libertação

O caminho que verdadeiramente renova

Hoje, a Igreja, em sua Sagrada Liturgia, recorda o testemunho de dois apóstolos de Jesus Cristo: São Tiago e São Filipe – este último aparece, hoje, no Evangelho proclamado nas igrejas católicas do mundo inteiro em Jo 14,6-14.

Não podemos esquecer que este mês também é considerado – pela devoção do povo católico – como o mês de Maria. Por isso, torna-se oportuno apontarmos para o segredo da santidade da Virgem Santíssima, dos apóstolos e dos discípulos fiéis de Cristo de todos os tempos e lugares.


Assista: Deus quer uma santidade heroica


Estamos num tempo, no qual, em nome da liberdade de expressão e reflexão, somos tentados a apresentar um Cristo totalmente desvinculado da interpretação e da Sagrada Tradição da Igreja, ou ainda, um Jesus sem apóstolos e sucessores, como se houvesse um filho de Maria sem uma Mãe fiel, que é modelo, imagem e espelho da Igreja.

Numa comunicação confusa, individualista e desagregadora, as novas seitas e ideologias encontram espaço para prosperar até dentro do Cristianismo, enquanto a necessária santificação da Igreja deixa de acontecer. Tão necessário quanto as mudanças na Igreja é o testemunho de conversão dos seus membros. Sobre este tópico, o Papa emérito recordou como importante também para o Ano da Fé: «A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou […] A Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação» (BENTO XVI, Carta Apost. Porta da Fé, nº 6).

Mas quem é o centro, autor e fundamento desta santificação em potência e ato? Quando Jesus responde a Tomé sobre quem Ele era, nos fornece uma atual resposta: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim» (Jo 14,6). Esta resposta, para além dos “achismos” e relativismos contemporâneos, está esclarecendo à sua Igreja, em processo de fundação naquele momento histórico, e a todos da nossa atualidade que Ele é o caminho verdadeiro que revela e concede a Vida plena e eterna pelo Espírito Santo.

Esta Boa Nova Ele comunicou aos homens e mulheres, como ouviu Marta por ocasião da morte do seu irmão Lázaro: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crê nisto?» (Jo 11, 25-26). A nossa resposta precisará sempre ter um cunho pessoal e jamais individualista e anti-eclesial!

Interessante que São Filipe não entendeu, de imediato, as palavras do Senhor e Mestre, também no Cenáculo e, como ele, nós também precisávamos da revelação do mistério pascal de Cristo (Paixão-Morte-Ressurreição-Ascensão), assim como do coroamento de Pentecostes, para que todos pudéssemos crer e compreender o alcance da Palavra de Deus por meio de Cristo. Inclusive aquela comunicação que, até hoje, nos convida a descobrir o seu real significado, além de sua tradução prática na vida e missão da Igreja no mundo: «Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, pois eu vou para o Pai» (Jo 14, 12).

O povo da nova e eterna Aliança, em Cristo e pela força do Espírito Santo, bem orientada pelos seus pastores e instruída pelo Magistério oficial da Igreja, torna-se, cada um a seu modo, portador da Palavra e da Luz do mundo para todos os povos, culturas, religiões, situações, dúvidas e diferenças. Na carta aos Hebreus, a Palavra de Deus revela que toda obra, no tempo – por maior que seja – poderá contar com aquele enorme Amor encarnado, vitorioso, imenso, eterno, exemplar e intercessor: «Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas que concernem a Deus, a fim de expiar os pecados do povo, pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação» (Hb 2, 17-18).

Desde os tempos em que o povo de Israel foi chamado por Deus ao caminho de libertação pelo deserto até o seguimento do autor e consumador da nova e eterna Aliança, o Deus-caminho, a Palavra de Deus tem convocado discípulos a um seguimento fiel, mesmo em meio às ignorâncias, a qual não poupou nem o zeloso Saulo que perseguiu a Igreja nascente: «…a fim de trazer presos para Jerusalém os homens e mulheres que encontrasse, adeptos do Caminho» (At 9,2). Por isso, tudo tem dependido de uma misteriosa relação da graça de Deus que se propõe e o ser humano a responder livremente como ato de fé, esperança e amor.

Os que respondem não pretendem ser seguidos nem fundar uma “religião” agradável aos moldes individualistas e liberais do hedonismo contemporâneo, mas numa atitude de amor corajoso e dialogal vão ao encontro daquele caminho que, ao máximo, se adaptou a nós – menos no pecado – e agora chama-nos, a cada dia, a nos adaptar à Sua Palavra. A renovação da Igreja e do mundo depende também disso.

Os corajosos e humildes se apresentem! Só com Jesus e em Igreja esta “obra maior” acontecerá no tempo e culminará na Eternidade!

Padre Fernando Santamaria

Comunidade Canção Nova