Entenda o pecado contra o Espírito Santo
São Mateus: «Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. E àquele que falar contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, a quem falar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado, nem neste mundo nem no futuro». Blasfemar é um pecado contra o Espírito Santo.
Por que a blasfêmia contra o Espírito Santo é imperdoável? Em que sentido entendê-la? Santo Tomás de Aquino responde que se trata de um pecado «imperdoável por sua própria natureza, porque exclui aqueles elementos graças aos quais é concedida a remissão dos pecados».
A blasfêmia não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras, mas, antes, na recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao homem, mediante o mesmo Espírito, agindo em virtude do sacrifício da cruz. Se o homem rejeita o deixar-se «convencer quanto ao pecado», que provém do Espírito Santo e tem carácter salvífico, ele rejeita contemporaneamente a «vinda» do Consolador: aquela «vinda» que se efetuou no mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que «purifica a consciência das obras mortas».
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Sabemos que o fruto dessa purificação é a remissão dos pecados. Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas «obras mortas», no pecado. E a «blasfêmia contra o Espírito Santo» consiste exatamente na recusa radical de aceitar essa remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e que pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência.
Se Jesus diz que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta «não-remissão» está ligada, como à sua causa, à «não-penitência», isto é, à recusa radical a converter-se. Isso equivale a uma recusa radical de ir até as fontes da redenção; estas, porém, permanecem «sempre» abertas na economia da salvação, na qual se realiza a missão do Espírito Santo. Este tem o poder infinito de haurir dessas fontes: «receberá do que é meu», disse Jesus.
Entenda a blasfêmia
Deste modo, Ele [Espírito Santo] completa nas almas humanas a obra da Redenção, operada por Cristo, distribuindo os seus frutos. Ora a blasfêmia contra o mesmo Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu pretenso «direito» de perseverar no mal, em qualquer pecado e recusa, por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida.
É uma situação de ruína espiritual, porque a blasfêmia contra o Espírito Santo não permite ao homem sair da prisão em que ele próprio se fechou e abrir-se às fontes divinas da purificação das consciências e da remissão dos pecados. A ação do Espírito da verdade, que tende ao salvífico «convencer quanto ao pecado», encontra no homem que esteja em tal situação uma resistência interior, uma espécie de impermeabilidade da consciência. Um estado de alma que se diria endurecido em razão de uma escolha livre: é aquilo que a Sagrada Escritura repetidamente designa como «dureza de coração».
Na nossa época, a esta atitude da mente e do coração corresponde talvez à perda do sentido do pecado, sobre a qual são dedicadas muitas páginas da “Exortação Apostólica Reconciliatio et Paenitentia”. Já o Papa Pio XII tinha afirmado que «o pecado do século é a perda do sentido do pecado». E essa perda vai de par com a «perda do sentido de Deus». É por isso que a Igreja não cessa de implorar de Deus a graça de que não venha a faltar nunca a retidão nas consciências humanas, que não se embote a sua sensibilidade sã diante do bem e do mal. Essa retidão e sensibilidade estão profundamente ligadas à ação íntima do Espírito da verdade. A Igreja implora que o perigoso pecado contra o Espírito Santo ceda o lugar a uma santa disponibilidade para aceitar a missão do Consolador, quando Ele vier para «convencer o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo».
Artigo extraído do documento “Dominum et vivificantem”, de João Paulo II sobre o Espírito Santo na Vida da Igreja e do Mundo de 18/mai/1986