A lança e a graça, São Longuinho e o sangue de Cristo
Um dos soldados lhe perfurou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água (Jo 19,33).
A Igreja dedica o dia 15 de março à celebração da memória de São Longuinho. Um santo que pouco se conhece de sua vida nesta terra, todavia, foi um homem agraciado por um privilégio divino, estava no lugar certo e no momento certo para a graça de Deus agir. Um acontecimento que o tornaria famoso para sempre, a tal ponto de ser incluído até entre as páginas da Sagrada Escritura.

Crédito: ZU_09/Getty Images
Quem foi São Longuinho?
São Longuinho ou São Longinus, segundo uma antiga tradição, tanto presente na Igreja Católica como na Ortodoxa, foi aquele soldado que estava aos pés da cruz de Nosso Senhor e, segundo o capítulo 19 de São João, perfurou o lado de Cristo com a lança para certificar-se de sua morte. O que seguiu, conduziu o soldado a uma conversão de vida, uma famosa cena que seria representada em inúmeras pinturas e imagens, como a belíssima escultura de Bernini da Basílica de São Pedro.
As inúmeras versões de sua vida mostram Longuinho como um oficial do exército romano. Naquele dia em que estava no alto do calvário, coube-lhe a missão de conferir de perto aquela crucificação, um evento que todos comentavam em Jerusalém. As versões antigas de sua vida dizem que ele era acometido por uma doença nos olhos, e que, no momento da morte de Jesus, ao enterrar a lança no lado de Cristo, o Sangue e a água que jorraram atingiram-lhe os olhos, fazendo-o ser o primeiro a ver os efeitos da misericórdia divina. Naquele mesmo momento, Longuinho foi curado da cegueira dos olhos e da alma.
São Longuinho recebeu um privilégio
São João, que estava no local, atesta que um soldado perfurou o lado do Senhor com uma lança, o homem que teria feito isso foi o primeiro a se beneficiar de tamanha graça. Também Mel Gibson, no filme “A Paixão de Cristo”, representou tão bem essa cena: vemos o soldado se ajoelhando comovido com o que havia acontecido.
No alto do Calvário, um soldado pagão vivenciou o que para muitos santos seria permitido somente por meio de uma graça especial e místicas visões. Longuinho recebeu um privilégio sem igual de converter-se em poucos minutos. Agora, podemos pensar em tantas pessoas que conhecemos e que deveriam passar pelo mesmo processo, mas a estas o Senhor nos dá um outro caminho para atingir essa conversão: oferecer sempre o sacrifício da Missa pela conversão dos pecadores e pela salvação das almas. Naquele dia, outras pessoas também tiveram essa graça: recordemos aqui Simão Cirineu ao carregar a cruz, a Verônica ao enxugar a divina Face, e o ladrão Dimas, que conseguiu entrar no céu em sua última hora de vida.
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Longuinho foi fortemente marcado pelos eventos da Paixão e morte de Nosso Senhor. Sabemos que bastaria uma única gota do Preciosíssimo Sangue para salvar toda a humanidade. Os acontecimentos presenciados por todos os discípulos de Jesus, os marcariam para sempre, isso nos recorda a importância de nos prepararmos bem pelas práticas quaresmais, a fim celebrarmos a Semana Santa e a Páscoa.
Diante da Cruz, a busca pela santidade
Esses dias são um momento de grande graça que a Igreja nos oferece, no qual temos uma grande oportunidade de nos aproximarmos da cruz de Nosso Senhor. Que a meditação da Paixão nos impacte, dê forças para abandonar os vícios, os pecados que nos afastam da santidade, da preguiça em que estamos mergulhados, o orgulho que nos corrói etc. E, diante da cruz, os sofrimentos de nosso Senhor nos abram os olhos para entendermos a seriedade da vida espiritual. Ou santos ou nada!
Assim, a tradição associa a vida desse santo, mostra-o como um discípulo que parte para sua própria missão em direção à Capadócia, não mais servindo ao exército romano ou ao exército do mundo, mas servindo agora o Rei dos reis.
Na vida, por mais que erremos, a graça de Cristo se manifesta em nós ao não nos deixarmos permanecer na vida do “homem velho”. A vida espiritual é perseverar, não desistir de implorar a Deus a força nas fadigas, o consolo nas provações e a força nas quedas. Olhemos para nós mesmos: O que nos falta para seguirmos mais decididos a vontade de Deus? Que situações e coisas estão atrapalhando nosso crescimento na santidade? Perseveramos na oração diária e vemos nela uma ajuda de Deus?
Por fim, se somos devotos desse santo, já ouvimos falar que tantas pessoas pedem a ele para que lhes encontre algo que perderam. Uma devoção popular que, junto ao pedido, prometem ao santo dar três pulinhos. Ele não é um detetive, creio que a coisa perdida mais importante que ele pode nos ajudar a encontrar é o nosso caminho para o céu, a nossa conversão. Peçamos essa graça especial. Que o sangue a a água que jorraram do coração de Cristo nos purifiquem e nos levem à Vida Eterna.
São Longuinho, rogai por nós!
Padre Welison Borges de Lima
Diocese de Anápolis – Goiás. Mora em Roma, é mestrando em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana.