O Evangelho (Lc 3, 1-6) fala da Missão de João Batista: preparar o coração dos homens para acolher o Messias. O Senhor vem! Ele está para chegar e ninguém percebe nada. O mundo continua, como de costume, na indiferença mais completa, num consumismo selvagem!
Escutemos as palavras do profeta, o anúncio de João Batista: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas… Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixados…” (Lc 3,4-5). Toda a essência da vida de João, desde o seio materno, esteve subordinada a essa missão. O profeta se entrega totalmente a ela, dedicando-se não por gosto pessoal, mas por ter sido concebido para isso. E vai realizar sua missão até o fim, até dar a vida no cumprimento da sua vocação.
Foram muitos os que conheceram Jesus graças ao trabalho apostólico do Batista. Os primeiros discípulos seguiram o Senhor por indicação expressa de João; muitos outros se prepararam interiormente para segui-Lo graças à pregação do profeta.
É bela a vocação de João Batista, pois abarca a vida inteira e leva a fazer girar tudo em torno da missão divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas próprias circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus.
“Eu sou a voz que clama no deserto!” João Batista não é mais do que a voz que anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo o seu ser está definido em função de Cristo, como teria de acontecer na nossa vida, na vida de qualquer cristão. O importante da nossa vida é Jesus. À medida que Cristo se vai manifestando, João procura ficar em segundo plano, vai desaparecendo. Dizia São Gregório: “João Batista perseverou na santidade, porque se conservou humilde no seu coração.”
Sem humildade não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. Então, a nossa vida ficaria vazia. Não somos apenas precursores, mas testemunhas de Cristo. Recebemos, com a graça batismal e a crisma, o honroso dever de confessar a fé em Cristo, com as nossas ações e com a nossa palavra. Que tipo de testemunhas nós somos? Como é o nosso testemunho cristão entre os nossos colegas, na família?
Temos de dar testemunho e, ao mesmo tempo, apontar aos outros o caminho. “Também nos conduzir de tal maneira que, ao nos ver, os outros possam dizer: este é cristão, porque não odeia, mas sabe compreender; porque não é fanático, porque está acima dos instintos, é sacrificado, manifesta sentimento de paz e ama” (É Cristo que passa, nº 122).
Nesse tempo do Advento, encontramos muitas pessoas olhando em outra direção, de onde não virá ninguém; também outros que estão debruçados sobre os bens materiais, como se fossem o seu último fim; mas eles jamais satisfarão o seu coração! Cabe a nós apontar-lhes o caminho.
Diz-nos Santo Agostinho: “Sabeis o que cada um de nós tem de fazer em casa com o amigo, com o vizinho, com os dependentes, com o superior com o inferior. Não queirais, pois, viver tranquilos até conquistá-los para Cristo, porque vós fostes conquistados por Ele.”
A nossa família, os amigos, os colegas de trabalho, as pessoas que vemos com frequência, devem ser os primeiros a se beneficiar do nosso amor por Deus. Com o exemplo e com a oração, devemos chegar até mesmo àqueles com quem não temos ocasião de falar habitualmente, porém, não devemos nos esquecer de que é a graça de Deus, não as nossas forças humanas, que conseguem levar as almas ao Senhor!
Que Deus nos ilumine para descobrirmos, em nossa vida, quais estradas tortuosas temos de endireitar para chegar até Ele. Mas quais vales precisamos preencher na vida profissional, na vida espiritual, na vida familiar e na vida de comunidade?
Possamos perceber que temos de abaixar nosso orgulho, nossa autossuficiência! Deus quer servir-se de nós para preparar os homens de hoje para a vinda de Cristo no Natal desse ano.
Temos o mesmo espírito de João Batista?