Reflexão

O pontificado de Papa Francisco marca uma “Igreja em saída”

Papa Francisco, em seus discursos, gosta de destacar a importância da missionariedade do cristão

Papa Francisco completou, na primeira semana de setembro, sua 20ª Viagem Apostólica Internacional. Ele esteve na Colômbia, totalizando, assim, cinco passagens pelo Continente Americano. Já está na agenda dele, para novembro, visitas a Bangladesh e Mianmar; no próximo ano, o Pontífice cruzará novamente o oceano em direção à América Latina, quando será recebido pelas populações peruanas e chilenas.

Viagens que indicam uma das características claras do pontificado de Bergoglio: uma “Igreja em saída”1. Um termo que ele mesmo gosta de repetir ao falar da missionariedade em nossos tempos. Ir aos que se encontram nas periferias geográficas e existenciais, rompendo com uma atitude de autopreservação.

O pontificado do Papa Francisco marca uma uma “Igreja em saída”Foto: Arquivo CN Roma

“(…) prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saí­do pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa em um emaranhado de obsessões e procedimentos 2”, ratifica o Papa.

Cultura do encontro

Além das viagens, as resoluções, os gestos, diálogos e mudanças por ele empreendidas e os documentos publicados revelam essa postura eclesial do encontro, mais especificamente da “cultura do encontro3”, convite lançado desde o início de seu pontificado. Um dos discursos em que ele apresenta a “cultura do encontro”, como meta do trabalho pastoral, foi realizado no Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude. Ele chama bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas a terem a coragem de ir contra a corrente da cultura eficientista, da cultura do descarte.

“Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro. Quero vocês quase obsessivos neste aspecto! E fazê-lo sem serem presunçosos, impondo as “nossas verdades”, mas guiados pela certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la4”, convoca o Papa.

Francisco mantém a marcha, com um novo fôlego e novo estilo, a renovação proposta pelo Concílio Vaticano II que “apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo (…)5”. Em sua primeira Exortação Apostólica, intitulada a “Alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium), o Pontífice expressa o seu desejo e meta para toda Igreja.

“Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que, muitas vezes, disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada, por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”6.
(EG 49).

Um ano dedicado à Igreja em saída

Uma das grandes expressões dessa Igreja, que “vai além de seus muros”, é, certamente, o imperativo da misericórdia que tomou forma no Ano Santo da Misericórdia. Francisco lembra que a credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso de Deus, destinado a todos. Com o ato simbólico da abertura e passagem pela Porta Santa, ele recordou, com voz forte, que a Igreja é chamada a “abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais (…), curar suas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas”7.

Francisco ensina que a misericórdia leva, antes de tudo, aos pobres, eles que são considerados os últimos na sociedade de consumo, tornam-se os primeiros alvos da Igreja em saída. Ele alerta que “enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema nenhum” 8.

A centralidade do Evangelho é a força motriz da Igreja vivamente missionária pedida por Francisco. Da mesma forma que o Evangelho é seu “programa de vida”, como ele mesmo apontou em seu primeiro discurso aos seus mais estreitos colaboradores: “Partindo justamente do afeto colegial autêntico que une o Colégio Cardinalício, exprimo a minha vontade de servir o Evangelho com renovado amor, ajudando a Igreja a tornar-se, cada vez mais, em Cristo e com Cristo, a videira fecunda do Senhor”9.

Referências:

1 – FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulus/Loyola, 2014.
2 – ___________, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium . São Paulo: Paulus/Loyola, 2014.
3 – http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130727_gmg-omelia-rio-clero.html
4 – ___________, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulus/Loyola, 2014.
5 – Conc. Ecum. Vat.II, Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
6 – FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG). São Paulo: Paulus/Loyola, 2014.
7 – (http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco_bolla_20150411_misericordiae-vultus.html)
8 – ____________, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulus/Loyola, 2014.
9 – http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/documents/papa-francesco_20130315_cardinali.html

Liliane Borges,
missionária da Comunidade Canção Nova