misericórdia

Pecado é ser infiel a um trato de amor

Deus nos criou por amor e nos busca como ovelhas perdidas

A Palavra de Deus é luz para o nosso caminho quando apresenta figuras ricas de detalhes, cujas personalidades nos dão a possibilidade de penetrar no mais profundo de nós mesmos, reconhecendo os horizontes que se abrem mesmo a partir dos eventuais limites que nos caracterizam.

Uma delas é o rei Davi. Num misto de jovem chamado na mais tenra idade a servir ao Senhor, ele foi guerreiro intrépido, amigo sincero, cantor das obras de Deus, dançarino ridicularizado por uma esposa, adúltero, penitente, governante capaz de unir tribos dispersas, até chegar ao idoso previdente. Nuances profundamente humanas em que o pano de fundo era o amor eterno de Deus que dele cuidava. Ele era muito parecido com os homens e mulheres de nossa magnífica e, ao mesmo tempo, complexa geração.

Pecado é ser infiel a um trato de amor

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Nossos primeiros pais se viram nus nas primeiras páginas do livro do Gênesis (Gn 3,10) e esconderam-se do Senhor, quem sabe prefigurando todas as pessoas que dele fogem com medo da luz. O Davi adúltero, instado pela palavra profética de Natan (II Sm 12,7-13), reconheceu seu crime: “Pequei contra o Senhor”. Ele deixou em herança o segredo da conversão, quando qualquer homem ou mulher podem ver queimadas suas misérias no fogo ardente de amor do coração de Deus.

Conversão

Como Deus condena o pecado, mas quer salvar o pecador, a luz sempre entra pela porta do arrependimento sincero. Contudo, se fecham quando o orgulho bloqueia a gratuidade do amor de Deus. É que pecado não significa burlar uma lei externa, como se Deus fosse um guarda de trânsito a vigiar nossos passos. Também não entendeu o que é pecado quem apenas considera errado o que “dói” dentro de si.

Há muita consciência relaxada praticando horrores por não sentir nada! Pecado é ser infiel a um trato de amor, aliança estabelecida entre Deus que nos criou por amor e que nos busca como ovelhas perdidas, quase mendigando nossa resposta de amor, incrível gratuidade que Ele diz ao Davi arrependido: “Tu não morrerás!”.

Os encontros das pessoas com Jesus foram reveladores dos meandros mais profundos da alma humana. Um dia (Lc 7,36-8,3) vem uma pecadora, irrompe em casa de certo Simão, cujos gestos de delicadeza e hospitalidade foram parcos, por não ter oferecido, ao hóspede divino, a água, o perfume e o beijo. A mulher, quem sabe uma prostituta, prostra-se aos pés do Senhor – gesto da pessoa que descobriu seu caminho de libertação -, lava os pés de Jesus com as próprias lágrimas. Humilhando-se, solta os cabelos com os quais enxuga os pés de Jesus, derrama sobre eles um perfume raro e caro, sinal de alegria, abundância, amor e consagração, e os beija na festa da acolhida encontrada. Nenhuma justificação e tanta gratidão! Ela pronuncia o ‘amém’ da fé no perdão de Jesus e em seu amor que se deixa amar. Personalidade misteriosa e rica!

A estrada da conversão foi percorrida por outras personalidades igualmente provocantes. Paulo, fulgurado pelo amor de Cristo (Gl 2,16-21), descobriu o amor do Senhor e, perseguidor implacável que era anteriormente, veio a se tornar imagem viva e transparente de seu Senhor: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim”. Depois dele, muitos perseguidores já se transformaram em discípulos ardorosos!

Que ninguém passe em vão ao nosso lado

A história de Davi ou da pecadora do Evangelho; de Paulo ou de todos os homens e mulheres que se empreenderam à santa viagem da conversão é muito parecida. A Palavra de Deus ressoa como farol luminoso, convidando-nos a percorrê-la!

Deus não nos olha de fora, mas conhece as profundezas do nosso ser. Lá dentro, identifica a mais tênue réstia de luz, prodigalizando misericórdia a mancheia. E para todos os que acolhem Sua bondade infinita, Ele os transforma em apóstolos do perdão, para visitarem em Seu nome corações e casas.

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Não há desculpas! De Davi a Paulo, passando por todos os pecadores e pecadoras, cada um de nós encontra seu lugar.

É relativamente fácil denunciar os erros das pessoas, sem apontar saídas possíveis! Difícil é olhar lá dentro do mistério de cada ser humano, descobrindo que nenhuma pessoa foi feita “no rascunho”, e sim destinada à felicidade e à salvação. O olhar da misericórdia descobre caminhos e soluções. Que ninguém passe em vão ao nosso lado!

Equipe de Colunistas do Formação