Padeceu sob Pôncio Pilatos

Na Profissão de Fé do Papa Paulo VI, ele disse: “Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo sacrifício da cruz, nos remiu do pecado original e de todos os pecados pessoais cometidos por cada um de nós; de sorte que se impõe como verdadeira a sentença do apóstolo: ‘onde abundou o delito, superabundou a graça'” (cf. Rm 5,20) (n.17). 

Os apóstolos deixaram claras as razões da morte de Jesus: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (cf. 1Cor 15,3). “Foi Ele quem nos amou e enviou Seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados” (cf. 1Jo 4,10). “Foi Deus que, em Cristo, reconciliou o mundo consigo” (cf. 2 Cor 5,19). Ele significou isso e o antecipou durante a Última Ceia: “Isto é meu corpo, que será dado por vós” (Lc 22,19). João Batista viu e mostrou, em Jesus, o “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29). O Senhor é o Servo Sofredor que se deixa levar, silencioso, ao matadouro e carrega o pecado das multidões, é o verdadeiro Cordeiro Pascal.

São Pedro explicou o projeto divino de salvação: “Fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós” (1Pd 1,18-20).

A Igreja ensina que “os pecados dos homens, depois do pecado original, são punidos com a morte” (cf. Rom 5,12; §602); então, por meio de Jesus, Seu Filho amado, Deus supre essa exigência: “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21).


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O Catecismo ensina que “nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui a cabeça de toda a humanidade, torna possível seu sacrifício redentor por todos” (§616).

Jesus assumiu livremente, morreu por nós, agiu de maneira soberana: “Ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente” (Jo 10,18). É “o amor até o fim” (cf. Jo 13,1) que confere o valor de redenção e reparação, de expiação e de satisfação ao sacrifício de Cristo. Ele mesmo vai ao encontro da morte; Seu desejo era fazer a vontade do Pai. “’Eis-me aqui… eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’. Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do Corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (cf. Hb 10,5-10). “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar sua obra” (Jo 4,34). O sacrifício de Jesus “pelos pecados do mundo inteiro” (cf. 1Jo 2,2) é a expressão de sua comunhão de amor ao Pai: “O Pai me ama, porque dou a minha vida” (Jo 10,17). “O mundo saberá que amo o Pai e faço como Ele me ordenou” (cf. Jo 14,31).

A morte de Jesus faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro em Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus” (At 2,23); mas isto não quer dizer que os traidores de Jesus cumpriram, “na marra”, uma decisão de Deus. Não, todos agiram livremente e foram culpados. O Senhor estabelece Seu projeto eterno de salvação da humanidade, incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça. (cf. §600)

Cristo foi obediente ao Pai “até a morte de cruz” (Fl 2,8); assim realizou sua missão expiadora do Servo Sofredor que “justificará a muitos a levar sobre si as suas transgressões”, como profetizou Isaías. Mas, por que as autoridades crucificaram Jesus? Muitos atos e palavras d’Ele foram um sinal de contradição para as autoridades religiosas de Jerusalém, como tinha dito o velho Simeão (Lc 2, 34). Aos olhos de muitos parece que Jesus agia contra as instituições essenciais do povo judeu: a Lei de Moisés, o Templo e a fé no único Deus, Javé.

A morte de Jesus foi verdadeira. Como disse o profeta Isaias: “Ele foi eliminado da terra dos vivos” (Is 53,8) e “Minha carne repousará na esperança, porque não abandonarás minha alma no Hades, nem permitirás que teu Santo veja a corrupção” (At 2,26-27).

A Igreja ensina que, durante a permanência de Cristo no túmulo, “Sua Pessoa Divina continuou a assumir tanto a Sua alma como o Seu corpo, embora separados entre si pela morte. Por isso o Corpo de Cristo morto “não viu a corrupção” (At 2,27) (Cat. §630). A Ressurreição de Jesus “no terceiro dia” (1 Cor 15,4; Lc 24,46) foi a prova disso, pois os judeus acreditavam que a corrupção do corpo começava a partir do quarto dia.


Este é o quarto artigo de uma série de outros doze, explicando, resumidamente, cada um dos artigos do ‘Credo’.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino