Por que Deus escolheu São Gabriel?
Por que, entre miríades de anjos, Deus escolheu precisamente o Arcanjo São Gabriel para anunciar a Virgem Maria que ela foi escolhida para ser a Mãe do Filho d’Ele? Imaginamos que esse anjo possuía as aptidões mais adequadas para cumprir uma missão delicada, da qual dependia a sorte de toda a humanidade, e mais, a sorte de toda a criação.

Crédito: sedmak/GettyImages
Quem é São Gabriel?
Quem é São Gabriel, então? O que sabemos dele? Na Bíblia, ele aparece, primeiro, no livro de Daniel. Em Daniel 8,16 e 9,21, ele é enviado para dar ao profeta Daniel preciosas explicações e, assim, entenderá as visões que tinha recebido. Aquilo que para Daniel antes era um mistério que não conseguia compreender, apesar de sua capacidade de desvelar os segredos dos sonhos (cf. Daniel 1,17 e 5,12), o anjo conseguiu explicar com clareza. Aqui, reconhecemos a grande sabedoria de São Gabriel, que lhe dá a entrega de levar mensagens importantes aos homens.
Leia mais:
.: Anunciação de Nossa Senhora, início de nossa redenção
.: Igreja celebra a Anunciação do Senhor
.: Anunciação do Senhor: o sim que salvou a humanidade
.: Quem é o Arcanjo Gabriel?
Na verdade, a encarnação de Deus foi a mensagem mais importante que jamais um anjo conseguiu transmitir aos homens, e esta, portanto, foi confiada exatamente a São Gabriel. Por isso, já na interpretação da visão em Daniel 9, o arcanjo oferece uma pista para calcular a vinda do Messias. Ele fala das 70 semanas que devem ser interpretadas como unidades de 7 anos em vez de 7 dias. Assim, chegamos a contar 490 anos que envolvem, mais ou menos, o prazo entre a visão de Daniel e o nascimento de Jesus. Então, já 500 anos antes de seu anúncio a Virgem Maria, São Gabriel falou, pela primeira vez, da grande esperança de Israel, a vinda do Messias.
São Gabriel e Zacarias: anúncio do precursor
E não foi uma única vez que o Arcanjo Gabriel preparou os homens para o grande evento que separou até a contagem do tempo em antes e depois de Cristo. Um semestre antes de falar a Nossa Senhora, São Gabriel apareceu ao sacerdote Zacarias no templo em Jerusalém (cf. Lucas 1,11-20). Durante a oferta do incenso nos santuários, Zacarias viu o anjo de pé na sua frente, ao lado do altar. Mesmo que o sacerdote tenha feito uma cerimônia tão sagrada, ele se asseverou com a presença celeste. Mas São Gabriel o tranquilizou e anunciou a mensagem mais feliz de sua vida: “O Senhor atendeu o teu pedido. Isabel, tua esposa, vai te dar um filho, e tu porás o nome de João. Ficarás alegre e feliz, e muitos se alegrarão com seu nascimento” (Lucas 1,13-14). Quantos anos ele e sua esposa Isabel tiveram rezado pela graça de ter um filho! Agora, Deus atendeu seus pedidos. Verdadeiramente, uma alegria que Zacarias, na sua velhice, não tinha mais expectativas. Mas o anjo sabe muito bem: “Para Deus nada é impossível” (Lucas 1,37).
O dom de Deus, porém, foi muito maior. O arcanjo não apenas prevê o feliz evento do nascimento do filho tão inesperado, mas ele sabe que o filho de Zacarias vai indicar a chegada de um outro personagem muito mais anelado: Jesus, a esperança de Israel durante séculos. Sim, o filho anunciado ao rei Davi 1000 anos antes (cf. 2 Samuel 7:12-13), e o vencedor sobre o mal prometido desde o início da humanidade (cf. Gênesis 3:15). Por isso, com razão, podemos chamar São Gabriel o Anjo da Esperança. Ele anuncia a salvação e avisa também quando, finalmente, o tempo de espera for cumprido.
O anjo prevê também que os homens precisam de mais periodicidade, porque são lentos em compreender os desenhos de Deus. Por isso, instrui o sacerdote sobre como ele deve se comportar com o menino: “Não beberá vinho nem bebida fermentada; e, desde o ventre da mãe, ficará cheio do Espírito Santo” (Lucas 1,15). João Batista será consagrado ao Senhor desde antes de seu nascimento e deverá adotar o modo de viver dos Nazireus, que eram pessoas que fizeram um voto a Deus para manter uma dieta rigorosa e outras práticas como Sansão (cf. Juízes 13,3-5).
Depois, São Gabriel revela ao pai a grande missão do seu filho: “Ele fará voltar muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais aos filhos, e os rebeldes à sabedoria dos justos, e para preparar um povo bem disposto para o Senhor” (Lucas 1,16-17). A vontade de Deus para este menino está descoberta aos olhos do santo anjo. Ele sabe a tarefa que Deus lhe confiou, e ajudou a cumpri-la. Por isso sua mensagem é de grande proveito para os homens. Quando esses, porém, não lhe prestam atenção ou duvidam das suas palavras, o anjo também pode corrigi-los de forma dolorosa e eficaz. A Zacarias, que ainda não consegue acreditar na realização desse anúncio, o arcanjo impõe um silêncio de nove meses, “até o dia em que essas coisas acontecerem” (Lucas 1,20). Certamente, não devemos interpretar essa medida como castigo, mas, antes, como reparos e outro grande sinal, já que o pai há de recuperar a sua voz quando nascer aquele que é “a voz de quem grita no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor!’” (João 1,23).
A anunciação: encontro entre o Céu e a Terra
Bem diferente foi o diálogo entre São Gabriel e Virgem Maria. Já a maneira como o anjo se aproxima revela uma grande familiaridade entre a Virgem de Nazaré e o mensageiro celeste. O anjo entra no lugar onde está a Virgem, e ela não manifesta nenhum acontecimento ou medo. A primeira palavra de São Gabriel, saudando Maria, revela o profundo conhecimento de que ele tem aquela que, um dia, será a sua rainha. Ele a saúda com “Alegra-te, cheia de graça!” (Lucas 1,28). Dificilmente, poderia-se dar a Maria um título que espelhasse mais perfeitamente o que ela é: um puro dom de Deus. Tudo o que há nela é graça. Deus não economizou Seus presentes, e a Mãe de Deus acolheu toda a riqueza divina até receber o próprio Filho de Deus que, neste momento, estava batendo à porta do seu coração.
Percebendo a grandeza da missão que estava ligada a esse título, Maria se perturba, e, na sua humildade, se cala diante do mistério que o anjo aos poucos lhe estava revelando. Mas resta uma perplexidade: “Como aconteceu isso, se eu não conheço homem?” (Lucas 1,34). A Virgem de Nazaré não entendeu ainda como a vocação divina à maternidade poderia unir-se a seu propósito de virgindade. São Gabriel lhe garante que tudo será obra de Deus, para quem “nada é impossível” (Lucas 1,37). Logo Maria manifesta sua total abertura à vontade de Deus que estava presente no seu coração desde o início: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Tendo cumprido sua missão, o anjo se retira.
Esse encontro entre Maria e o anjo respira um ar de normalidade, como se o contato da Mãe de Deus com o anjo fosse um acontecimento do dia a dia. Ao mesmo tempo, foi bem claro para os dois que este “sim”, que São Gabriel pôde levar como resposta para o trono de Deus, transformou a história da humanidade.
Nós estamos bem habituados a valorizar o papel decisivo de Maria neste milagre da encarnação. Mas está na hora de atenção também à importância única que o arcanjo São Gabriel tinha para abrir a porta de entrada no mundo para o Filho de Deus .
Pe. Tarcisius Seeanner. ORC