O adolescente não vai para cama dormir e acorda consumista
A adolescência não acontece da noite para o dia, mas faz parte naturalmente do desenvolvimento humano. O adolescente começa a se tornar sujeito de acordo com as crenças e os valores experimentados ao longo da sua infância. Nessa fase, nem tudo é feio ou tão bonito, mas não há feio e bonito em todas as fases?! Não seria diferente com a adolescência. Cada época da vida tem suas características; porém, todas precisam de bons exemplos no ambiente familiar, escolar e qualquer outro ambiente em que as crianças e os adolescentes frequentem.
O adolescente não vai para cama dormir e acorda consumista. Ele, de acordo com os estímulos recebidos pelo ambiente, vai se tornando consumista ou não.
Não podemos compreender esse comportamento como regra geral para todos. Contudo, compreende-se que a sociedade ocidental moderna, capitalista, está cada vez mais provocando os adolescentes a pensarem em necessidades, muitas vezes, desnecessárias e irreais para a vida que eles podem ter. A consequência disso é frustração e revolta, chegando a casos extremos de uso de drogas, roubos, mau humor, revolta e rebeldia. Esses produtos, necessariamente, são produzidos para serem consumidos, estimulando sua maior produção. É papel da família oportunizar a realização dos desejos ou o saciamento das necessidades dos adolescentes da melhor forma possível. A via de regra sempre será o meio termo, ou seja, nem oito nem oitenta.
É muito difícil para um adolescente compreender um pai consumido em bebidas ou viagens apenas com os amigos. Como não formar um adolescente consumista? E quando o filho observa na mãe esse tipo de comportamento? Também dificilmente os filhos têm lazer, pois os pais sempre saem sozinhos.
Seria muito superficial analisar este problema sem devolver o olhar para o contexto familiar no qual o adolescente está inserido. A educação financeira precisa adentrar nas casas desde o enxoval dos filhos, a reforma da casa até outras situações que afetam diretamente ou indiretamente o contexto familiar. Contudo, faz-se necessário considerar que mesmo as famílias que conseguem assumir o controle do ter e não ter, do pode e não pode, do “agora não”, “espere mais um pouco”, ou, “já pode”, “vamos juntos comprar”, precisam ensinar seus filhos adolescentes a não serem consumistas, a experimentarem o ‘sim’ no momento certo. Não será o excesso de ‘nãos’ que o livrará do consumismo, mas o equilíbrio das regras e os combinados de uma casa, o amor, o respeito e o diálogo entre ele e seus pais. Assim, será educado para produzir autoestima, confiando sempre sem si mesmo e resistindo aos apelos da mídia.
Rubem Alves, em sua grandeza, escreve: “Havendo o cordão umbilical que os ligava aos pais, eles o substituíram por outro cordão umbilical, o fio do telefone pelo qual eles se mantêm permanentemente ligados uns aos outros”. O celular é um apelo gritante e se torna para o adolescente uma necessidade urgente para se manter ligado. Tecnologia e seus avanços, vitrine maior para o consumismo, principalmente pelos adolescentes. Não podemos negar que os adultos também já estão com características evidentes da Geração Y. Em um restaurante, por exemplo, raramente vemos as famílias conversando; estão todos no celular.
Como não aumentar a necessidade de consumismo?
Consumismo em baterias, pilhas, filmes fotográficos, salgadinhos, cosméticos de produtos desnecessários, culto ao corpo, dinheiro, imagem, roupas, perfumes, adornos, grifes, amor, sexo, bens de consumo e substância lícitos e ilícitos. Um mundo onde o “ter” é mais importante do que “ser”. E o pior: todos querem “ter” de qualquer jeito. Paralelo a isso, não se percebe um empenho dos jovens em estudar, em serem os melhores estudantes; professores comprometidos em fazê-los melhor. Esta é a grande contradição: adolescente deveria ser criado para identificar suas emoções e suas necessidades, estimulado a alcançar os seus desejos por meio do diálogo com os pais, da sua ajuda dentro de casa, das boas notas escolares, da economia da sua mesada, considerando apenas as datas comemorativas como, por exemplo, aniversário, Natal… Se todos os aspectos acima forem respeitados e muito bem construídos ao longo da sua vida, a necessidade se tornará igual com a galera da escola ou do condomínio ou até mesmo de ser apresentado para a sociedade com roupas de marcas, não serão tão visíveis, tão reais.
“Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome… Estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca nessa vida, em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje.
… Por me ostentar assim, tão orgulhoso, de ser não eu, mas artigo industrial… Eu sou a coisa, ciosamente”. (trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade)