Cada pessoa humana recebe o dom da existência sem mérito próprio e sem ter pedido esse dom. Uma vez vindo ao mundo somos colocados num caminho a percorrer, buscando nossa realização ou felicidade pessoal. Isto, porém, é uma conquista. Requer ideal buscado, meios adequados empregados, força de vontade e perseverança no encalço desse objetivo.
Muitos empecilhos acontecem. Contorná-los requer constância, ajuda de outros e conhecimento conquistado a respeito de como fazer para a consecução desse intento. Sem busca de valores estimulantes da caminhada, ficamos dando voltas em nossos próprios limites. Somos estimulados a buscar somente os agrados e prazeres momentâneos e fugazes, sem conquistarmos nossa realização pessoal.
O ser humano desde sua origem se ensimesmou exageradamente. Foi preciso a intervenção de Deus mais uma vez em nossa história para nos ajudar a termos visão global da existência. Sem Ele, não conseguimos vislumbrar o sentido pleno de nossa caminhada terrestre. O Filho de Deus vai à nossa frente indicando o caminho que leva à vida realmente realizadora. É preciso treinar nosso ser humano, muito afeito à fixação no provisório como objetivo de vida, para acertar com sua destinação de plena conquista da felicidade. Ele nos indica a missão ou a dinâmica de ir em frente, com algo altamente precioso para o comunicarmos ao semelhante.
Afinal, não é a busca de tudo o que agrada imediatamente nosso ego a base de sustentação de nossa realização. Ao contrário. Somente obteremos nosso bem-estar pleno quando damos tudo de nós para oferecermos o dom da libertação plena para todos, ou seja, o amor do próprio Deus. Ele faz as pessoas humanas perceberem sua fonte de realização no divino. O Evangelho é a mola mestra da realização humana, pois, contém o segredo do amor divino.
O Apóstolo Paulo lembra. “A Palavra de Deus não está algemada. Por isso suporto qualquer coisa pelos eleitos para que eles também alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna” (2 Tm 2, 9-10). Quem leva a Palavra de Deus ao semelhante, torna-se pessoa de imensa alegria, pois, sua missão na vida tem sentido por basear-se no fundamento do dom da existência e sua finalidade, Deus. Sem Ele, nossa vida apresenta um objetivo pequeno, por mais que tenhamos todas as condições sensíveis de bem-estar. Quando percebemos o objetivo de vida além do terreno nossa vida se torna um campo aberto para nosso gigantesco trabalho de fecundidade do amor baseado em Deus.
Neste mês, especialmente dedicado às missões, a Igreja nos lembra o valor das pessoas que deixam tudo para ir a lugares mais carentes e ali prestar serviços de evangelização e promoção humana. Têm em vista ajudar a plantar sementes do amor de Deus nos corações necessitados do maior valor da existência. Todos somos responsáveis pelo Anúncio da Boa Nova de Jesus, que faz o ser humano superar seu fechamento em si mesmo para se abrir à solidariedade aos outros e ajudar a construir comunidade de justiça e paz.
Cooperamos com a missionariedade da Igreja com a oração e nossa ajuda material aos missionários nas diversas partes do mundo. A Amazônia também é verdadeira terra de missão. Precisamos olhá-la com carinho e ajudá-la intensamente.
* Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral (CEP) para o Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).