💒 Unidade

A relação da Igreja Católica com as outras confissões cristãs 

Educação e finanças contra a Igreja

Entre os séculos XIV e XV, o sistema de poder político, econômico e social que se identificava com a Igreja e com o papado mostrava sintomas de uma crise profunda. Isso se devia ao fato de que a Igreja tinha considerável influência social, principalmente no âmbito educacional, de instrução das classes dirigentes especialmente. Com o advento da modernidade, ao lado das escolas e universidades católicas, surgiram aquelas civis e, de certa forma, estava perdido para a Igreja o monopólio educacional2

Foto Ilustrativa: Rogéria Nair/ cancaonova.com

Essa situação de crise foi agravada com o nascimento dos Estados Nacionais e a contenção por parte de muitos soberanos europeus, de enviar dinheiro a Roma. Esses recursos eram usados seja para pagar as taxas ordinárias, seja para financiar obras da Igreja, como é o caso da construção da Basílica de São Pedro, iniciada pelo Papa Júlio II  (1503-1513) em 1506. 

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Martinho Lutero 

Exatamente nesse contexto da construção da Basílica Vaticana é que se encontra o início de uma grande reforma no interior do cristianismo protagonizada por Martinho  Lutero (1483-1546) e suas 95 teses afixadas na capela de Wittemberg, no dia 31 de  outubro de 15173

Sobre o caráter de Lutero, é importante ressaltar, com base em estudos recentes, que ele possuía uma personalidade nervosa e sensível. Intelectualmente muito capaz, como comprovam seus escritos, era tempestuoso, sendo para alguns equivocada a sua escolha pela vocação agostiniana4. A busca profunda de Lutero caracterizava-se por uma salvação  pessoal e, desse modo, negava a função intermediária da Igreja e do papado. 

Subsidiado por questões políticas controversas entre Roma e o mundo alemão, Lutero foi protagonista de um movimento de reforma protestante com teses que contrastavam com a doutrina católica. No fundo, Lutero respondeu, de alguma forma, às esperanças de várias classes sociais, desde os senhores feudais preocupados com o dinheiro e os tributos reais, passando pelos intelectuais que tinham uma visão diferente da Igreja, até os simples trabalhadores do campo (guerra dos camponeses, 1524-25).

Inicialmente, o objetivo de Lutero era uma reforma radical da Igreja não somente  no seu modo de operar, mas também na sua estrutura jurídica e doutrinal. Protegido por políticos e autoridades civis, Lutero, após a condenação das suas teses em 1520, com a bula Exsurge Domine, foi excomungado, em 1521, pela bula Docet Romanum Pontificem  após várias tentativas de diálogo e retratação5

A reforma católica 

Da parte da Igreja católica, houve também o interesse da reforma. Era um tema que já aparecia nos concílios ecumênicos e no famoso Libbelus ad Leonem X (1513) de dois monges camaldolences que mostravam a “necessidade do papa de renunciar à sua função política, para reformar o papado e colocar-se ao centro do governo e do serviço  apostólico”6. Esses dois monges foram muito corajosos e colocaram “o dedo na ferida” da Igreja de Roma. 

De outro lado, esse período histórico foi muito produtivo para a Igreja católica, porque marcou um forte movimento de reforma de ordens religiosas antigas, além do florescimento de novas congregações com o objetivo de aperfeiçoamento da fé católica, dentre as quais destacam-se os jesuítas, os teatinos e os barnabitas. Além dessas  iniciativas mais ligadas à renovação do clero, houve iniciativas para a restauração do povo através do serviço das confrarias, oratórios e outras formas de devoção

No entanto, a grande resposta da Igreja à reforma protestante aconteceu com o Concílio de Trento, um dos concílios mais importantes para a época moderna. Realizado durante os anos de 1545 a 1563, com uma pausa, foi o Concílio de Trento que reafirmou a doutrina católica, normatizou a confirmação dos sete sacramentos, a formação do clero nos seminários, a residência e as visitas pastorais dos bispos nas dioceses dentre outros7

A unidade dos cristãos 

Após todo esse processo, ao longo da história da Igreja, vários passos foram dados, e percebeu-se que a reforma era um evento inevitável. É de observar-se, portanto, que, apesar da condenação das teses de Lutero e da sua excomunhão, a própria Igreja, com o  passar dos anos, reconheceu a importância de alguns temas tratados por ele, como a centralidade da Palavra de Deus e a sua difusão, por exemplo. 

Na história mais recente, foi o Concílio Vaticano II quem retomou o tema da relação da Igreja católica com outras confissões religiosas cristãs. Declarando a Igreja católica como única fundada por Jesus Cristo, o Concílio fez um apelo à unidade (Unitatis  redintegratio, nn. 751-752). 

Além disso, o Concílio pediu uma atitude de cooperação com os “irmãos separados”, com o objetivo de “um esforço comum e em mútua estima deem testemunho da nossa esperança que não confunde”. Essa cooperação mútua entre os cristãos, tão almejada, é o sinal da promoção da paz, do incentivo do espírito cristão no meio social, político, científico e religioso (n.794)8.

Pe. Eduardo M. Guimarães1
1Diocese de Cornélio Procópio, Paraná. Doutorando em História da Igreja na Pontifícia  Universidade Gregoriana, Roma. 

2 G. RICUPERATI – F. IEVA, Manuale di storia moderna, Torino, Utet, 2018, 59.
3 H. JEDIN (org.), Storia della Chiesa. Riforma e Controriforma, v. VI, Milano, Jaca Book, 2007, 54-56.
4 L. MEZZADRI, Storia della Chiesa. Tra medioevo ed epoca moderna. Rinnovamenti, separazioni, missioni.  Il Concilio di Trento (1492-1563), Frascati, CLV Edizioni, 2014, 151.
5 G. RICUPERATI – F. IEVA, Manuale di storia moderna, 66-68.
6 L. MEZZADRI, Storia della Chiesa, 102-103.
7Ivi, 402s.
8 Decreto Unitate Reintegratio, in Compêndio do Vaticano II, 10ed., Petrópolis, Vozes, 1976.

Bibliografia
Compêndio do Vaticano II, 10ed., Petrópolis, Vozes, 1976.
MEZZADRI Luigi, Storia della Chiesa. Tra medioevo ed epoca moderna. Rinnovamenti, separazioni,  missioni. Il Concilio di Trento (1492-1563), Frascati, CLV Edizioni, 2014.
JEDIN Humbert (org.), Storia della Chiesa. Riforma e Controriforma, v. VI, Milano, Jaca Book, 2007. RICUPERATI Giuseppe – IEVA Frédéric, Manuale di storia moderna, Torino, Utet, 2018.