“Deus é Amor!” (Jo 4,16) E Maria que, na sua qualidade de Mãe, mais que qualquer outra simples criatura viveu junto de Deus e a Ele unida, também mais que qualquer outra foi repleta de Amor. Diz São Tomás: “Um ser, quanto mais se aproxima de seu princípio, tanto mais participa do seu efeito” (S.T. 111, 27, 5,3).
Ela, a quem o Anjo saudou “cheia de graça” (Lc 1, 28) é também cheia de amor, mas a plenitude de graça e de amor em que Maria foi constituída, desde o princípio, não a dispensou do exercício ativo e assíduo da caridade, como de todas as outras virtudes. Assim apresenta o Concílio quando afirma: “A Bem-aventurada Virgem… cooperou de modo inteiramente singular na obra do Salvador, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade” (LG 61); e repetidas vezes indica-a como particular modelo de caridade.
Maria correspondeu à graça
Para Maria foi essa vida, como o é para todos nós, o caminho em que devia sempre progredir no amor. Também a ela foi pedida correspondência pessoal à graça. E o grande mérito de Maria foi exatamente o de ter correspondido, com a máxima fidelidade, aos imensos dons recebidos. Certamente, os privilégios da sua conceição imaculada, do estado de santidade em que nasceu e da sua maternidade divina foram puros dons de Deus. Todavia, longe de os receber passivamente, como recebe o cofre objetos preciosos, acolheu Maria tais dons como pessoa livre, capaz de aderir com a própria vontade aos favores divinos, mediante plena correspondência à graça.
Diz São Tomás que se Maria não pôde merecer a encarnação do Verbo, porém, mediante a graça recebida, mereceu aquele grau de santidade que a tornou digna Mãe de Deus (S.T. 111, 2, 11, 3) e o mereceu justamente por sua livre correspondência à graça. Maria é, no pleno sentido da palavra, a Virgem fiel que soube fazer render cem por um os talentos recebidos de Deus. A plenitude de graças concedidas por Deus corresponde à plenitude da sua fidelidade.
Vazia de si
“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com todo a tua alma, com todas as tuas forças e com toda a tua mente” (Lc 10,27). O mandamento do Senhor tem plena realização em Maria, que, sendo perfeitamente humilde e, portanto, totalmente vazia de si, livre de todo o egoísmo e de todo o apego às criaturas, pode realmente empenhar suas forças todas no amor de Deus.
Mostra-a o Evangelho sempre inclinada para o Senhor. A vontade divina, mesmo quando obscura e misteriosa, encontra-a sempre pronta, com plena submissão. O fiat pronunciado na Anunciação é a atitude constante de seu coração todo consagrado ao Amor (LG 62). A pobreza de Belém, a fuga para o Egito, a vida humilde e trabalhosa de Nazaré, a partida de Jesus para a vida apostólica, a solidão em que permanece, o ódio e as lutas que se desencadeiam contra o Filho, o doloroso caminho do Calvário, são outras tantas etapas da sua caridade que, continuamente, aceita e se doa, empenhando-a sempre mais intensamente na missão de “sublime Mãe do divino Redentor, companheira generosa, totalmente singular, e humilde serva do Senhor” (LG 61).
Amou com autenticidade
Maria vive sua maternidade divina em ato de incessante adesão, à vontade do Pai e à missão de seu filho, não conhece hesitações ou reservas, nada pede para si. Certo dia, quando desejava vê-Lo e falar-lhe, ouviu-O dizer: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? … Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, e minha irmã e mãe” (Mt 12,48.50). Maria acolheu em seu coração a austera resposta e, com maior amor que antes, continuou a viver a vontade divina que lhe pedia tanta renúncia.
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Sacrificando a alegria legítima e santa de gozar do filho, estava duplamente a Ele unida, porque fundida com Ele no único ato de oblação à vontade do Pai. Assim ensina Nossa Senhora que o verdadeiro amor, a autêntica união com Deus, não está nas consolações espirituais, mas na perfeita conformidade com a vontade divina.
Eduardo Rocha Quintella