Não nasci do útero de minha mãe, mas nasci do coração dela!
A prática da adoção ainda é um desafio a ser vencido no Brasil, no entanto, muitas famílias têm superado as barreiras do preconceito e da dúvida e colhido os frutos da bela decisão. Como é o caso da fisioterapeuta Maria Isabel Ferminio, que contou ao formacao.cancaonova.com como foi sua história de adoção.
Redação: Com quantos anos você foi adotada? E como aconteceu todo o processo?
Fui adotada com quatro meses de gestação. Minha mãe biológica não tinha condições de me criar e o meu pai biológico não queria assumir um relacionamento com ela, nem me assumir por julgar que ele não era realmente o meu pai. Minha avó biológica, após a tentativa de aborto frustrada da minha mãe, quis, de imediato, procurar um família que pudesse me adotar. Então, ela partilhou a história com a minha mãe adotiva, que trabalhava na mesma escola que ela. Em conversa com meu pai e com meus irmãos adotivos, eles me disseram que, desde então, me adotaram no coração. No dia seguinte ao meu nascimento, fui diretamente para a casa da minha família adotiva.
Redação: Você foi adotada ainda no período de gestação. Como sua família se preparou para receber você?
Quando foi acertada a minha adoção, não sabiam o meu sexo ainda, e a expectativa era se seria menino ou menina. Assim que souberam que eu era uma menina, pouco a pouco meus pais foram comprando o enxoval. Minha mãe disse que compraram apenas o básico, pois eles ganharam muitas roupinhas e coisinhas de bebê. E sempre combinaram em me dizer a verdade sobre a minha origem.
Redação: Como seus irmãos a acolheram?
Muito bem! Meus irmãos sempre foram maravilhosos. Minha irmã, por ser vinte anos mais velha que eu, se organizava no trabalho para sair mais cedo, e meu pai poder trabalhar no período da tarde. Meu irmão, 10 anos mais velho, hoje falecido, também cuidava de mim. Recordo-me, até hoje, que, muitas vezes, ele deixou de sair para brincar com os amigos, para poder cuidar de mim. Nunca houve nenhum tipo de diferença entre nós, penso até que fui paparicada demais.
Redação: Como foi o relacionamento com sua mãe?
Sempre me relacionei muito bem com ela. Eu a admiro muito pela coragem de ter me adotado e a forma como ela e meu pai me criaram. O cuidado que sempre teve comigo é digno de toda admiração que tenho por ela! Não nasci do útero dela, mas nasci do coração!
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Redação: Em que sua mãe contribuiu na sua formação, para você se tornar uma mulher e uma profissional tão cheia de valores?
Em tudo. Percebo o quanto a minha mãe me ensinou a fazer as escolhas certas, a liberdade na dose exata para cada momento, os incentivos nos momentos em que tive vontade de desistir, as broncas quando estas foram necessárias. Foi o amor dela que me impulsionou a dar passos e a ter a ousadia que, muitas vezes, julguei não ter. Aos poucos foi me moldando em tudo que sou hoje, e sou grata a ela por tudo isso, não sei como medir isso em palavras.
Redação: Como foi descobrir que seus pais a adotaram? Como você reagiu?
Eu percebia que eu era muito diferente das pessoas em casa. Sou negra e todos eles são brancos; meu irmão é um pouco mais moreno, mas bem parecido com minha mãe. Então, certo dia, perguntei se, quando ela estava grávida de mim, havia tomado muita Coca-cola e café, porque eu era mais escura que todos eles, ou se era porque eu havia sido adotada. E ela disse que havia me adotado. No início, eu fiquei sem entender, e perguntei por que meus pais biológicos não haviam ficado comigo, e minha mãe me explicou que eles não tinham dinheiro para me criar. E conforme eu fui crescendo, ela foi me contando o restante da história e nunca me escondeu nada.
Redação: Você conheceu a sua mãe biológica? Como foi o contato com ela?
Não sabia como iniciar a conversa com ela ao conhecê-la, pedia que ela contasse a minha história e, depois, lhe fiz algumas perguntas. Ela chorou muito durante a partilha e me pediu perdão. Eu a agradeci por ter me dado a meus pais em vez de tentar novamente me abortar.
Redação: Qual foi sua expectativa ao conhecê-la?
Eu queria saber se eu era parecida fisicamente com ela, mas não vi tanta semelhança. De certa forma, gostei. Fiquei muito feliz em saber que, ao longo de minha vida, meus pais adotivos nunca omitiram nada da minha vida. A mesma história que eles me relataram foi a mesma que minha mãe biológica me contou.
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A generosidade materna é capaz de gestar, no coração, a vida de alguém que Deus lhe confiou por amor. Deus proverá todas as coisas.