O impacto de Constantino no cristianismo
Constantino foi Imperador da Gália, no lugar de seu genitor, Constâncio Cloro, de 307 d.C. a 312 d.C.; Imperador do Ocidente de outubro de 312 d.C. a setembro de 323 d.C.; e, único Imperador para o Ocidente e para o Oriente de 323 d.C. até sua morte, ocorrida em Nicomedia, no dia 22 de maio de 337 d.C.
Ascensão e reformas de Constantino
Ele foi considerado um bom militar e um político hábil, que soube aproveitar alguns aspectos positivos da tetrarquia – o Império sob o regime chamado de “Dominatus”, com base colegial quádrupla (um augusto-jupteriano, um augusto hercúleo e dois césares) -, porém, não deixou de lhe fazer correções, levando adiante apenas as reformas mais seguras.

Crédito: Pintura de Gianfrancesco Penni/Domínio Público
Dentre suas medidas reformistas, podem ser destacadas as seguintes: a autocracia do poder imperial, ainda que fosse mantida a divisão administrativa do Império; a concentração em suas mãos do poder militar, embora promovesse a distinção entre tropas de fronteira e tropas de manobra interna; o aperfeiçoamento da burocracia palaciana; a demonstração de reverência em relação à antiga Roma, mas, ao mesmo tempo, em 11 de maio de 330 d.C., a decisão de fundação de uma nova capital imperial, Bizâncio, dando-lhe seu próprio nome, Constantinopla; a renúncia à proibição do poder de compra das classes inferiores e, simultaneamente, a garantia de solidariedade aos segmentos mais abastados, favorecidos com a monetização áurea (o “solidus”); e, ainda, a manutenção de respeito ao velho paganismo, não obstante a tolerância para com os cristãos, chegando a receber o batismo, do bispo Eusébio de Nicomedia, quando já se encontrava bem perto da morte.
Influências religiosas e a conversão
Esse tipo de política empreendida por Constantino mostrou que ele era “revolucionário” apenas o suficiente para manter o estado das coisas: com esse critério, que se infere de todo o comportamento do imperador, deve ser avaliada, também a sua atitude religiosa. Como um soldado de carreira militar bem sucedida, na juventude (até por volta de 306 d.C.), Constantino foi seguidor da religião mitraísta e do “solis invictus”. Mitra, deus benfazejo, deus da luz, conforme a lenda pagã, nasceu de 24 para 25 de dezembro, saindo de uma pedra. Foi adorado pelos pastores. Venceu o touro inimigo ao se tornar adulto, e, por causa disso, era o deus preferido dos soldados e celebrado pelos imperadores no fim do século III. Como se sabe, “[…] Constantino, ainda pagão, mandou cunhar uma moeda com a inscrição: Soli invicto comiti, indicando que os imperadores se consideravam como deuses” (Reus, 2018, 168). O culto a Mitra, em geral, acontecia em todo o Império Romano, tal como demonstraram diversos santuários, em homenagem a esse deus, encontrados em escavações. Um altar pagão achado em Treves, nas escavações iniciadas em 1924, representa o nascimento desse deus da luz (Reus, 2018).
Transição religiosa
De 306 d.C. a 310 d.C., ao se casar com Fausta, filha de Maximiano Augusto, Constantino passou a participar da família imperial “hercúlea” e, portanto, da concepção religiosa que se encontrava na raiz da tetrarquia. De 310 d.C. a 312 d.C., após romper com o sogro, voltou ao henoteísmo solar, que fora introduzido, no Império Romano, por Lúcio Domício Aureliano, um homem de origem humilde, filho de um camponês e de uma liberta sacerdotisa, cultuadora do Sol invicto, que ascendeu nas fileiras do exército e se tornou imperador de 270 d.C. a 275 d.C.
A visão e o início da conversão
A partir de 312 d.C., Constantino iniciou sua luta contra Maxêncio pelo domínio do Ocidente. Nessa ocasião, começou a se interessar, cada vez mais, pelo cristianismo, não tanto por influência de sua genitora, a cristã Helena, e “[…] mais por uma visão política e religiosa dos acontecimentos, algo que lhe era congenial” (Pierini, 2004, p. 128). Nessas circunstâncias, em 312 d.C., antes do confronto decisivo com Maxêncio, na ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312 d.C., aconteceu-lhe a famosa “visão” da cruz e das palavras “com este sinal vencerás” (Eusébio, 2024a), ou, um mero sonho (Lactâncio), ou, ainda, uma simples prece ao Deus dos cristãos (Eusébio, 2024b). De qualquer modo, seja como for, “[…] trata-se de um começo de conversão” (Pierini, 2004, p. 128).
Consolidação da fé
De fato, ao entrar em Roma, naquela data, logo depois da vitória contra Maxêncio, Constantino não se dirigiu ao Capitólio para oferecer sacrifício a Júpiter. Então, recebeu a homenagem de uma estátua erigida na Basílica de Maxêncio, que trazia um “salutare signum”, provavelmente, igual àquele que mandou colocar nos estandartes e nos escudos dos soldados (monograma de Cristo? cruz monogramática? sinal da cruz propriamente dito?). Não se sabe, ao certo, qual dessas imagens tinha o signo que Constantino determinou que fosse cunhado nos equipamentos dos seus soldados.
O Edito de Milão
Em fevereiro de 313 d.C., em Milão, Constantino e Licínio Liciniano assinaram uma circular aos procônsules – o chamado edito de Milão -, instituindo “[…] a tolerância em relação a todas as religiões e, em particular, aos cristãos” (Pierini, 2018, p. 127).
Reconhecimento público
Já no ano de 315 d.C., Constantino recebeu a homenagem do arco do triunfo, perto do Coliseu (atual arco de Constantino), com uma inscrição que atribui a sua vitória à inspiração da divindade, sem precisar qual delas, ou seja, o henoteísmo solar ou o monoteísmo cristão (Pierini, 2018).
A consolidação do Cristianismo
Acontece que, de 320 d.C. em diante, Licínio, Imperador do Oriente, passou a adotar um posicionamento anticristão, retomando perseguições de outrora ao cristianismo, por animosidade em relação a Constantino. O confronto entre os dois imperadores resultou na derrota de Licínio, em julho e em setembro de 323 d.C. No ano seguinte, em 324 d.C., Licínio foi executado por ordem de Constantino.
O batismo de Constantino
Destarte, dois episódios marcam a interpretação historiográfica da inclinação de Constantino para a fé cristã: o edito de tolerância subscrito em 313 d.C., em Milão, e o seu batismo cristão no leito de morte em 337 d.C., em Nicomedia.
Marcius Tadeu Maciel Nahur
Natural de Lorena (SP), Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova. Formado em Direito, História e Filosofia. Mestrado em Direito com ênfase na Filosofia de Henrique Cláudio de Lima Vaz. Delegado de Polícia Aposentado.
Referências
EUSÉBIO DE CESARÉIA. Vida de Constantino. São Paulo: UICLAP, 2024a. 102 p.
EUSÉBIO DE CESARÉIA. História eclesiástica: os primeiros quatro séculos da Igreja Crista. Tradução de Dayse Fontoura. Curitiba: Publicações Pão Diário, 2024b. 376 p.
LACTANCIO, Lúcio Cecílio Firmiano. Sobre la muerte de los perseguidores. Traducción de Ramón Teja. Madrid: 2016. 276 p.
PIERINI, Franco. A Idade Antiga – Curso de História da Igreja I. Tradução de José Maria de Almeida. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004. 249 p.
REUS, João Batista. Curso de Liturgia. São Paulo: Cultor de Livros, 2018. 661 p.