A espiritualidade de uma pessoa é o complexo das atitudes e dos hábitos que consentem em interpretar a estrutura simbólica das coisas e colocar-se com elas em sintonia, ser capaz de evitar a fuga da realidade e a idolatria das coisas ou das pessoas. A vida espiritual se caracteriza segundo as modalidades da fé, ou seja, o complexo dos ideais que guiam as decisões operativas de uma pessoa, ou seja, tudo que concatena sua existência humana.
A vida espiritual é constituída, portanto, dos processos de interiorização dos dons que a pessoa recebe no seu caminho de crescimento, no interior de um tratado cultural e religioso, para o qual toma consciência de ser inserida em um processo muito maior que ela. A interioridade é, por isso, a característica da vida espiritual e da existência humana. Não somente se desenvolve no coração do homem, como na vida psíquica, mas é mais sublinhada pela consciência, de uma força que flui de dentro e se desenrola por meio das muitas dimensões da pessoa.
Poderia-se dizer, em termos mais cristãos, que é a vida conduzida pelo Espírito. A interioridade de uma pessoa é a medida da capacidade de acolhimento dos dons vitais oferecidos pelos outros, e é, portanto, o espaço da vida espiritual. A maturidade espiritual qualifica-se pela capacidade de assumir os ideais e vivê-los de modo autônomo e interior.
Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com
Uma vida espiritual se caracteriza por uma vivência de fé
Para a vida espiritual, o complexo dos mecanismos interiores, que estruturam a existência da pessoa humana, consciente da sua condição de criatura, inserida em um processo cósmico e vital como expressão de uma realidade imensa, corresponde a uma atitude de acolhimento das ofertas múltiplas que a investem. A espiritualidade adquire características específicas quando nasce da experiência de fé em Deus e segundo as modalidades particulares das diversas religiões. Mas existem também espiritualidades leigas e até mesmo ateias, que se diferenciam não tanto pelas qualidades que exprimem, quanto pelas razões que as fundam e as dinâmicas que as alimentam.
Enquanto, na vida biológica, a pessoa se sente determinada pelas coisas e pelos outros, e no âmbito psíquico se percebe como sujeito ativo, no espaço espiritual esta adverte uma outra presença de si, que funda a sua realidade e faz possível a sua consciência e a sua ação. A pessoa percebe não ser ela mesma a conhecer, amar e agir, mas uma força vital a invade e nela se exprime. Em outras palavras, as dinâmicas da vida espiritual respondem à consciência de não ser o centro da realidade, mas de ser em relação com um outro.
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Os estímulos de vida e os dons de identidade recebemos por meio de outras criaturas, mas, para o homem espiritual, essas não são as fontes, mas sim o espaço pelo qual a vida se oferece. Por isso, os gestos das criaturas aparecem como símbolos: exprimem uma ação e chamam a uma realidade diferente delas.