confiar em Deus

A experiência com Deus precisa ser vivida efetivamente

O que as pessoas dizem a respeito da sua experiência com Deus não é o mais importante, mas sim a realidade do fato da experiência

O Evangelho pode sugerir duas perguntas para a nossa vida pessoal. A primeira é: em que fundamentamos o nosso conhecimento no que diz respeito à nossa fé? A segunda pergunta é: quais são as consequências da fé para nossa vida? Quanto à primeira pergunta, podemos fundamentar nosso conhecimento sobre as coisas da fé a partir da Palavra e do Magistério da Igreja, que nos garantem a verdade, mas podemos fundamentar este conhecimento na opinião de muita gente, que fala muita coisa a respeito de Deus sem entender nada de nada ou até mesmo ter uma fé sem fundamento nenhum. Quanto à segunda pergunta, podemos fazer da nossa fé o motor da nossa vida ou podemos ter apenas uma fé discursiva ou indiferente, que não representa nada para a nossa vida concreta.

-A-experiência-com-Deus-precisa-ser-vivida-efetivamenteFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Mesmo sabendo que nunca chegaremos às certezas absolutas, devemos buscar pistas que revelem como se dá uma verdadeira experiência com Deus. Falando em experiência com Deus, é bom começar a analisar primeiro o que vem a ser “experiência”. Pode-se dizer que ela é composta de dois elementos: o primeiro é um fato que modifica a vida; o segundo é a consciência desse fato. Se um fato modifica profundamente a vida, torna-se, então, uma experiência marcante. É com a consciência desses fatos que se tiram as lições para a vida.

Experiência incompleta

Às vezes, temos uma experiência “incompleta”, isto é, podemos ter tido um fato que modificou nossa vida sem que tivéssemos consciência disso ou de um fato que não ocorreu. O exemplo típico do primeiro caso são jovens que se apaixonam sem saber que estão apaixonados. Muitas vezes, eles negam explicitamente esse fato que outros conseguem perceber claramente. Num caso assim, a falta de consciência não altera o fato, mas dificulta o melhor aproveitamento dessa experiência. No caso da consciência sem fato, tem-se o exemplo da “supermãe”. Ela pensa que ama o filho, mas, na verdade, o sufoca. Pensa que ama e quer o melhor para o filho, porém, não tem uma experiência verdadeira de amor.

Esses dois exemplos revelam a possibilidade de existir pessoas que dizem ter experimentado Deus, sem que isso seja verdade; e pessoas que O experienciam sem ter consciência desse fato. Sendo assim, o que as pessoas dizem a respeito da sua experiência com Deus não é o mais importante, mas sim a realidade do fato da experiência. É isso que ensina Jesus na sua famosa parábola conhecida como a do “juízo final” (Mt 25,31,46). Nem os justos que recebem de herança o Reino nem os injustos têm consciência de terem tido ou não uma experiência com o Senhor. O que conta é o fato de ter ou de não ter aberto o coração (e as mãos) às necessidades dos irmãos.

Para a maioria das pessoas que foram acostumadas a dar mais valor à consciência, ao conhecimento da doutrina ou à confissão da fé, pode parecer estranha essa posição de Jesus. No entanto, numa experiência, o mais importante é o fato que modifica a vida das pessoas.

O que Deus tem para nós?

O Reino dos Céus não é algo estranho para nós, por isso pode ser revelado por meio das coisas mais simples do nosso dia a dia. É por isso que Jesus usa dos elementos que fazem parte da nossa vida cotidiana, como a semente ou o fermento, para que possamos conhece-Lo. A partir disso, podemos compreender que ou fazemos do Reino dos Céus algo que, de fato, seja o elemento marcante do nosso dia a dia e direcione, constantemente, o nosso modo de agir, ou não seremos capazes de descobrir o que Deus tem a nos dizer. Nosso olhar está sempre voltado para as realidades aparentes e, normalmente, essas realidades se sobrepõem diante do que é invisível aos nossos olhos.

É o caso do Evangelho, o qual nos mostra que as pessoas estavam com os olhos fixos nas aparências de Jesus, na sua origem, na sua família e profissão, não sendo capazes de enxergar além e ver nele aquilo que as suas obras tornavam manifesto, que é a sua divindade. O resultado disso tudo é que as pessoas não são capazes de reconhecê-Lo na sua totalidade, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Tudo isso acontece por causa da dureza de seus corações.

Bem e mal

A presença do Reino de Deus na nossa história não pode ser obscurecida pela presença do mal no mundo. As pessoas devem ser capazes de analisar toda a realidade a partir dos critérios do Reino para, à luz do Espírito Santo, ser capaz de discernir o bem do mal e escolher o que contribui para que ela possa se aproximar cada vez mais de Deus. Mas essa distinção não dá ao cristão o direito de condenar os que erram, ao contrário, ele deve ser um instrumento nas mãos de Deus, para que todos sejam capazes de fazer essa distinção e trilhar os caminhos do bem.

Dom Eduardo Quintella
Belo Horizonte – MG