Celebrar todos os santos é celebrar o louvor de Deus na vida de homens e mulheres que O amaram e Lhe serviram em suas vidas, e agora já contemplam a face do Senhor e O adoram em sua feliz visão. Muitos são os santos do céu, mas os canonizados pela Igreja são e foram só alguns. Seus números são muito maiores, pois todo aquele que contempla a feliz visão de Deus, aquele que está no céu, é santo.
Os santos são nossos irmãos mais velhos na fé, ou como chama Santa Teresa do Menino Jesus, são “as grandes águias”. Portanto, irmãos, nascemos para as alturas, nascemos para o céu, para a eternidade. E com monsenhor Jonas Abib queremos dizer e fazer nosso projeto de vida em cima do “Ou santos ou nada”. Se não for para sermos santos, de nada valem todas as lágrimas que derramamos nesta terra, e tudo que vivemos aqui. Que desespero sermos tudo, menos santos! Com a ladainha da humildade, pedimos ao Senhor: “Que os outros sejam mais santos do que eu, contanto que eu, pelo menos, me torne santo como puder”. E que os nossos intercessores do céu nos auxiliem e nos ajudem nesse seguimento, lembrando-nos sempre que tudo é por amor a Deus.
Os santos que a Igreja hoje festeja não são apenas os oficialmente reconhecidos pela canonização, mas também aqueles outros, muito mais numerosos e desconhecidos, que souberam, “com o auxílio divino, conservar e aperfeiçoar, vivendo essa santidade que receberam”. Santidade oculta, vivida nas circunstâncias normais da vida, sem labirinto aparente, sem gestos que chamem a atenção, mas real e preciosa. Muitos são os santos que celebramos neste dia, muitos conhecidos por nós, outros anônimos que nem o nome sabemos.
Como os santos, a santidade é a minha meta
Tantos pais de família, mães de família, trabalhadores, jovens, famílias inteiras que estão lá na felicidade de Deus! Pessoas que a nossos olhares não eram santas, mas aos olhares de Deus seguiam firme sendo notadas por Ele e não pelos homens. Os santos se escondem do mundo e se mostram a Deus. Há muita gente no céu que em vida ninguém notou os altos graus que alcançaram da santidade, era a santidade do escondimento, daquela mãe de família que ficava com fome pra dar de comer a seus filhos, aquela com um marido difícil e tudo suportou com amor e por amor a Deus, unindo suas dores às dores do Cristo da Cruz. Quantas mães, pais e filhos que, na hora das dores, da fome e da injustiça, recorriam a Deus e a Virgem Santíssima! Minha Nossa Senhora me socorre. Tantos santos forjados na cruz de cada dia, nas lutas da vida cotidiana. Lutas estas vistas e acolhidas por Deus. Quando se sofre por amor tudo se transforma, nenhuma lágrima se perde. Deus recolhe todas. No céu, ficaremos surpresos ao vermos as almas, e muitas até conhecidas nossas. A verdadeira santidade se dá no escondimento de Deus que tudo vê.
Todo cristão batizado é chamado por Deus à vida de perfeição, ou seja, a viver a santidade. Santidade esta que se dá numa total dependência de Deus e da Sua graça. A santidade não é fruto de lutas e vitórias meramente humanas. Não sou eu que luto e me torno santo, a santidade é, antes de tudo, graça de Deus. Sem a graça de Deus não se chega à santidade; luta, luta e luta, mas não chega à meta. A santidade exige abertura à graça de Deus e docilidade para que esta atue em nós e através de nós. Exige a graça de Deus e o esforço nosso, é dom de Deus antes de tudo e depois tarefa nossa. Deus, com a Sua graça santificante, santifica-nos e leva-nos a uma vida de intimidade com Ele e com a Sua Palavra. O santo é aquele que vive a vida de Deus.
A santidade é um presente de Deus
Por isso a santidade não é fazer, mas ser, ser cristão de verdade, viver a vida nova enxertada em nós no nosso batismo. No Batismo, entramos na vida de Deus; na pia batismal, foi nos dado um presente, foi nos dado a vida nova, por isso no batizado vive Cristo, vive a Igreja, vive a vida da graça. No batismo, aderimos a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho, e ao nos tornarmos cristãos, permitimos que a graça do Espírito Santo aja e atue em nós, permitindo que Ele, o Divino artesão, plasme em nós a “Imagem do Verbo”, a imagem do homem novo, do homem santo. Portanto, no batizado vive a santidade de Deus, e o homem, ao participar da vida d’Ele, participa assim da Sua santidade.
A santidade é, sem dúvida, esse grande presente dado por Deus por meio da Sua Igreja a cada um de Seus filhos renascido nas águas. Ao longo da vida, auxiliado pela graça de Deus e pela ajuda da comunidade cristã, juntamente com os pais e os padrinhos, aquela criança ou aquele jovem vão sendo ajudados a desembrulhar o presente recebido e a permitir que a graça santificante recebida o transforme a cada dia em alguém renascido do alto, não da terra.
Em cada um de Seus santos Deus é louvado, amado e adorado, pois a verdadeira santidade não consiste em belos discursos, em curas extraordinárias ou em fazer grandes coisas. A santidade consiste em amar a Deus acima de tudo, amar com um coração que não se deixa apegar a nada. Amar a Deus é o princípio de toda santidade. Sem um amor autêntico, genuíno por Deus e pelo próximo, não existe santidade. Existirá uma caricatura de santidade, uma santidade falsa, baseada só em regras e normas, mas que não transforma, que não se torna evangelho vivo. Há pessoas vivendo uma santidade raquítica, não aquela verdadeira recebida como dom e vivida como graça por amor a Deus para os irmãos. Celebrar a santidade dos santos é, antes de mais nada, celebrar a santidade de Deus que faz santo quem Ele quer e como quer, pois Ele tem Seus meios!
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Dom de Deus
Meus irmãos, a santidade não é um prêmio dado aos bons alunos como sinal e mérito de seu bom comportamento. Ela é um dom dado por Deus a todos, não a uma classe seleta. Um grande santo da Igreja chamado São Rafael Arnaiz, um santo espanhol dos anos de 1930, dizia: “Senhor, faz-me santo, uma santidade anônima, escondida, santidade vivida nos meus afazeres de cada dia, santidade percebida por Ti e despercebida de mim, que eu não a veja”.
A fonte de toda santidade é e sempre será o amor a Deus e por Deus. Tudo por amor a Ele sempre. Era por amor a Ele que Francisco de Assis beijava leprosos, para vencer seu egoísmo e o nojo que sentiu ao ver aquele pobre miserável. Era por amor a Ele que Ângela de Mereci educava as meninas pobres. Era por amor a Ele que Vicente de Paulo socorria os pobres e abandonados. Era por amor a Ele que Catarina de Sena lutava pela reforma da Igreja. Era por amor a Ele que Inácio evangelizava; que Francisco de Sales pregava; que Francisco Xavier viajava para levar o Evangelho; que Teresa fundava conventos para amar a Deus; que Gianna Beretta escolhe salvar seu bebê em vez da sua própria vida; que Edith e Maximiliano deram a vida juntamente com Tito Brandsman em campos de concentração.
O amor a Deus nos leva a tudo viver por amor, dar a própria vida. Por isso a santidade não é mágica. Ela é decisão todos os dias, eu me decido a viver segundo a graça de Deus e me permito ser alcançado por essa graça transformante.
Permita-me citar o grande santo do trabalho santificado São Josemaria Escrivá que dizia: “Faz-me santo nem que seja a pauladas”. Ou seja, não existe outro caminho para o batizado senão a santidade. Viver a santidade é ser cristão autêntico, é ser a essência para a qual Deus me criou. O homem, ao tornar-se santo pela graça de Deus, vive a plenitude desejada e querida por Deus para ele, plenitude essa alcançada em Deus e por amor a Ele.
Santa Teresa do Menino Jesus em seus últimos colóquios dizia: “Os santos não morrem, eles se queimam de amor”. O amor: eis a essência de toda santidade. Sem o amor de nada valem os maiores esforços. Você pode passar o dia todo na Igreja, mas se não fizer por amor de nada vale.