Essas virtudes humanas podem ser exercitadas – umas ou outras – em todas as ações, em todos os momentos da vida: nós a vivemos no trabalho e no descanso, no lar, no relacionamento com os outros, enfim, em todos os aspectos da “conduta” humana. Elas se distinguem das virtudes “teologais” – fé, esperança e caridade -, cujo “objetivo” é diretamente Deus.
O Catecismo da Igreja lembra que todas as virtudes humanas giram à volta das quatro virtudes cardeais – “virtudes-eixo”: prudência, justiça, fortaleza e temperança (n. 1805-1809).
Neste texto, vamos focalizar apenas alguns traços das virtudes cardeais que todos os pais têm a responsabilidade de praticar se querem dar o exemplo necessário para a formação dos filhos. Convençam-se de que, sem elas, o exemplo de fé e religiosidade que se esforcem por dar aos filhos ficará enfraquecido e até poderá ser contraproducente.
Alguns traços das virtudes cardeais
1) Prudência. Pense em como dá segurança e confiança aos filhos o fato de terem um pai e uma mãe sensatos e reflexivos. São pais que não se assustam facilmente nem perdem a serenidade, ainda que apareçam problemas sérios, mas os enfrentam com fé e procuram usar a cabeça, evitando o alarmismo e as reações precipitadas. Gestores que não vivem distraídos, esquecidos, improvisando, a toda a hora, no meio de uma grande confusão. Que não mudam de planos por imprevidência em prepará-los; que, por falta de ordem, não deixam as coisas para última hora ou para o fim do ano. Que não se descuidam de controlar as despesas, as contas e os prazos. Pais que não precisam, enfim, ouvir aquelas palavras do Paraíso de Dante: “Siate, cristiani, a muovervi più gravi: non siate come penna ad ogni vento…” (”Cristãos, caminhai com mais ponderação; não sejais qual pena movida por qualquer vento…”).
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2) Justiça. Da mesma forma, como faz bem aos filhos ter um pai e uma mãe justos, que cumprem o que prometem! Pais que não se desdizem de levar avante aquele passeio planejado, só porque, de repente, mudaram de ideia, deixando-se dominar pelo capricho ou pela preguiça; que não tratam os filhos como números, com indicações, conselhos e ordens genéricas – iguais para todos -, como se o lar fosse uma caixa de soldadinhos de chumbo feitos em série; mas que, como pede a justiça, saibam tratar desigualmente os filhos desiguais, conforme as necessidades materiais, psicológicas e espirituais de cada um (logicamente, não por mimo ou preferências injustas). Que, se fazem uma repreensão justa e prometem um pequeno ou médio castigo (castigo grande quase nunca se justifica), não amolecem, mas cumprem, sem deixar de cercar o filho punido da certeza de que é muito amado e só querem o seu bem.
Também faz muito bem aos filhos outras “justiças” da vida cotidiana. Por exemplo, perceberem que os pais não se aproveitam nunca de um troco errado (devolvem ao caixa a diferença) nem dão jeitos para burlar a fiscalização na entrada do cinema, do estádio, do museu, deixando de pagar o ingresso que qualquer pessoa honesta paga; não admitem nunca a mentira como meio para resolver os problemas etc.
3) Fortaleza. Pense que um clima familiar, no qual não se ouvem queixas nem reclamações ou gemidos é um exemplo maravilhoso de fortaleza para os filhos. Um lar, no qual ninguém se julga mártir ou vítima e, por isso, não tem o hábito de reclamar. Um lar em que o pai, exausto, é capaz de ficar brincando com os filhos, interessando-se pelos seus pequenos “dramas” ou pelos seus sonhos e alegrias infantis – ou adolescentes -; tudo isso com uma naturalidade que não deixa transparecer o cansaço nem os problemas do serviço. Um ambiente, no qual a mãe disfarça, com um sorriso, após um dia bem duro, que se sente exausta e não acha que o desgaste a autorize a gritar com os filhos nem a descarregar neles a “eletricidade nervosa”. Esses são pais que sempre projetam nos filhos a luz e o calor da generosidade, da paciência e da constância.
4) Temperança. Que grande exemplo dão aos filhos os pais que nunca são vistos, nem dentro nem fora de casa, nem nos dias de trabalho nem na sexta-feira à noite, nem aos domingos e feriados, abusando da comida e da bebida! Que não se iludem, achando que vão enganar os filhos dizendo-lhes que se trata só de um “aperitivo” ou uma “cervejinha” de que precisam muito, porque andam fatigados e isso faz bem para a saúde (quando os filhos os veem claramente vermelhos de rosto, com a voz gosmenta e as pernas bambas). Pelo contrário, como toca o coração ver uma mãe que, habitualmente, “gosta” do bife que tem mais nervos e gorduras ou ver o pai que “gosta” do teatro que a mãe adora, mesmo em dias em que seu time joga.
O que dizer da temperança na TV e na Internet? Alguns pais acham que os filhos são tolos. Em matéria de informática, quase sempre dão um solene “chapéu” nos pais e descobrem, muito facilmente (pois ainda não aprenderam a viver a virtude da discrição e a controlar a curiosidade), a quantidade de sites inconvenientes que o pai visitou, como se fosse um adolescente descontrolado.
E quanto à humildade, que Santo Tomás de Aquino situa dentro da temperança? Como se nota a falta de humildade e como ela faz mal! Por isso, é tão formativo os filhos perceberem nos pais que estes não se deixam arrastar por mesquinharias de suscetibilidade, por mágoas persistentes, por querer ter sempre a “última palavra”. Que não os vejam nunca virando o rosto para ninguém nem dominados por espírito de superioridade ou falando com desprezo e crítica azeda sobre o cunhado que fez isso ou da tia que fez aquilo.
Virtudes humanas. São muitas as que os pais deveriam cultivar, como uma lâmpada que brilha em lugar escuro…! ( I Pedr 1, 19).
Cultivar virtudes e ensiná-las aos filhos – com a força moral que dá o bom exemplo – é um empreendimento árduo, mas é decisivo, e, por isso, deve ser enfrentado e levado a termo pelos pais dia após dia, com a graça de Deus, com muito amor e com esforço constante.
Oxalá os filhos, quando crescerem e forem avançando em anos, possam dizer que nunca se apagou neles a imagem da mãe, a imagem do pai, e que até na idade madura e na velhice o pai e a mãe continuam a iluminar-lhes a vida.