Papa é acusado injuriosamente de "ocultar crimes sexuais"

Mais uma vez o Papa Bento XVI é atingido por uma injúria na televisão. A BBC de Londres divulgou, maliciosamente, num  programa  intitulado “Crimes sexuais e o Vaticano”, ontem, 1º outubro de 2006, a existência de uma Cartilha do Vaticano com 39 páginas, escrito em 1962, em latim (“Crimen Sollicitationis”), o qual teria sido distribuído aos bispos católicos de todo o mundo, e que impunha um pacto de silêncio sobre os crimes de pedofilia praticados por padres.

Segundo a agência britânica, este documento secreto teria sido elaborado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, (o que é mentira!), e foi utilizado durante 20 anos para instruir os bispos católicos sobre a melhor forma de ocultar e evitar acusações judiciais em caso de crimes sexuais contra crianças.

A BBC noticiou que o documento fornece elementos detalhados sobre como proceder em caso de “crime de solicitação de atos obscenos, por palavra ou gestos, no quadro da confissão” – mas também sempre que se verifique “qualquer ato obsceno externo (…) com crianças de ambos os sexos”.

O  Cardeal Primaz da Inglaterra e País de Gales, Comac Murphy-O’Connor, reagiu acusando a reportagem da BBC de ser “falaciosa” e esclareceu que o documento não se refere a eventuais atos de pedofilia por parte dos padres, mas apenas ao “uso impróprio do confessionário”. O Arcebispo de Birmingham, Vincent Nichols, que se pronunciou  em nome do prelado da Inglaterra e do País de Gales, disse que esse aspecto da reportagem do programa “Panorama” é  “completamente falso”. Disse ainda que: “A BBC deformou dois documentos do Vaticano e utilizou-os de forma enganadora, ligando-os ao horror do abuso de crianças à figura do Papa”.

Na verdade, o documento citado já foi objeto de discussão pública em 2003, quando da crise dos casos de abusos sexuais nos EUA e não é “secreto” há muito tempo.

“Crimen Solliciatonis” é da responsabilidade do Cardeal Alfredo Ottaviani e o então Cardeal Ratzinger só foi nomeado prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no final de 1981 – quase 20 anos depois deste documento ser escrito.  

O Arcebispo espanhol Julian Herranz, presidente do “Conselho Pontifício para a Interpretação dos Textos Legislativos”, confirmou já em 2003 que um documento do Vaticano, datado de 1962, recomendava que se guardasse segredo sobre casos de padres pedófilos. Mas, segundo esse mesmo Arcebispo, estes termos referiam-se exclusivamente ao contexto da confissão sacramental e não aos trâmites normais dos processos judiciais. Alguns advogados norte-americanos mostraram o texto de 1962 por ocasião do processo contra os padres acusados de pedofilia, nos EUA.

Em 2001, por determinação do Papa João Paulo II, o Vaticano emitiu normas específicas e rígidas sobre esta matéria, exigindo ser informado de qualquer caso de abuso sexual. O documento “Crimen Solliciatonis” já tinha sido automaticamente substituído pelo atual Código de Direito Canônico (promulgado aos 25 de janeiro de 1983). João Paulo II reorganizou toda esta matéria e este documento [“Crimen Sollicitationis”], de 16 de março de 1962, deixou de ser válido em 1983. Portanto, o Papa Bento XVI nada tem a ver com este documento.  

Mais uma vez a Igreja e o Papa são atingidos de maneira inescrupulosa pela mídia, desejosa de provocar escândalos e sucesso fácil. Mas a mentira sempre será vencida pela verdade; é uma questão de tempo.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino