O desafio de reconstruir os vínculos familiares à luz da fé
Nas relações pessoais, “laços” são desfeitos, inclusive nas famílias. Recordemos a passagem do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32), o qual relata o drama do pai que vê seu filho se afastar de casa. Muitos se afastam com o coração permeado de mágoas e ressentimentos; por diversos motivos, as relações são rompidas ou podem estar abaladas. Há circunstâncias em que pessoas coabitam na mesma casa, mas, em seu coração, encontram-se distantes, isoladas.

Foto: Arquivo CN
Neste cenário, há familiares que desejam reatar laços afetivos, mas suas tentativas podem ser frustradas por diversos fatores: na tentativa de se reaproximarem, não são correspondidos, talvez pela ausência de uma estratégia eficaz no trato com o outro. Reatar laços com quem se afastou demanda esforço, determinação, coragem e paciência. Compreender a desígnio da família enquanto instituição desejada por Deus, como também o papel que cada membro deve exercer, pode contribuir para reatar os laços com quem se afastou.
A família como comunidade de amor e comunhão
Na exortação Apostólica Familiaris Consortio, o Papa João Paulo II (1981) afirma que “a família fundada e vivificada pelo amor, é uma comunidade de pessoas: dos esposos, homem e mulher, dos pais e dos filhos, dos parentes. A sua primeira tarefa é a de viver fielmente a realidade da comunhão num constante empenho por fazer crescer uma autêntica comunidade de pessoas”. Deus convida à vivência da comunhão de pessoas na realidade do lar; e para viver essa dimensão de forma eficaz, faz-se necessário que os membros da família estejam imbuídos do seu papel, direitos e deveres.
Segundo o Papa, o princípio interior, a força permanente, a meta última e o dever de cada membro da família é o amor. Sem ele, a família não é uma comunidade de pessoas; sem o amor, a família não pode viver, crescer nem aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas. Portanto, todos os membros da família são convidados a empenhar-se na vivência do amor que une, que estreita os laços afetivos, que supera as barreiras da divisão, dos ressentimentos. Mas, nessa empreitada árdua, será necessário nutrir a consciência de que é necessário buscar a força do alto.
O papel da graça e do perdão na reconciliação
Papa João Paulo II (1981) ensina que Deus intervém com Sua graça para que o amor entre o homem e a mulher, no matrimônio e, de forma derivada e ampla, entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – seja animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que conduz a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar.
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Espiritualidade e oração no processo de reatar laços
A oração familiar é fundamental para que os membros nutram a consciência dos deveres recíprocos de uns para com os outros (cf. Ef 5,32-6,4). Segundo o papa, “a comunhão familiar só pode ser conservada e aperfeiçoada com grande espírito de sacrifício”. Todos e cada um são chamados “à generosa disponibilidade à compreensão, à tolerância, ao perdão, à reconciliação. Nenhuma família ignora como o egoísmo, o desacordo, as tensões, os conflitos agridem, de forma violenta, e às vezes mortal, a comunhão: as múltiplas e variadas formas de divisão da vida familiar”.
A família é sempre chamada a fazer a experiência da reconciliação para que, com responsabilidade, supere todas as divisões, a fim de caminhar para “a plena verdade querida por Deus. Dessa forma, poderão corresponder ao vivíssimo desejo do Senhor: que ‘todos sejam um’” (cf. Jo 17,21).
Que as famílias caminhem com coragem, empenhando-se para que seus laços sejam nutridos pelo amor de Deus e pelo compromisso de amarem-se uns aos outros.
Cássia Leal
Missionária da Comunidade Canção Nova
Referências Bibliográficas:
JOÃO PAULO II, Papa. Exortação Apostólica Familiaris Consortio: sobre a função da família cristã no
mundo de hoje. [S.l.]: Edições Paulinas, 1981.





