Virgem Santa

Maria, a Mãe da Igreja

Maria que exerce a missão de ser Mãe da Igreja

O Papa Francisco definiu, no dia 11 de fevereiro de 2018, que a segunda-feira depois do dia de Pentecostes fosse dedicada à memória litúrgica da Virgem Santa Maria, invocada com o título «Mãe da Igreja». Todos os anos, essa memória é oportunidade de celebrar e renovar este mistério de Maria que exerce a missão de ser Mãe da Igreja. Nesta breve reflexão, quero sublinhar este aspecto de missão.

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O Concílio Vaticano II

Com efeito, no ano de 1963, nos debates do Concílio Vaticano II sobre a Constituição dogmática a respeito da Igreja, que depois recebeu o nome “Lumen gentium”, debateu-se a atribuição do título Mãe da Igreja a Nossa Senhora. Este debate foi relevante porque corria-se o risco de, ao dar a Maria o título de Mãe da Igreja, se diminuísse o papel do Espírito Santo como o gerador da Igreja. Com efeito, o título foi recusado pelos Padres conciliares. No entanto, o Papa Paulo VI, no discurso de conclusão da terceira sessão dos trabalhos conciliares, por iniciativa própria, quis proclamar este título solenemente. Disse: «Considerando as estreitas razões pelas quais se relacionam Maria e a Igreja, para glória da Virgem e nossa consolação, proclamamos Maria Santíssima “Mãe da Igreja”, isto é, Mãe de todo o povo de Deus, tanto dos fiéis como dos pastores que a chamam Mãe amorosíssima; e queremos que doravante a Mãe de Deus seja honrada e invocada com este gratíssimo título por todo o povo cristão» (PAULO VI, Discurso, 21 de novembro de 1964).

A manifestação da Igreja no Pentecostes

Qual a questão que se coloca a respeito do papel do Espírito Santo? É que o Espírito Santo é propriamente o gerador da Igreja e o seu princípio de unidade (cf. Catecismo da Igreja Católica, n.º 797-798). A manifestação da Igreja acontece no Pentecostes, com a descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos reunidos em oração. Portanto, este título atribuído a Maria não deve obscurecer o papel e o primado da iniciativa de Deus para gerar a Igreja. É, aliás, um título muito antigo, tendo sido utilizado pela primeira vez por Santo Ambrósio de Milão (338-397). Desse modo, chamar a Virgem Maria de «Mãe da Igreja» indica sempre aquela missão que ela própria recebeu de Deus, quer no momento da Anunciação, quando lhe é dada a missão de dar carne humana ao Filho de Deus (cf. Lc 1, 26-38); quer, no alto da Cruz, quando Jesus a indigita como Mãe dos Discípulos (cf. Jo 19, 25-27); quer a sua presença no Pentecostes, sendo exemplo e imagem do acolhimento do dom do Espírito Santo (cf. At 2, 1-13; 1, 12-14).

Maria em Pentecostes

Importa, assim, que esta memória litúrgica seja oportunidade de aprofundar não só a presença de Maria na obra da redenção e da santificação da Igreja, mas também a relação pessoal com cada um dos crentes e, por isso, apresenta-nos qual deve ser o estilo de vida cristã. Justamente assinala no mesmo discurso antes referido o Papa Paulo VI: «Embora tendo sido enriquecida por Deus com maravilhosas prerrogativas para que fosse digna Mãe do Verbo Encarnado, está próxima de nós. Como nós, também ela é filha de Adão, e por isso nossa irmã por laços de natureza; pelos méritos futuros de Cristo, ela foi imune do pecado original, mas às prerrogativas divinamente recebidas junta-se pessoalmente o exemplo da fé perfeita e exemplar». Assim sendo, a presença de Maria no Pentecostes deve ser oportunidade de a contemplarmos como Mãe e Mestra que ensina os discípulos a acolher o Espírito Santo.

A ação do Espírito Santo em Maria

Em Maria, o Espírito produziu a encarnação do Verbo, também no Pentecostes, e, ao longo de toda a história da Igreja, Nossa Senhora ensina-nos a receber o Espírito e a acolhê-lo de forma que dê muito fruto, até ao ponto de plasmar nos pensamentos, nas palavras e nos gestos de cada um de nós os mesmos pensamentos, as mesmas palavras e os mesmos gestos de Jesus Cristo.

Padre Ricardo Figueiredo – Doutor em Teologia Sistemática Pela Universidade Católica Portuguesa, Diretor do Departamento Comunicação Lisboa.