Todos nós somos chamados a percorrer o caminho da santidade, e o caminho que leva à santidade e à unidade tem um nome e um rosto: Jesus Cristo
Nosso Senhor Jesus Cristo chama todos os Seus discípulos à unidade. Unidos na esteira dos mártires, os cristãos devem professar, juntos, a mesma verdade sobre a cruz. A corrente anticristã propõe dissipar o seu valor, esvaziá-la do seu significado, negando que o homem possa encontrar nela as raízes da sua nova vida e alegando que a cruz não consegue nutrir perspectivas nem esperanças: o homem — dizem — é um ser meramente terreno, que deve viver como se Deus não existisse.
A Igreja, como mãe e mestra, deve estar empenhada em libertar-se de todo o apoio puramente humano para viver profundamente a lei evangélica das bem-aventuranças. Isso é tão significativo que o próprio Papa Francisco as fixou como tema para as Jornadas da Juventude, colocando em relevo a misericórdia, o perdão e a acolhida de todos com a mesma caridade com que Cristo acolhe Seus discípulos. Ciente de que a verdade não se impõe senão pela sua própria força, que penetra nos espíritos de modo ao mesmo tempo suave e forte, nada procura para si própria senão a liberdade de anunciar o Evangelho. De fato, a autoridade da Igreja exerce-se no serviço da verdade e da caridade.
O anúncio do Reino e o convite à conversão
O anúncio messiânico – “completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto” – e o consequente apelo – “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15) –, com os quais Jesus inaugura a Sua missão, indicam o elemento essencial que deve caracterizar e ser o centro propulsor da nossa unidade arquidiocesana: a exigência fundamental da evangelização em cada etapa do caminho salvífico da Igreja.
Conversão pessoal e comunitária
O Concílio Vaticano II apela tanto à conversão pessoal como à conversão comunitária. O anseio de cada comunidade cristã pela unidade cresce ao ritmo da sua fidelidade ao Evangelho. Ao referir-se às pessoas que vivem a sua vocação cristã, o Concílio fala de conversão interior, de renovação da mente e da ação pastoral. Assim, cada um tem de se converter mais radicalmente ao Evangelho e, sem nunca perder de vista o desígnio de Deus, deve retificar o seu olhar para fazer a vontade d’Ele em renovado ardor missionário, levando a Boa Nova de Cristo nas redes de comunidade, indo ao encontro dos que estão afastados.
Unidade da fé
O Papa Francisco, na sua Encíclica Lumen Fidei, no número 47, ensina que: “A unidade da Igreja, no tempo e no espaço, está ligada à unidade da fé: ‘Há um só Corpo e um só Espírito, (…) uma só fé’ (Ef 4, 4-5).
Hoje, pode parecer realizável a união dos homens com base num compromisso comum, na amizade, na partilha da mesma sorte com uma meta comum, mas sentimos muita dificuldade em conceber uma unidade na mesma verdade. Parece-nos que uma união do gênero se oporia à liberdade do pensamento e à autonomia do sujeito. Pelo contrário, a experiência do amor diz-nos que é possível termos uma visão comum precisamente no amor: neste, aprendemos a ver a realidade com os olhos do outro e isto, longe de nos empobrecer, enriquece o nosso olhar.
Fé una
O amor verdadeiro, à medida do amor divino, exige a verdade e, no olhar comum da verdade que é Jesus Cristo, torna-se firme e profundo. Esta é também a alegria da fé: a unidade de visão num só corpo e num só espírito. Nesse sentido, São Leão Magno podia afirmar: ‘Se a fé não é una, não é fé”.
O Papa pergunta qual é o segredo desta unidade? “A fé é una, em primeiro lugar, pela unidade de Deus conhecido e confessado. Todos os artigos de fé se referem a Ele, são caminhos para conhecer o seu ser e o seu agir; por isso, possuem uma unidade superior a tudo quanto possamos construir com o nosso pensamento; possuem a unidade que nos enriquece, porque se comunica a nós e nos torna um”.
A fé que impele ao compromisso
A imensa promessa e as energias vibrantes de uma nova geração de católicos estão esperando para serem aproveitadas para a renovação da vida da Igreja. Estejamos, particularmente, próximos dos homens e mulheres, dos jovens e dos que estão na melhor idade, da infância e das crianças, e também dos que estão empenhados em seguir Cristo sempre com maior perfeição na generosidade, abraçando os conselhos evangélicos.
Com o enfraquecimento progressivo dos valores tradicionais cristãos e a ameaça de um período no qual nossa fidelidade ao Evangelho pode nos custar muito caro, a verdade de Cristo não apenas precisa ser compreendida, articulada e defendida, mas proposta com alegria e confiança, como a chave para a realização humana autêntica e para o bem-estar da sociedade como um todo, recordando que Cristo nos chama a viver a unidade que só Ele pode nos dar.
A fé suscita a santidade
Nossa Igreja deve estar em permanente estado de missão. Que a unidade que esperamos seja perpassada pelo nosso compromisso de fidelidade a Cristo, ao seu Evangelho, em sintonia com a Santa Igreja, sendo santo na sua vida cotidiana e eclesial.
Viver a santidade não é um privilégio de poucos. Pelo batismo todos nós recebemos a herança de nos tornarmos santos. Ser santo é uma vocação para todos os fiéis. Todos nós somos chamados a percorrer o caminho da santidade, e o caminho que leva à santidade e à unidade tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. No Evangelho, Ele nos mostra a estrada das bem-aventuranças.
Fé alicerçada em Deus
Por isso, rezemos ao Cristo Redentor para que possamos acolher e anunciar o Reino dos Céus. E isso somente será possível para aqueles que não depositam sua confiança nas coisas humanas, no ajuntamento do ser, do ter e do poder, mas no amor de Deus.
Unidos em Cristo, buscando viver com o testemunho dos Santos, sejamos encorajados a não ter medo de caminhar contra a corrente ou ser mal-entendidos e ridicularizados quando falamos de Cristo e do Evangelho, que evangelizamos para superar as diferenças, e, na diversidade de carismas e como Igreja, possamos testemunhar Cristo “ut omnes unum sint”.