O Advento é o tempo da esperança cristã. O Papa Bento XVI, em sua Encíclica “Spe Salvi” (Esperança da Salvação), apresenta ao mundo uma forma de entendimento da fé e da esperança na vida eterna muito peculiar. Ele apresenta uma interpretação da Carta aos Hebreus, no capítulo 11, versículo 1, na qual o autor sagrado aproxima a fé e a esperança: “A fé é hypostasis das coisas que se esperam; prova das coisas que não se vêem”. Hypostasis é uma expressão grega que ao ser traduzida para o latim, corresponde a substantia, no português “substância”. Então podemos ler: “A fé é a ‘substância’ das coisas que se esperam; a prova das coisas que não se vêem.”
O Sumo Pontífice, nessa interpretação, nos apresenta que o cristão materializa hoje aquilo que espera para o amanhã. A vida eterna, para a qual fomos criados, é antecipada pela fé. Nós cremos na vida eterna, e por isso mesmo podemos desde já experimentá-la. Acreditar na vida eterna, portanto, é trazer todos os seus frutos para a nossa vivência atual, na carne. Somos destinados a uma vida nova, no paraíso, na presença de Deus com os Seus anjos, com os santos, com a Virgem Maria, e Jesus, o nosso Redentor. Esta é a esperança cristã: nascemos e passamos pela vida da carne, para ressuscitar pela força de Cristo, para esta vida eterna.
E como alcançar esta meta: pela fé. Mas uma fé “materializada”, isto é, uma crença ativa, que comporta ações que antecipam o céu. Isso porque as pessoas que não vivem em conformidade com a santidade que existe no céu, não poderão estar eternamente nele. No céu só há lugar para o que é puro e santo. A nossa vida presente terá que apresentar a Deus uma santidade compatível com Ele, para estarmos em na presença d’Ele. Mas como alcançar isso? Pela fé em Jesus Cristo, pela participação em Sua vida, pela Liturgia, especialmente pela Eucaristia, na qual o pão se torna outra substância: o próprio Cristo.
Em Jesus Cristo somos capazes do céu. Por isso há a necessidade de cada pessoa humana se encontrar pessoalmente com o Senhor, com a Sua doutrina, e acreditando n’Ele, comungando-O no banquete Eucarístico, possuir a vida eterna. Crer na vida eterna é viver em conformidade com Cristo. São Paulo nos atesta: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” quando teve seu encontro com o Messias e aderiu ao projeto de amor d’Ele, de forma incondicional.
Nós cristãos cremos na vida eterna e que a nossa vida presente é um caminho para chegarmos à nossa verdadeira morada. Mas isso implica uma revisão de vida, uma luta constante, para que nossa fé em Jesus Cristo se cristalize em atos de amor ao próximo, que é a expressão daquilo que existe no céu: o amor. A fé precisa materializar-se como amor entre as pessoas, pois é nessa perspectiva que podemos afirmar nossa crença, não com palavras, mas em gestos concretos. Muitos, neste tempo do Advento em que se pensa no final dos tempos, poderiam mudar os seus discursos e se preocuparem com a vida: as suas próprias vidas, a vida de seus semelhantes, e fixarem os olhos na esperança futura, cujo penhor nos foi dado por Jesus Cristo Nosso Senhor. É nisto que queremos crer: na vida eterna, que nasce numa vida em comunhão de amor com Cristo e com os irmãos.