Imagine que era uma manhã de domingo, Jesus entraria em Jerusalém e escolheu um jeito inusitado para fazer o percurso. Segundo a narrativa evangélica, o Senhor enviou dois dos Seus discípulos a uma determinada aldeia para buscar um jumentinho, pois este seria o meio de transporte utilizado por Ele durante a entrada trinfante na Cidade Santa. Até aí nada de novo, já é bastante conhecido este texto de Mateus 21, 1-10. Porém, se nos aprofundarmos na narrativa, descobriremos, por exemplo, que o dono do jumento, ao questioná-los, com toda a razão, por que estes estavam levando seu animal, sendo que a resposta foi apenas: “O Mestre precisa dele”, e o proprietário do animal simplesmente aceitou. Você teria a mesma atitude?
Estive pensando nas vezes em que Jesus enviou Seus discípulos até mim para pedir algo em Seu nome e eu, sem perceber, acabei por dizer “não”.
Já ouvi muitos pregadores falarem a respeito desse trecho do Evangelho e gosto de meditar nas riquezas que ele revela. Fico pensando, por exemplo, quais eram os “sentimentos”, se é que posso dizer assim, daquele privilegiado animal! Acredito que se ele “chegou a pensar” que os mantos estendidos no chão e os ramos de oliveira, agitados entre cantos de alegria e gritos de “Bendito o Rei…”, eram para ele, tenha ficado frustrado e muito decepcionado ao perceber que as homenagens eram todas para o Mestre, que ele simplesmente transportava. Poderá, até mesmo, ter passado o resto da vida reclamando seus direitos, parado na decepção porque ninguém sequer o notou.
Já por outro lado, se o animal “entendeu” sua missão de escolhido para transportar o Rei dos Reis, teve motivos para ser o jumento mais feliz do mundo ao lembrar-se de que, um dia, foi escolhido pelo Senhor para levá-Lo ao Seu povo.
Permita-me a comparação, mas, na verdade, penso que este “jumentinho” somos cada um de nós que constantemente também somos escolhidos para “levar o Senhor” a tantos lugares neste mundo. A pergunta diante disso é: como tenho assumido a missão? Alegro-me por ser meio através do qual o Senhor chega ao povo ou tenho buscado de alguma forma receber Seus aplausos e roubar Sua glória?
Nestes dias, durante uma partilha de vida, recordei-me desta passagem do Evangelho e da forma como ela, certa vez, marcou minha história.
O fato é que há alguns anos, rezei com este texto sagrado e dispus meu coração ao Senhor dizendo que Ele poderia contar comigo, pois a exemplo do “jumentinho”, eu o levaria aonde Ele quisesse. Eu só não imaginava o que viveria poucos meses depois. Acontece que o Senhor levou minha oração a sério e enviou-me a uma família devido a um relacionamento difícil e conturbado.
Na época, mesmo sabendo que estava sendo um instrumento nas mãos de Deus, não conseguia perceber onde a missão começava ou terminava já que os sentimentos se entrelaçavam com a razão e o contexto causou grande sofrimento. Com a graça de Deus e a ajuda de pessoas queridas, acredito que cumpri a missão e tenho certeza de que superei as dificuldades, mas levou um longo tempo para perceber a obra que Deus realmente havia realizado.
Até que um dia, mais uma vez rezando com essa passagem do Evangelho, senti Deus falando fortemente ao meu coração… Ele fez-me lembrar a oração que eu havia feito e mostrou-me que assim como escolheu o “bendito jumentinho”, para, com a ajuda dele, entrar em Jerusalém, havia me escolhido, para por intermédio da minha presença, entrar naquela família que, na época, passava por uma grande perda e precisava da presença do Senhor. Na mesma hora compreendi muita coisa. Foi como se o Senhor retirasse um véu dos meus olhos fazendo-me entender Sua obra e recompensando-me com uma grande paz interior. Hoje, mesmo depois de alguns anos, lembro-me claramente desse fato e cada vez que penso nele, tenho a certeza de que Deus leva a sério nossas orações.
Imagino que talvez você já tenha passado ou esteja passando por uma situação que não compreenda o que realmente está acontecendo. Digo, por experiência: não queira entender tudo de uma vez. Conclusões precipitadas podem nos causar vários danos e o pior deles é impedir a ação de Deus. Viva pela fé. Faça o bem e somente o bem, seja dócil e saiba esperar, com o tempo, se o Senhor quiser, há de lhe revelar a obra que Ele realizou com sua colaboração; abandone-se n’Ele.
Bem sei que por causa da nossa razão que quer entender tudo e agora, a tarefa do abandono nos custa sacrifício, mas sei também que vale a pena esperar em Deus. Não podemos esquecer que somos servos e só existe um Senhor, Aquele que nos escolheu para Seu Reino.
Depois que o “jumentinho” entrou em Jerusalém levando o Mestre, nunca mais tivemos notícias desse animal, mas só posso imaginar que sua vida tenha sido transformada pela alegria da missão cumprida.
Hoje pode ser um dia propício para percebermos aonde o Senhor deseja chegar por meio de nós e darmos os passos na direção da “Jerusalém” que Ele nos mostrar. Coragem! A alegria de contemplar o Senhor glorificado compensa o sacrifício de carregá-Lo. E mais: nunca ouvi dizer de alguém que tenha servido ao Senhor de todo coração e tenha ficado sem recompensa.
Estamos juntos!