Sabemos que, na vivência da vida conjugal, nenhum dos cônjuges está completamente cego para as imperfeições do outro. Por maior que seja o tempo de vida em comum, os defeitos da pessoa com quem convivemos, assim como os nossos, sempre devem ser minimizados ou erradicados, a fim de favorecer um ambiente harmonioso em família. A graça de um relacionamento está na atitude do cônjuge de oferecer para o outro aquilo que ele tem de melhor.
A atração recíproca que nos faz permanecer no compromisso não está na dependência física de um para com o outro, nem no medo da solidão, tampouco nas cláusulas que regem as condições de um acordo nupcial. Ainda assim, a sensação de descontentamento dentro de um estado de vida pode acontecer e se tornar cada vez mais crônica quando as crises não são observadas com a atenção necessária ou quando a denúncia de algo que não esteja a contento por parte de um dos cônjuges é omitida. Em meio aos altos e baixos da vida a dois, o casal deixa, ao agir dessa forma, de trabalhar naquilo que tem se despontado como um problema.
Com o desprezo desses cuidados, facilmente os danos de um relacionamento conturbado começam a aparecer em constantes brigas, falta de atenção, descaso e negligência nas coisas que para o outro são importantes; e como consequência disso, o individualismo começa a esvaziar a comunhão da vida do casal e da família.
De modo silencioso, o distanciamento, somado às divergências de opinião, vai induzir a pessoa a acreditar que fez uma opção errada para sua vida e que as respostas para resolver as insatisfações na vida conjugal estão na tentativa de viver uma nova experiência sentimental, deixando para trás os anos de convivência familiar, e embarcando, assim, numa paixão fugaz de um caso amoroso.
Todavia, um relacionamento extraconjugal não envolve planos a longo prazo e podemos também notar que, nesse tipo de união, quase sempre as pessoas estão convictas da superficialidade da relação. Consequentemente o “affaire” se dissipará na mesma intensidade com que teve início. Por menor que seja a duração de um relacionamento superficial, em muitos casos, as dores provocadas pela traição podem ser mais profundas do que se possa imaginar.
Para a pessoa que foi abandonada, os sentimentos estarão sempre feridos; e como família, seus membros se comportam como células de um organismo vivo, desse modo, as sequelas da infidelidade não excluirão de seu alcance também os filhos.
A restauração de um relacionamento conjugal não se faz apenas com a volta física da pessoa ao lar ou com o sustento de suas necessidades. Antes, será necessário conhecer e eliminar os motivos que favoreceram as vias da traição.
Vale a pena considerar que a atitude de sair de casa para viver um relacionamento extraconjugal só necessita do consentimento de quem se abre para esse fim. Então, restabelecer os laços rompidos pela infidelidade deste será uma tarefa de difícil adaptação, exigindo muito mais daquele que foi traído. Recompor a família das dores geradas pela traição e viver o resgate do relacionamento vai impor ao casal dedicação, perdão e tempo.
Mais que gostar da companhia do cônjuge ao nosso lado ou sentir falta das crianças, por exemplo, a beleza singular dos relacionamentos está na disposição de compartilhar vidas ao percebermos na outra pessoa a reciprocidade de todas as nossas manifestações de carinho e disposição para o compromisso em comum.
Um abraço,