O óbvio é aquilo que, estando diante de nossos olhos, nem sempre percebemos. Foi essa a lição que aprendi de uma conversa com um artista e revisor gráfico ao dizer-me que os erros mais gritantes de um livro estão bem perto de nossos olhos, na própria capa, como, por exemplo, a grafia errada do nome do autor. Ele contou-me que, de certa feita, na revisão de um romance histórico, passado no século XIV, na península ibérica, o protagonista do romance foi obrigado a correr por um milharal. (!)
É óbvio que falar de vocação sacerdotal é falar de um chamado e, portanto, de um diálogo pessoal entre Alguém que chama e alguém que é chamado. Também é óbvio que há de ser compreendido em seus termos e assumido em seus compromissos.
Fico, às vezes, intrigado quando ouço formadores, padres, psicólogos, pedagogos, ao falarem sobre o sacerdócio ministerial, entenderem-no somente como projeto pessoal do chamado, do candidato ao ministério e não, a adesão incondicional Àquele que chama.
Ocorre-me um exemplo. O projeto pessoal de São Pedro era pescar peixes, muitos peixes, fazer crescer sua pequena empresa, conquistar bons clientes, constituir uma numerosa família ao lado de sua bela esposa – toda mulher é bela aos olhos daquele que a ama, (Por isso sei que, aos olhos de Deus, sou belo. Que verdade consoladora, não!) – e morrer cercado de muitos amigos, após muitos anos cheios de felicidade.
O projeto do chefe dos apóstolos continua centrado em si, até mesmo após o chamado de Jesus. É verdade, mudou um pouco de rota, mas não saiu de seu eixo: a sua realização pessoal, humana. Ele passou a desejar a glória de ter o primeiro lugar num Reino a ser conquistado pela força, pela espada. Seria ele ministro do Reino implantado por Jesus. Às vezes o Espírito Santo, o Grande Pedagogo, iluminava a sua inteligência de forma que ele chegou a proclamar que Jesus é o Cristo, Filho de Deus Vivo, e não saberia aonde ir, pois só Tu, Senhor, tens palavras de Vida Eterna.
O 4º Evangelho insiste muito na incompreensão dos discípulos em relação ao ser de Jesus e à sua missão. A Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, o Dom do Espírito Santo, mudaram tudo. Pedro abandonou os projetos centrados em si mesmo para abraçar comprometidamente o plano de Deus. Daí, a missão a ele confiada: Ide pelo mundo inteiro…
Após o exemplo, volto ao tema com uma pergunta: Como vocacionado, sou chamado a formular o meu projeto de vida, ou a adequar toda a minha vida ao projeto que Cristo me apresenta através da Igreja?
Que o fogo do Espírito Santo, na força do imenso amor a Cristo, à Igreja, ao Povo de Deus, queime todos os nossos projetinhos – casa boa, sucesso público, liderança reconhecida, dinheiro, carro, computador… – para abraçar plenamente o projeto de Cristo e permanecer fielmente no serviço da reconciliação e da paz.
AGOSTO, MÊS VOCACIONAL. Rezemos pelos Sacerdotes!,