É muito comum ouvirmos ou até usarmos a expressão “bode expiatório” para caracterizar uma pessoa que recebe a culpa pelo cometimento de algum ato reprovável, sem que tenha sido ela a cometê-lo. O que nem todas as pessoas que usam essa expressão sabem é que sua origem é bíblica.
Nós sabemos que o livro de Levítico, no Antigo Testamento, é constituído quase completamente por um conteúdo normativo. Sendo assim, ele possui um caráter legislativo de modo a apresentar uma série de regulamentos relacionados ao culto dos hebreus. Além disso, ele elenca um conjunto de preceitos que o povo deveria obedecer. Por causa desse aspecto formalista do texto, sua leitura acaba sendo um pouco mais trabalhosa em comparação com outros livros da Bíblia. Contudo, não se discute a riqueza desse terceiro livro que compõe a Torá.
De onde foi tirada a expressão “bode expiatório”?
Feito esse adendo, existe uma passagem no livro de Levítico que explica muito bem o contexto do qual a expressão “bode expiatório” foi tirada. A partir do capítulo 16, o autor sagrado narra pormenorizadamente todas as nuances das práticas rituais que o sacerdote deveria fazer no “Dia do Grande Perdão”, ou seja, no dia das expiações. Trata-se da cerimônia hebraica do Yom Kippur.
Depois de falar acerca do ambiente em que essa cerimônia deveria ser realizada e das vestes litúrgicas que caberia ao presidente da celebração, o autor sagrado especifica que o sacerdote deveria receber, além de outros animais, dois bodes para realizar o rito (cf. Lv 16,5). Depois de apresentar esses dois bodes ao Senhor, na entrada da tenda do encontro, o sacerdote tiraria a sorte sobre os animais: uma sorte “para o Senhor” e outra para Azazel (tido como um demônio que frequentava o deserto).
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É nesse momento que a nossa expressão ganha sentido. O primeiro bode, aquele por sobre o qual havia caído a sorte para o Senhor, seria sacrificado. O segundo, por sobre o qual havia caído a sorte para o mal, deveria ser apresentado vivo diante do Senhor. O sacerdote, então, depois de impor as mãos sobre ele, deveria confessar todas as iniquidades do povo de Israel e todos os seus pecados. Feito isso, o sacerdote enviava o segundo animal para o deserto e o deixava à sorte de todos os perigos da natureza selvagem para lá morrer.
O bode levava para o deserto todo o mal cometido pelo povo de Israel, expiando, assim, todos os pecados cometidos pelo povo. Dessa forma, nasce a expressão “bode expiatório”. Cabe recordar que essa prática não existe no cristianismo, uma vez que Deus enviou seu próprio Filho como vítima de expiação pelos pecados do mundo inteiro, e Ele o fez de uma vez por todas.
Deus abençoe você, e até a próxima!