Deus não sumiu, Ele assumiu!

A primeira coisa que fiz, ao pensar nesta frase, foi procurar num dicionário o significado das palavras “sumir” e “assumir”. A primeira significa: «v.tr. Fazer desaparecer». Enquanto que para a palavra “assumir” encontrei por explicação: «v. tr. Tomar sobre si. Encarregar-se de». Essas duas expressões no cotidiano podem servir também para traduzir amor quando nos acontece de alguém – a quem amamos e nos ama – perguntar-nos: “Você anda desaparecido! Sumiu!” Mas, no Tempo do Advento, somente o verbo “assumir” é capaz de traduzir o Amor que não desaparece, mas se encarrega de cada um de nós. Sendo assim, a Igreja nos introduz nos mistérios dos «aparecimentos», do Amor de Deus na história e no fim da existência humana, quando todas as promessas vão se cumprir, inclusive esta: «Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas o que seremos ainda não se manifestou. Sabemos que, quando Ele aparecer, seremos semelhantes a Ele, já que O veremos, tal como é» (João 3,2).

Dentro deste contexto de celebração e esperança, permita-me perguntar: Será que estamos reconhecendo as vindas, aparecimentos, ou visibilidades do Amor aqui e agora? Estamos conscientes de que é o Amor que nos preparará para o dia do Juízo Final e para a instauração plena do Reinado do Amor em novos céus e nova terra, conforme nos ensina o novo Catecismo da Igreja Católica (1042-1050)?

O Tempo do Advento é oportunidade para que apareça o sinal que Jesus não quer que falte em nós: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34s). E como esquecer este nosso distintivo se fomos criados por Amor, pelo Amor e para o Amor? Mesmo que isso aconteça, os sinais e os contra-sinais dos tempos interpelam-nos, quando, por exemplo, ficamos sabendo que cerca de 854 milhões de pessoas sofrem de fome crônica. 24.000 pessoas morrem diariamente devido à fome e outras 1.000.000 devido a causas relacionadas com a desnutrição, o que eleva o número total de vítimas anuais a mais de 45 milhões; e 40 mil crianças morrem por desnutrição ou doenças relacionadas.

Não pensemos que estes amados e amadas de Deus se encontram somente nos países em vias de desenvolvimento, ou no Terceiro Mundo. É certo que isso se dá em maior número nessas regiões; mas nos EUA são cerca de 36,5 milhões os afetados pela pobreza; na Itália, crianças e adolescentes que vivem em situação de pobreza já somam dois milhões. Em Portugal, são dois milhões os portugueses que vivem em situação de pobreza. Ou seja, um em cada seis irmãos nossos no mundo estão em condições de pobreza extrema, não possuindo acesso a medicamentos nem à educação básica.

E tudo isso é prova de que Deus sumiu? Desapareceu? Claro que não! Com o Mistério da Encarnação, o Menino Jesus do presépio demonstra ter assumido a humanidade, mas também com todos os demais Mistérios da sua vida e Missão, tomando sobre si o Mistério do sofrimento e do mal, como o Servo Sofredor (cf. Is 53), que no Mistério da Cruz – sem jamais ter pecado – encarrega-se do lixo da humanidade, ou seja, o nosso pecado (cf. 2 Cor 5,21). Tudo isso para manifestar o Amor que apareceu na história a fim de nos salvar e nos capacitar ao amor do Ressuscitado, que nos leva a assumirmo-nos uns aos outros, como subentendemos no ensino do nosso Papa Bento XVI, na encíclica “Deus é Amor”, no número dezessete:

“Existe, com efeito, uma múltipla visibilidade de Deus. Na história de amor que a Bíblia nos narra, Ele vem ao nosso encontro, procura conquistar-nos até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até às aparições do Ressuscitado e às grandes obras pelas quais Ele através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente”.

Também na sucessiva história da Igreja, o Senhor não esteve ausente: incessantemente vem ao nosso encontro, através de pessoas nas quais Ele se revela; através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente na Eucaristia. Na liturgia da Igreja, na sua oração, na comunidade viva dos crentes, experimentamos o amor de Deus, sentimos a sua presença e também, deste modo, aprendemos a reconhecê-la na nossa vida cotidiana. Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor!

A todos um Santo e Feliz Natal, e que em 2008 continuemos promovendo a Civilização do Amor! E, por favor: Não suma! Assuma!