A realidade da Sede Vacante
Desde a morte do Papa Francisco em 26 de abril de 2025 até a eleição do novo Papa, a Igreja experimenta a realidade da Sede Vacante. Durante esse período, os cardeais se prepararam para realizar o Conclave. Os pastores da Igreja, os teólogos, os fiéis em geral e os jornalistas aproveitam esse tempo para aludir a uma realidade de capital importância que é a assistência do Espírito Santo. Como se dá essa assistência do Espírito Santo nesses momentos cruciais de Sede Vacante e de Conclave?

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O período de Sede Vacante é marcado pela inexistência de um bispo para a Diocese de Roma. São João Paulo II, na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, descreveu com clareza o significado da vacância na Sé Romana ao dizer que: “Durante a vacância da Sé Apostólica, o Colégio dos Cardeais não tem poder ou jurisdição alguma no que se refere às questões da competência do Sumo Pontífice, enquanto estava vivo ou no exercício das funções do seu ofício; todas essas questões deverão ser exclusivamente reservadas ao futuro Pontífice” ( n. 1). Isso significa que, nesse período, os cardeais não se assenhoram da Sé Apostólica para realizar mudanças. Eles apenas zelam para que as questões técnicas, previstas no ordenamento jurídico da Igreja, sejam executadas em vista do funeral e do sepultamento do Papa defunto e da realização do Conclave para a escolha do novo Papa.
O Conclave é um ato eclesial e requer fé
Em vista do Conclave, São João Paulo II demonstrou preocupação de que os cardeais eleitores não se esqueçam de que o Conclave é também um ato eclesial e que, por isso, requer fé. “As ações litúrgicas se harmonizam bem com as formalidades jurídicas, e, por outro, torna mais fácil aos eleitores prepararem o espírito para acolher as moções interiores do Espírito Santo” (Introdução da Universi Dominici Gregis). Além disso, o n. 50 da mesma Constituição Apostólica alude à necessidade de invocar a assistência do Espírito Santo enquanto os cardeais fazem a procissão da Capela Paulina para a Capela Sistina. O Conclave, enquanto ato eclesial e jurídico, não pode ser interpretado como um simples pleito.
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Em 1997, o então Cardeal Joseph Ratzinger concedeu uma entrevista durante a qual lhe perguntaram a respeito do papel do Espírito Santo no processo de eleição de um novo Papa. Sua resposta foi na mesma linha daquilo que está disposto na Constituição Apostólica acima citada. Assim respondeu o Cardeal: “Eu diria que o Espírito não toma propriamente o controle da situação, mas muito mais, como bom educador, por assim dizer, nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar totalmente. Portanto, o papel do Espírito deveria ser compreendido em sentido muito mais elástico, e não como se determinasse o candidato no qual votar. Provavelmente, a única certeza que oferece é que não se possa arruinar o todo.’’
A sinergia entre ação do Espírito Santo e a liberdade humana
Analisando, atentamente, as citações acima, não se pode falar de oposição entre o texto magisterial de São João Paulo II e a opinião teológica do então Cardeal Ratzinger. A escolha do novo Papa não é uma ação direta, ou uma intervenção extrínseca, do Espírito Santo. Na verdade, os dois adotam o princípio da sinergia entre a ação do Espírito Santo e a liberdade humana. Essa sinergia é a misteriosa ação conjunta entre o Espírito que inspira e a liberdade humana que, no mesmo Espírito Santo, acolhe essa inspiração.
Durante os dias que antecedem o Conclave, conscientes da gravidade da sua responsabilidade, os cardeais rezam mais, fazem juramentos, confessam-se, alguns jejuam, e se encontram para dialogar e assim praticar não apenas o direito de falar, mas também o dever de escutar. Dessa maneira, cada Cardeal vai, progressivamente, dispondo a sua liberdade para que ela possa captar o que o Espírito Santo diz à Igreja (cf. Ap 2, 7). Associemos as nossas orações às orações dos Cardeais, especialmente dos eleitores, para que durante a celebração do Conclave haja docilidade e acatamento às moções do Espírito Santo.
Pe Robison Inácio de Sousa Santos
Diocese de Guaxupé-MG, doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.