Confie no Senhor

Sou livre sem Deus?

Sem Deus não há autêntica liberdade e felicidade

A maior aspiração do ser humano é a felicidade, e isso é consequência natural de termos sido criados à “imagem e semelhança  de Deus” (cf. Gen 1,26) para participar de Sua vida bem-aventurada. O Catecismo da Igreja Católica, no primeiro parágrafo, afirma: “Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar da sua vida bem-aventurada” (n.1).

Já que o homem foi feito “por Deus” e “para Deus”, ele só conseguirá ser feliz “no Senhor”. Todos os outros caminhos de felicidade serão frustrantes e a fome de ser feliz não será saciada plenamente. Santo Agostinho (354-430), um dos maiores pensadores de todos os tempos, depois de buscar a felicidade nos prazeres do mundo, como na retórica, na oratória, no maniqueísmo e em tantas outras estrepolias, somente saciou o seu coração quando encontrou o Evangelho. Logo no início das suas “Confissões”, diz: “Nos fizestes para Vós e o nosso coração não descansará enquanto não repousar em Vós”.

E adiante lamenta ter demorado tanto para ter descoberto a verdadeira fonte da felicidade: “Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida amei, por que desejei outra coisa senão Vós?”.

Sem Deus não há autêntica liberdade e  felicidade. O Criador não quis para nós uma felicidade pequena, esta que se encontra entre as coisas do mundo: o prazer dos sentidos, o delírio das riquezas ou o fascínio do poder e do prestígio. Não! Isso é muito pouco para nós. Deus quis que a nossa felicidade fosse muito maior; quis que fosse Ele próprio. E isso é um grande ato de amor do Pai para conosco. O Senhor sempre quer “o melhor”  para o filho. Daí, conclui-se que a fome de felicidade do homem é infinita e não pode ser saciada sem Deus Pai, que é infinito. É fome de Deus.

Sem acolher o Senhor de coração aberto, que se revela pela criação, pela Bíblia, e por Jesus Cristo, que é a perfeita revelação do Pai (cf. Hb 1,2), o homem jamais experimentará a autêntica felicidade. E isso não é uma mera conclusão religiosa, mas um fato de vida. Experimente, hoje, dar a um jovem tudo o que ele quiser: dinheiro à vontade, prazer até não poder mais, “curtição” de toda natureza, e você verá que a sua “fome” de felicidade continuará insaciada. Não fosse isso verdade, não teríamos muitos jovens de famílias ricas, mas delinquentes, envolvidos com as drogas, crimes, entre outros.

As estatísticas mostram que a maior quantidade de suicídios acontece com pessoas da classe alta. Por outro lado, vá a um mosteiro e pergunte a um monge, que abdicou de todos os prazeres do corpo e do espírito para abraçar somente a Deus, se lhe falta algo para ele ser feliz. A resposta será “não”! Nada lhe falta, pois ele tem Tudo. Tem Deus.

A Igreja, de maneira insistente, nos ensina que “o aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus, pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador” (Gaudium et Spes, 19).

Muitos pensam que abraçar o Senhor e viver uma vida em obediência às Suas leis de amor significa “perder” a liberdade. Ao contrário, Deus é a verdadeira liberdade e verdade. É preciso distinguir entre liberdade e libertinagem, entre ser livre e ser libertino. Liberdade sem compromisso com a verdade e com a responsabilidade se torna libertinagem; e esta jamais poderá gerar a felicidade, já que vai desembocar no pecado. E “o salário do pecado é a morte” (cf. Rom 6,23).

Ser livre não é “fazer tudo o que eu quero”. Muitas vezes, isso é loucura. A verdade é o trilho da verdadeira liberdade. Será liberdade assegurar que dois mais dois são cinco? Será liberdade desrespeitar o catálogo do seu aparelho de TV e, em vez de ligá-lo em uma tomada de 110 volts, como manda, você  teimar em ligá-lo em outra de 220 volts? Será liberdade, por exemplo, usar drogas para sentir-se livre, mesmo destruindo a vida? Será liberdade usar o sexo sem o compromisso do casamento, apenas por prazer, mesmo sabendo que ele poderá gerar uma gravidez despreparada, um aborto, um adultério? Não. Tudo isso não é liberdade; é loucura!

A liberdade que gera a felicidade é alicerçada na verdade e na responsabilidade. Fora disso é loucura, libertinagem, irresponsabilidade; é pecado que vai gerar dor, sofrimento e lágrimas. Não queira experimentá-la. É muito melhor aprender com o erro dos outros. Abra os olhos e tenha coragem de vê-los!

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).

Por mais duras que sejam as exigências do “Sermão da Montanha” (humildade total, mansidão, misericórdia, pureza de coração, castidade, jejum, esmola, oração, etc.), nele temos o código da liberdade e da felicidade autênticas. O Catecismo da Igreja Católica, no número 1.718, nos garante que “as bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade”.