Santidade

Louvai, abençoai e ensinai: três relatos da biografia de São Domingos de Gusmão

A vida de São Domingos de Gusmão é marcada por inúmeros fatos impressionantes. Ele protagonizou momentos grandiosos: foi a ele que a Virgem Maria entregou o santo rosário, foi ele quem fundou a Ordem dos Pregadores e lutou ardentemente contra heresias. Esses são apenas alguns exemplos de uma vida envolta em graças recebidas desde antes de seu nascimento.

A biografia de São Domingos, escrita por seu sucessor, Jordão da Saxônia, reúne diversos episódios de sua vida e da história da Ordem dos Pregadores. Este texto destaca três desses relatos.

Créditos: Domínio público

O dom concedido aos que confiam

Em uma de suas viagens à França, São Domingos encontrou peregrinos alemães que o acolheram e também aos que o acompanhavam com grande generosidade. Quando chegou a hora da refeição, Domingos sentiu-se profundamente envergonhado por não poder retribuir com aquilo que tinha para oferecer: a Palavra de Deus.

A barreira linguística os impedia de retribuir como desejavam. Então, uniu-se em oração com seu irmão, Frei Bertrand, e juntos suplicaram:

“Senhor, faz com que possamos entender e falar a língua deles, para que possamos lhes anunciar o Senhor Jesus Cristo.”

Imediatamente, começaram a falar e a compreender o idioma dos peregrinos. Pelos quatro dias seguintes, acompanharam-nos, pregando com fervor sobre o Senhor Jesus.

Em um momento posterior, demonstrou uma de suas virtudes mais admiráveis: a austeridade. Com a intenção de fugir de qualquer glória terrena que o fato pudesse lhe trazer, disse aos irmãos:

“Eis, Irmão, estamos entrando em Paris; se os irmãos soubessem do milagre que o Senhor realizou por nós, nos tomariam por santos em vez dos pecadores que somos, e se isso se tornasse conhecido pelas pessoas do mundo, nos exporíamos seriamente à vanglória. Portanto, proíbo-te, sob obediência, de contá-lo a alguém antes da minha morte.”

A providencial conversão de hereges

A época de São Domingos foi profundamente marcada pelos confrontos entre a Igreja e as heresias que surgiam com frequência. São Domingos e a Ordem dos Pregadores tornaram-se um dos principais instrumentos de Deus naquele tempo, dedicando-se, com zelo, à missão de reconduzir à luz da verdadeira fé em Nosso Senhor Jesus Cristo aqueles que haviam sido seduzidos pelo erro.

Em certa ocasião, ainda antes da fundação da Ordem dos Pregadores, Domingos acompanhou o bispo de Osma, seu superior, em uma viagem a Castela. Foram enviados, a pedido do rei Afonso, para tratar dos preparativos do casamento de seu filho. Assim, partiram de Osma rumo ao reino castelhano.

Ao passarem por Toulouse, depararam-se com uma realidade alarmante: muitos, naquela região, haviam aderido a heresias, como relata sua biografia:

“O coração de Domingos se comoveu com a compaixão diante do grande número de almas tão miseravelmente iludidas. Na hospedaria onde se abrigaram em Toulouse, Domingos passou a noite inteira exortando fervorosamente e discutindo zelosamente com o hospedeiro herege, que, não conseguindo mais resistir à sabedoria e ao espírito que falavam, retornou, pela graça de Deus, à verdadeira fé”.

Após esse episódio, seguiram viagem rumo a Marcas, onde vivia a jovem prometida ao filho do rei. No entanto, ao chegarem ao destino, receberam a notícia de que a moça havia falecido. Ainda assim, a Providência Divina havia preparado frutos maiores daquela jornada. “Deus abriu caminho para um casamento mais excelente: uma união entre Ele e as almas reconduzidas dos erros de seus pecados às núpcias da salvação eterna”.

Irmão Domingos, o outro

Outro relato curioso de sua biografia diz respeito a um frade, da mesma ordem que São Domingos, que, curiosamente, também se chamava Domingos.

Este Irmão Domingos não era notavelmente culto, mas destacava-se por suas virtudes. Certo dia, uma mulher, persuadida por Satanás a tentá-lo, aproximou-se dele sob o pretexto de uma confissão. Disse: “Estou tomada por um desejo ardente por uma certa pessoa, mas, infelizmente, ela não me conhece, e, mesmo que conhecesse, não consentiria comigo. Meu amor por ela feriu meu coração irremediavelmente. Por favor, eu imploro, dê seu conselho e o remédio a alguém que está perecendo, pois você é quem pode”.

Com palavras carregadas de malícia, a mulher prosseguiu na tentativa de seduzi-lo. Ao fim, revelou que o homem por quem estava apaixonada era ele mesmo. Diante disso, Domingos respondeu: “Então, encontremo-nos mais tarde, em um lugar onde não seremos importunados”.

Ao anoitecer, a mulher chegou ao local combinado. Lá, encontrou o frade junto a duas grandes fogueiras. Assim que ela se aproximou, Domingos lançou-se no meio das chamas e, voltando-se para ela, disse: “Veja, preparei um lugar adequado para o nosso pecado”.

A mulher, tomada de espanto, fugiu imediatamente e arrependeu-se de seu intento. Domingos, por sua vez, saiu do meio das chamas como se estas não lhe causassem dor alguma, insensível ao fogo e à tentação, protegido pela graça de Deus.

Fonte: The Libellus of Jordan of Saxony 

Matheus Eleutério – estudante de jornalismo