O poder do olhar Divino

O olhar de Jesus tem o poder de curar nossas feridas

Olhar a vida de diferentes pontos de vista é uma atitude sábia que floresce no tempo de nosso próprio amadurecimento

Ver a vida com novos olhos é descobrir o que estava à nossa frente e não conseguíamos enxergar. O tempo nos ensina a olhar com maturidade. Inútil será querer ver o fruto quando a semente ainda está nascendo. O tempo reconcilia nossos olhares com nós mesmos e com a vida, e muitas são as maneiras de olharmos para ela. Cada um vê a partir daquilo que a vida lhe ensina. Uns olham longe e acabam se perdendo na imensidão do que veem.

O olhar de Jesus tem o poder de curar nossas feridas
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Outros olham perto e não conseguem ir além do que estão vendo. Outros olham apenas para si mesmos e vivem fechados em um olhar individualista. Cada olhar é uma maneira única de nos encontrarmos com aquilo que vemos, e cada encontro precisa ter o olhar da sabedoria, que nos ensina a sermos mais humanos. Múltiplos são os olhares e eles ganham as tonalidades que neles imprimimos. Há olhares de inveja que roubam a paz.

O silêncio do olhar divino

Há olhares de indiferença que fazem com que o outro sinta-se desprezado e humilhado. Há olhares de raiva, que imprimem na alma as marcas da agressividade. Há olhares tristes, que estão presentes em muitos e nos mostram o inverno rigoroso que fez morada em territórios misteriosos da alma. Há também os olhares que transmitem vida: o olhar da compaixão que acolhe, o olhar alegre, que nos faz sentir abraçados; o olhar da paz, que nos devolve o céu; o olhar de solidariedade, que nos une como irmãos e irmãs. Nosso olhar revela o que se passa em nossa alma. Captar o que ele quer dizer pode ser uma tarefa difícil. É necessária a sensibilidade de quem, um dia, aprendeu a olhar como o Mestre da Vida. Muitos olharam e foram olhados por Jesus; dentre todos esses olhares temos a certeza somente de uma coisa: quem olhou ou foi olhado por Jesus nunca mais foi o mesmo. O olhar de Cristo tinha a sensibilidade de devolver ao ser humano o sentido de sua existência. O silêncio do olhar divino escrevia novas frases de uma vida que se encontrava sem sentido.

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Jesus olhou para a samaritana e lhe entregou uma fonte de água viva. Nunca mais aquela mulher teve sede de vida! A fonte de um novo tempo irrigou os canteiros daquela alma cansada de buscar uma água que não saciava a sede de modo definitivo. As águas que saciaram aquela alma sedenta brotavam de uma fonte viva. O balde foi deixado de lado, pois a fonte de água agora jorrava dentro dela mesma.

A pecadora tinha, diante de si, olhares que a condenavam. Quem rotula o próximo já foi, antes, rotulado pelos próprios pecados. Jesus sabia que aqueles olhares estavam contaminados pelos próprios pecados de quem olhava os erros daquela mulher. O outro é um espelho que indica o que em nós precisa ser mudado. Quando não conseguimos retirar as ervas daninhas de nossa alma, vamos até os canteiros do outro e tentamos cuidar de terrenos que não nos pertencem. Jesus olhou para aqueles olhos que estavam prestes a matar a mulher e retirou o véu das próprias imperfeições que eles carregavam dentro de si. Olhares imperfeitos têm o brilho da perfeição.

Cura interior

Recomeçar a vida

Foi somente um olhar de amor que devolveu àquela mulher a chance de recomeçar a vida de modo diferente. O olhar da misericórdia encontrou-se com o olhar de imperfeições. A misericórdia semeou, naquela vida, as flores da primavera de novas alegrias, e ela partiu para levar o perfume das flores que agora brotavam em sua alma.

Cada olhar de Jesus mostrava um novo caminho para quem d’Ele se aproximava. O olhar divino tocava a alma humana de cada pessoa e fazia de cada manhã a mais bela experiência do viver. Nunca um olhar foi tão surpreendente com o olhar de Cristo. Quem olha com amor devolve a luz que foi apagada pelas incompreensões de uma noite que está prestes a se despedir.

Uma nova vida começa a existir a partir do momento que mudamos o nosso modo de ver o mundo. Enquanto há muitos olhares que matam, Jesus olha com vida para os canteiros de nossas possibilidades. Enquanto houver um amanhecer, Deus estará olhando com a luz do seu amor sobre cada um de nós. Nos olhares de amor de Cristo descobriremos que os nossos olhares imperfeitos estão prestes a serem sementes de uma nova estação que se chama Amor.

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Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.