Entenda

Pode o Corpo de Cristo estar dividido?

É com essa paráfrase: “Eu sou de Paulo e eu sou de Apolo” que começamos a refletir quando, em 1ª Cor 3,4, o apóstolo Paulo desperta o coração de cada um para que não nos apeguemos aos níveis meramente humanos e nem às pessoas, possibilitando, assim, a divisão da Igreja de Cristo, ou seja, o Seu próprio Corpo.

Tanto Paulo quanto Apolo, na Igreja nascente, foram figuras que levavam o povo de Deus, os cristãos ao conhecimento dos mistérios da vida de Cristo. Nem Paulo e nem Apolo queriam atrair o povo para eles próprios, e sim apontar para Deus. Assim, como os santos fazem, eles são setas para indicar o caminho no qual cada um deve
percorrer.

Pode o Corpo de Cristo estar dividido?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Ambos eram pregadores da Palavra de Deus, dessa maneira podemos nos perguntar “Estamos seguindo pregadores, pessoas ou a Cristo?”. Esse é um risco, pois, mesmo dentro da Igreja podemos não estar seguindo a Cristo, mas apegado às pessoas, aos pregadores, cantores, ministros de oração. Contudo, Paulo nos adverte: “Pois que é Apolo? Que é Paulo? Não passam de servos pelos quais chegastes à fé” (1 Cor 3,5).

Quando, na Igreja, tomamos partido por um lado tendo que automaticamente excluir outro ou alguém, fomenta-se uma separação por estar atraindo para ele próprio e não para Cristo. Qualquer cristão que assim age, ele não faz o que o Catecismo da Igreja Católica orienta, no n° 521: “Nós somos chamados a ser uma só coisa com Ele; Ele nos faz
partilhar (comungar), como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele), por nós e como nosso modelo, viveu em sua carne”. A vocação de todo batizado é tornar-se um com Cristo, por isso, se alguém divide, esse deixa de estar em Cristo.

Um só corpo

Os dois sacramentos que nos inserem, neste mistério do Corpo de Cristo que é a Igreja, são o Batismo e a Eucaristia. O primeiro, nos coloca como filhos de Deus, inseridos no Corpo místico do Senhor; o segundo, nos faz, todos os dias, nos alimentarmos desse mesmo Corpo, fazendo-nos comungar da mesma fonte que é Jesus. Desse modo, entrando em comunhão, também, entre nós.

Dentro do corpo místico de Cristo, cada um tem uma vocação, uma tarefa. O apóstolo continua na carta aos coríntios dizendo que, alguns plantam e outros regam, mas quem faz crescer é Deus, não existem méritos para aqueles que estão realizando somente a sua tarefa. Com isso, São Paulo quer colocar em destaque Deus, para que nem ele e nem Apolo possam ter prerrogativas na missão. Assim como ninguém, na Igreja, deve conferir a si mesmo qualquer mérito, pois é Deus que faz crescer (cf. 1 Cor 3,6).

Paulo é ainda mais explícito ao dizer: “De modo que nem o que planta nem o que rega são, propriamente, importantes. Importante é Aquele que faz crescer: Deus. Aquele que planta e aquele que rega são a mesma coisa, mas cada qual receberá o salário correspondente ao seu trabalho” (1 Cor 3,7-8). Nem o cantor, nem o pregador e nem aquele que faz as curas são importantes, nada realizariam se o Senhor não realizasse antes, eles são iguais. Por isso, meus irmãos, nos voltemos a Cristo, nos apeguemos Àquele que é o verdadeiro responsável pela obra na Igreja.

A unidade do Corpo místico de Cristo

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a Eucaristia faz a Igreja, sendo assim, Cristo une todos os fiéis em um único corpo que é a Igreja. O que começa no Batismo, quando nos tornamos membros de Cristo, inseridos n’Ele, a Eucaristia faz novo todos os dias, atraindo todos os crentes ao redor do Altar de Deus. Não há como acontecer uma separação de quem está em Cristo, pois todos se tornam membros de um único corpo, mesmo com funções diferentes (cf. CIC n. 1396).

O exemplo dessa união com Cristo é quando Ele identifica-se com a videira e nós com os ramos. Vejamos como o evangelista João coloca: “Eu sou a videira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda” (15,1-2). O nosso objetivo é darmos frutos e isso só acontecerá quando estivermos unidos ao Senhor, o contrário disso, o próprio evangelista exorta o que acontecerá: “Quem não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará (cf. Jo 15,6). A única coisa que nos separa do Senhor é o pecado e, quando isso acontece, o resultado é a morte. E, o Senhor, em outro momento, já disse que não quer perder nenhum daqueles que o Pai Lhe confiou. Deus não deseja que pequemos e tenhamos como consequência a morte.

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O testemunho de quem está em Cristo

Por sermos membros de Cristo e fazermos parte do Seu corpo místico, cada um não pode agir diferente da cabeça que é Cristo. Também, a Igreja é edificada pela ação de cada membro que busca configurar-se ao Senhor, crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. Cada membro tem uma função primordial com a
contribuição no mistério salvífico de Nosso Senhor.

As palavras do Prefácio da Missa de Cristo Rei deixa claro a função de cada cristão que, a exemplo de Cristo, constrói o “reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino de justiça, do amor e da paz”. O segredo para a realização da vocação universal do cristão é estar unido à videira; só assim daremos muitos frutos no mundo,
construindo o Reino de Deus.

Assim, assumamos o chamado do Senhor que nos quer n’Ele. E o lugar para que essa união se torne cada vez mais verdadeira é na Igreja, pois, é nela que vivenciamos os sacramentos, sinais do próprio Cristo em nosso meio.