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Quais as consequências que o pecado original deixou em nós?

Estas são as consequências do pecado original: a harmonia estabelecida, graças à justiça original, está destruída; o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é rompido; a união entre o homem e a mulher é submetida às tensões; as suas relações serão marcadas pela cupidez e pela dominação. A harmonia com a criação está rompida: a criação visível tornou-se para o homem estranha e hostil. Por causa do homem, a criação está submetida ‘à servidão da corrupção’.

Finalmente, vai realizar-se a consequência explicitamente anunciada para o caso de desobediência: o homem ‘voltará ao pó do qual é formado’. A morte entra na história da humanidade. (n.400). A partir do primeiro pecado, uma verdadeira ‘invasão’ do pecado inunda o mundo: o fratricídio cometido por Caim contra Abel; a corrupção universal em decorrência do pecado.

A Escritura e a Tradição da Igreja não cessam de recordar da presença e da universalidade do pecado na história do homem: o que nos é manifestado pela Revelação divina concorda com a própria experiência. Pois, o homem olhando para seu coração, ele se descobre também inclinado ao mal e mergulhado em múltiplos males que não podem provir de seu Criador, que é bom.

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O pecado original é um pecado contraído

Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. O gênero humano inteiro é, em Adão, ‘como um só corpo de um só homem’ (sicut unum corpus unius hominis – São Tomás de Aquino). Em virtude desta unidade do gênero humano, todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo (cat. 404).

‘Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores’ (Rm 5,19). ‘Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram’ (Rm 5, 12). ‘Assim como da falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só (a de Cristo) resultou para todos os homens justificativa que traz a vida’ (Rm 5,18).

Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas esse pecado afeta a natureza humana, que vai transmitir em um estado decaído (cat. 404). É um pecado que será transmitido por propagação (não imitação) à humanidade inteira; isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. O pecado original é denominado ‘pecado’ de maneira analógica: é um pecado ‘contraído’ e não ‘cometido’, um estado e não um ato.

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Em razão dessa certeza de fé, a Igreja ministra o Batismo para a remissão dos pecados, até mesmo para as crianças que não cometeram pecado pessoal (Conc. Trento: DS 1514).

‘Morte da alma’ (DS 1512)

O Batismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e faz o homem voltar para Deus. Porém, as consequências de tal pecado sobre a natureza (enfraquecida e inclinada ao mal) permanecem no homem e o incitam ao combate espiritual.

Pelo pecado original a natureza humana não é totalmente corrompida: ela é lesada em suas próprias forças naturais, submetida à ignorância, ao sofrimento, ao império da morte e inclinada ao pecado (essa propensão ao mal é chamada ‘concupiscência’).

A Igreja pronunciou-se especialmente sobre o sentido do dado revelado no tocante ao pecado original, no segundo Concílio de Oranges, em 529, e no Concílio de Trento, em 1546: ‘Não o abandonaste ao poder da morte’.

Por que Deus não impediu o primeiro homem de pecar? São Leão Magno reponde: ‘A graça inefável de Cristo deu-nos bens melhores do que aqueles que a inveja do demônio os havia subtraído’ (Sermão 73,4 : PL 54,396).

São Tomás: ‘Nada obsta que a natureza humana tenha sido destinada a um fim mais elevado após o pecado. Com efeito, Deus permite que os males aconteçam para tirar deles um bem maior. Donde a palavra de São Paulo: ‘Onde abundou o pecado superabundou a graça’ (Rom 5, 20). E o canto do Exultet: ‘Ó feliz culpa, que mereceu tal e tão grande Redentor’ (S. Th. III,1.3 ad 3).


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino