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"O nascimento do sem-teto deve ser celebrado em todas as casas"

O significado paradoxal do Natal: a grandeza na humildade

Você já parou para pensar no significado paradoxal do Natal ? Desse acontecimento mais estrondoso e espetacular da história da humanidade que se manifesta de maneira tão humilde e singela …. É Santo Agostinho quem vai nos esclarecer esse paradoxo.

Presépio detalhado com figuras de Maria, José, Reis Magos e anjos ao redor do Menino Jesus deitado na palha seca.

Créditos: Arquivo CN.

Segundo uma homilia do santo, Jesus “nasceu sem teto” ou, mais precisamente, não teve um lar permanente na Terra, enfatizando Sua humildade e o cumprimento das Escrituras. Por vezes também ressaltou que o fato de Jesus ‘não ter onde reclinar a cabeça” demonstra que sua morada não é terrena mas celestial, além da primazia dos bens espirituais sobre os materiais.

Portanto, no Natal é essencial que você não se perca em questões externas: presentes, comidas e festas, mas esteja atento a esse singelo e pobre Menino que é Deus todo Poderoso.

Vejam o que Santo Agostinho nos fala em seu Sermão 187: “Aquele por quem todas as coisas foram feitas foi feito uma de todas essas as coisas. O Filho de Deus pelo Pai sem mãe tornou-se o Filho do homem por uma mãe sem pai. A Palavra que é Deus antes de todos os tempos se tornou carne no tempo determinado.

O criador do sol foi feito sob o sol. Aquele que enche o mundo jaz em uma manjedoura, grande na forma de Deus, mas minúsculo na forma de servo; isto foi de tal forma que nem Sua grandeza foi diminuída por Sua pequenez, nem Sua pequenez foi superada por Sua grandeza.”

O encontro da suprema grandeza com a nossa pequenez

O Natal não se trata de outra coisa do que de um encontro que também é paradoxal: o encontro da Suprema grandeza do Senhor com nossa ínfima pequenez. “Natal é o aniversário do Senhor. É quando a sabedoria de Deus se
apresentou a nós como uma criança, e a Palavra de Deus sem palavras expressou a carne como sua voz.” (St. Agostinho, Sermão 185).

Então, se corretamente compreendido, o Natal é uma provocação ao deslumbramento. Deslumbramento
diante desse Amor que vem até nós para nos revelar seu grande amor por nós e uma vida eterna e verdadeira. “Regozijemo-nos, então, nesta graça… pois que maior graça poderia Deus ter feito nascer sobre nós do que fazer seu Filho unigênito se tornar o filho do homem, para que um filho do homem pudesse por sua vez se tornar um filho de Deus? Pergunte se isso foi merecido; pergunte por sua razão, por sua justificativa, e veja se você encontrará alguma outra resposta além da pura graça.” (St. Agostinho, Sermão 185). Mas também nos provoca a refletir sobre
nossa pequenez e a essa grande graça que recebemos mesmo sem merecer.

Então, é tempo de pausar a correria para meditar que o Grande se tornou pequeno por você. Mas que hoje você continua podendo encontrá-lo nos mais necessitados que, como Ele, também não tinham um teto ou comida, ajudando a todos a entender que a vida não é uma junção de histórias ou fatos sem ligação, mas que tem um
sentido e um objetivo., um fim maior. A vida é sobre um encontro de Deus com os homens. Natal é isso: é Jesus nos ensinando que nosso fim supremo na existência é glorificarmos e nos alegrarmos em Deus por toda a eternidade.

O Despertar do Sono Espiritual: Deus Feito Homem

E, por isso, Santo Agostinho ressalta bastante que o Natal é tempo propício para despertar do sono espiritual para tomarmos consciência da dimensão espiritual do nosso ser. O bispo escreve: “Para o benefício de quem tal sublimidade veio com tanta humildade? Certamente não para ele mesmo, mas totalmente para nós. Acorde, humanidade, pois o seu Deus se fez homem!” Ele continua: “Desperta, humanidade! Para o seu bem, Deus se tornou homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Repito: por você, Deus se fez
homem. Você teria sofrido a morte eterna, se ele não tivesse nascido a tempo. Você nunca teria sido libertado da carne pecaminosa, se ele não tivesse assumido a semelhança da carne pecaminosa. Você teria sofrido infelicidade eterna, não fosse por essa misericórdia. Você nunca teria voltado à vida, se ele não tivesse compartilhado sua morte. Você teria se perdido se ele não tivesse se apressado em ajudá-lo. Você teria morrido, se ele não tivesse vindo.” (St. Agostinho, Sermão 185)

O mundo e seus atrativos podem, aos poucos, ir nos inserindo num torpor mortal que aos poucos pode ir envenenando nossa alma, tirando toda a sensibilidade espiritual e endurecendo nosso coração para o verdadeiro amor. A cada ano, o tempo do advento e o natal propriamente dito nos convida a sair desse torpor e olhar a Cristo que ilumina as trevas da sua existência e esclarece as consciências sobre o sentido autêntico da vida.

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A pedagogia da presença: Cristo como Morada no Coração

Enfim, aquele que não tinha um teto para vir a esse mundo, precisa encontrar morada no seu coração e na sua casa. Além disso, os sermões natalinos de Agostinho nos ajudam a entender a pedagogia divina, isto é, como Deus faz
questão de se revelar a nós da forma mais visível e tangível possível. É uma pedagogia de presença e encontro. E é isso que devemos promover em nossas casas e com aqueles que nos rodeiam: presença e encontro. Primeiramente com Cristo mas também com o outro. Jesus nos chama para tocarmos as feridas deste mundo doente e nos identificarmos com suas carências assim como ele fez conosco.

É um desafio para descobrirmos nossa real humanidade. “Deus se tornou um ser humano, para que em uma pessoa você pudesse ter algo para ver e algo em que acreditar”. (St. Agostinho, Sermão 126) em outro sermão ainda afirma: “Ele está em uma manjedoura, mas contém o mundo. Ele mama no peito, mas também alimenta os anjos. Ele está envolto em panos, mas nos veste com a imortalidade. Ele não encontrou lugar na pousada, mas fez para si um templo no coração dos crentes.” (St. Agostinho, Sermão 190).

Edvania Duarte Eleutério
Missionária Comunidade Canção Nova