoras na medida em que se nutrirem da plenitude da amizade de Jesus: “chamei-vos amigos.” (Jo 15, 15). É a partir de Cristo que toda amizade cresce e se desenvolve, pois Nele está a resposta ao mais alto anseio de amor e felicidade que o homem traz dentro de si. É nele que está a realização e a posse da comunhão de amor da qual a amizade humana é penhor e
garantia. Portanto, o que pode ser dito de mais alto e mais sublime sobre a construção de verdadeiras amizades é que “elas nascem de Cristo, progridem segundo Cristo e por meio Dele são levadas à perfeição ” (Bem-aventurado Aelredo de Riveaulx, Tratado da Amizade Espiritual).
Willian Guimarães
Seminarista da Comunidade Canção Nova