encanto

Existe uma beleza nova que precisa ser descoberta a cada dia

A beleza é sempre encantadora?

Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda-feira eterna? A beleza de cada dia só existe, porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência.

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Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa, que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu fazer uma armadilha para o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola, para que pudesse ouvir seu canto por mais tempo. O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, ele deixou de cantar.

Foi então que a menina descobriu que, o canto do pássaro só existia, porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto, a parcela de encanto que seria necessário, para que a menina pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência. Aprisionado, ela o possuía, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto! Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto. Por vezes, insistimos em capturar o encantador; então, o matamos de tristeza.

O que é viver?

Amar talvez seja isso: ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também. Precisamos descobrir que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto à medida que nos empenharmos em não reter a vida. Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as novas descobertas.

Há uma beleza escondida nas passagens. Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna, nem felicidade. Talvez, seja por isso que o verbo dividir nos ajude tanto no momento em que precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à medida em que os dividimos. E enquanto dividimos, eles passam, assim como tudo precisa passar.

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Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo está passando, uma redenção está sendo nutrida nessa hora. Abra os olhos! Há encantos escondidos por toda parte. Preste atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só para você. Ele só é encantado, porque você não o possui. E nisso consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o pássaro encantado, quando você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.


Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa “Direção Espiritual” na TV Canção Nova. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.