Os que conhecem a longa história da Igreja Católica, sabem que ocuparam a Cátedra de Roma 265 Papas. Uma visão de conjunto, sem o aprofundamento dos fatos, obrigatório para qualquer bom historiador, cronista e intérprete dos acontecimentos, certamente mostrará que há entre eles grandes Pastores, santos e mártires, como também a exceção de alguns poucos que desmereceram as responsabilidades que Cristo colocou em seus ombros.
Impressiona a série dos Bispos de Roma, entre os séculos I e IV, até a conversão de Constantino Magno, o primeiro Imperador cristão e que deu liberdade à Igreja no ano 313, com o histórico Edito de Milão. A partir daí é que os cristãos puderam deixar as catacumbas de Roma e cumprir com relativa liberdade a missão evangelizadora confiada por Cristo. Antes disso os tempos foram de perseguição, com dezenas de Papas sacrificando a própria vida simplesmente por terem sido colocados à frente do pastoreio da Igreja.
Qualquer livro sobre a história da Igreja prova a fé desses Sumos Pontífices no Redentor e o seu amor à Igreja, levando-os aos tipos mais cruéis de morte, da crucifixão de cabeça para baixo de Pedro, ao exílio e as mortes em meio a tormentos desumanos. Seguiram-se algumas décadas de tranqüilidade, até a invasão dos bárbaros. Com os Imperadores indo residir em Constantinopla, o Ocidente europeu ficou à mercê desses bárbaros que chegavam aos milhares para saquear e assassinar. Os Papas acabaram assumindo, além do pastoreio da Igreja, a defesa da Europa cristã. Vem ao caso lembrar o Papa Leão Magno, que barrou a invasão e o saque de Roma pelos hunos.
Surgiram assim, depois de cristianizados os bárbaros, os primeiros reinos e povos católicos, entre os quais se destacavam os francos, filhos primogênitos da Igreja. Príncipes, reis e rainhas como Carlos Magno e Luiz IX foram generosos protetores da Igreja depois da conversão de Constantino. O Império mudou, tornando cristã a sua legislação e os costumes dos fiéis, na chamada Igreja de Cristandade. Lembro Inocêncio III no século XIII, como poderia recordar dezenas de outros que residiram no Vaticano e, durante 70 anos de insegurança em Avignon, no sul da França. De volta à Cidade Eterna, tiveram de enfrentar a questão das investiduras, a profanação do Santo Sepulcro de Cristo e dos Lugares Santos em Jerusalém.
Foram tempos difíceis na bimilenar história da Igreja, com o século X chamado de século de ferro, o cisma do Oriente, as heresias dos albigenses e mais adiante a ruptura de Martinho Lutero, João Calvino e outros com a Reforma, ocasionando a triste divisão entre os cristãos do Ocidente Europeu. Nos tempos da Renascença, os Papas foram grandes mecenas das artes. Porém, para dizer a verdade, agiram alguns mais como políticos do que como Pastores. Alexandre VI marcou negativamente o seu pontificado. Foi um bom político e autor do Tratado de Tordesilhas, mas um Papa indigno em sua conduta.
Novo período foi iniciado com a contra-reforma católica, a que deu início o célebre Concílio Tridentino, na metade do século XVI. Foi o recomeço de um momento positivo da vida da Igreja, apesar das guerras religiosas. Descoberta a América, vieram aos milhares os missionários e evangelizadores, transformando o Novo Mundo em nações católicas, hoje motivo de esperança da Igreja.
Como pudemos ver, as Revoluções Francesa, Industrial e Bolchévica, ao lado do nazismo de Hitler e das duas Guerras Mundiais, assim como a invasão dos Estados Pontifícios na segunda metade do século XIX, colocaram a Igreja e seus líderes, principalmente o Beato Papa Pio IX, Bento XV, Pio XI e Pio XII, em tempos novamente difíceis. Mas a barca de Pedro, em que às vezes o Mestre parece descansar, segue adiante.
Com a Igreja enfrentando novos problemas internos e externos, da metade do século XX até hoje, o Espírito Santo, alma da Igreja e protagonista da evangelização, abriu novos caminhos especialmente nas Américas, na Ásia e na África. De Pio IX a Bento XVI desconheço, nos dois mil anos da existência da Igreja, Pastores tão solícitos na condução do rebanho de Cristo. Com Leão XIII, São Pio X, Pio XII, João XIII, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, a Igreja segue em frente, seja na calmaria ou em meio às tempestades.