Suave silêncio

É comum ouvir as pessoas – religiosas ou não – dizerem que no natal o “clima” é diferente, nas ruas, nas casas, no ambiente de trabalho, todos dizem que somos envolvidos pelo “espírito natalino”. Prefiro chamar tudo isto de “silêncio do advento”

O tempo do advento é marcado por um suave silêncio de Deus. Onde Ele mesmo introduz no coração do homem uma profunda necessidade de parar para ouvir e receber a Boa Nova, que é Seu próprio Filho Jesus Cristo.

Foi assim no anúncio do anjo Gabriel à Virgem Maria. Depois do “faça-se em mim” de Nossa Senhora, o anjo se retirou e o silêncio do advento tomou conta do coração de Maria realizando nela a palavra de Habacuc 2, 20 “O Senhor, porém mora em seu santo templo: fique em silêncio a terra inteira”.

Maria então é primícia daquilo que Deus já realizou em nós através do nosso batismo, nos tornando também templos vivos do Espírito Santo. Esta palavra então é para nós hoje: Silêncio, Deus habita em nós!

Deus nos pede silêncio porque quer nos mostrar, sobretudo neste tempo do natal, o Verbo que habita em nós e, muito mais que “espírito natalino” é o Espírito de Jesus que nos envolve.
Não se trata de um silêncio absoluto que interrompe o diálogo, mas um silêncio que gera expectativa, louvor, gratidão, reflexão, revisão de vida e, sobretudo, confiança na salvação.

A própria cor roxa do advento vem nos dizer que é tempo de recolhimento, pois “sem recolhimento adequado não se chega ao Mistério Supremo” (Bento XVI).

Se o Homem não faz silêncio para receber O Verbo, cai no vazio do barulho e se perde em sua palavra vã, e não poucos são os cristãos que tem trocado este maravilhoso silêncio de Deus pelo “barulho” do consumismo e do materialismo onde a palavra “rezar” é modificada pela palavra “comprar”. A matriz fecunda da palavra é o silêncio.

Desde a anunciação do anjo até o nascimento de Jesus o céu e a terra viviam este silencioso advento, até o dia em que nasceu o Filho de Deus, e então o céu rompe o silêncio com o canto de uma multidão de anjos Glória in exelcis Deo. (Lc 2, 13-14). É assim que Deus nos quer neste tempo de advento, vivendo uma silenciosa expectativa como viveu Maria e José, e, no dia do nascimento de Jesus prorrompamos o Glória junto com o céu.

Se até agora não silenciamos o nosso coração, a palavra de Deus vem nos ensinar que: “O Senhor, porém, mora no seu templo santo (que sou eu e você): fique em silêncio a terra inteira”.
Não nos esqueçamos: sem oração não se chega a Deus e, antes do Glória existe o silêncio.

Maria, Mãe de Jesus, ensina-nos a silenciar o nosso coração, e a vivermos o silêncio da expectativa, o silêncio do céu, o silêncio da Igreja o silêncio que gera em nós Cristo Jesus. Amém!