Algumas pessoas têm nos perguntado se houve de fato o milagre da multiplicação dos pães (cf. João 6, 1-15; Marcos 14,13-21; João 6, 1-14; Lucas 9, 10-17) ou se houve apenas uma partilha, motivada pelas palavras de Jesus, como alguns andam ensinando. A interpretação de que houve apenas uma partilha não corresponde aos dizeres do texto bíblico e não é aceita pelos bons exegetas em geral. Cristo não fez discurso nenhum pedindo essa partilha, fez um grande milagre.
Querer esvaziar esse milagre portentoso de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma especulação vazia e perigosa em cima do texto bíblico, a qual não pode ser provada. A multiplicação dos pães é um fato histórico milagroso, descrito pelos evangelistas como figura da Eucaristia e da abundância prometida pelos profetas para o Reino messiânico.
O Catecismo da Igreja Católica (CIC), seguindo a Tradição, é claro ao falar do milagre da multiplicação dos pães: O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua Eucaristia (CIC § 1335). É muito interessante a análise do texto em comparação com o milagre da Eucaristia.
Mateus 14, 15: Ao entardecer em grego é a fórmula com que é introduzido o relato da Última Ceia.
Mateus 14, 19: tomou os pães, levantou os olhos para o céu, abençoou, partiu, deu aos discípulos são expressões da Última Ceia e da posterior Celebração Eucarística.
Mateus 14, 20: a grande quantidade de pão assim doada lembra a fartura prometida pelos profetas para os tempos messiânicos (cf. Oséias 14, 8; Isaías 49, 10; 55, 1…)
O ato de recolher os fragmentos que sobram é usual na Celebração Eucarística. É importante notar que o acontecimento foi marcante para os Apóstolos e para todo o povo. Todos os evangelistas narram o milagre. Mateus e Marcos o narram duas vezes (cf. Mateus 14,13-21; 15, 29-39 e Marcos 6, 30-40; 8, 1-18). São Lucas o faz uma vez (cf. Lucas 9, 10-17) e São João também (cf. João 6,1-13). E nenhum desses textos deixa a menor chance de se falar em partilha. São João relata o milagre dizendo: À vista deste milagre de Jesus aquela gente dizia: ‘Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo’ (João 6,14). E o povo queria fazê-Lo rei: Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte (João 6, 15).
As interpretações maciças da Tradição da Igreja e do sagrado Magistério confirmam ter havido um milagre. Ninguém encontrará um texto da Patrística, dos Papas ou dos Santos falando em partilha. A interpretação de que houve apenas uma partilha carece, assim, de fundamento no texto e, portanto, o deturpa perigosamente, pois os evangelistas deixam claro, nas referidas passagens bíblicas, que não havia o que comer:
(…) Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si… Só temos aqui cinco pães e dois peixes. E segue: Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem o que comer. Não quero despedi-la em jejum, de modo que possa desfalecer pelo caminho. Em suma, a ceia da multiplicação dos pães oferecida pelo Senhor a Seu povo é prenúncio da Ceia Eucarística ou do Banquete Celeste, símbolo da bem-aventurança definitiva. Negar esse milagre é tocar perigosamente nas provas da divindade de Jesus. Se esvaziarmos a divindade do Senhor, o que nos restará?
Para falar da beleza da distribuição dos pães que Jesus realizou para matar a fome do povo, não é preciso ocultar e muito menos negar um dos maiores milagres d’Ele. É bom lembrar o que disse São João no final do seu Evangelho: Jesus fez ainda diante de seus discípulos muitos outros sinais, que não se acham escritos nesse livro. Esses porém foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (João 20,30). Assim, são os sinais realizados por Jesus que demonstram a Sua divindade.
Portanto, não é lícito passar ao povo de Deus uma interpretação perigosa e fantasiosa sobre o milagre da multiplicação dos pães, amplamente confirmado pela Igreja.