“Portanto, perdoa o crime dos servidores do Deus de teu pai. Ouvindo isso, José pôs-se a chorar. Vieram seus irmãos e prostraram-se diante dele, dizendo: ‘Somos os teus servos’. José lhes disse: ‘Não tenhais medo! Estou eu, por acaso, no lugar de Deus?'” (Gn 50,17b-19)
Olhando para esse texto do livro do Gênesis, deparo-me com uma realidade tão terrível quanto comum à vida da gente: a luta contra o orgulho que existe dentro do coração humano. O orgulho existe, ele é fato, ele é real. Não é uma fábula nem um mito, o orgulho se faz presente, infelizmente, em nosso cotidiano, mas Deus nos dá as armas contra este “câncer” do orgulho, que vai nos matando e nos corroendo por dentro. Quais são?
Como combater o orgulho?
Penso que este texto nos mostra algumas dessas armas. O autor sagrado faz questão de deixar claro o diálogo entre José e seus irmãos. Veja só que interessante: os irmãos pedem perdão a José pelos erros cometidos. E qual é a resposta de José? Ele chora, simplesmente chora. José se comove ao perceber a miséria dos próprios irmãos, responde com o coração, responde com a mais bela das respostas (perdoe-me a redundância): a emoção! Ela é, de fato, a mais linda resposta para alguém que se dirige a nós com sinceridade de coração.
Foi o que José fez para com os seus irmãos: respondeu-lhes a partir das suas lágrimas, que brotaram de dentro da alma. Alma esta que se abriu ao perdão e esqueceu, definitivamente, o mal feito, no passado, por aqueles que traziam nas veias o mesmo sangue que ele.
Como é doloroso ver-se maltratado por aqueles que nos são mais caros, mais próximos a nós! O orgulho, nesse caso, surge disfarçado de indiferença. Ou seja, não damos o primeiro passo, não saímos de nós mesmos, porque queremos preservar a nossa própria imagem. Já pensou sofrer de novo com a mesma pessoa logo após ter lhe dado o perdão? É decepção demais!
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Não tenha medo
Assim, vamos dando desculpas para nos mantermos sempre indiferentes à miséria alheia. Uma indiferença que, olhando mais de perto, assemelha-se ao medo. Sim, ao medo de colocar-se frente a frente com a nossa própria miséria refletida na miséria do outro a quem amamos. Medo de sermos feridos mais uma vez, medo de acreditarmos na mudança do outro, e essa “crença” não dar em nada!
José não teve este medo. Ele soube fazer a melhor escolha. Ele chorou e perdoou. Daí, a resposta movida pela força do perdão: “Não tenhais medo!”. E o mais lindo: ele se colocou no devido lugar: “Estou eu, por acaso, no lugar de Deus?”. Os irmãos se prostraram diante do José que chora e perdoa, mas isso não está certo, porque somente Deus merece o nosso prostrar, porque somente do Senhor é que nos vem a graça de nos emocionarmos com a alma de cada ser humano (a ponto de chorarmos lágrimas de misericórdia) e oferecer-se com generosidade o grande antídoto para o orgulho que se chama perdão. José se emociona e perdoa aos seus, porque, em primeiro lugar, provou a misericórdia e o perdão de Deus em sua própria vida.
Siga o exemplo de São José
Quem perdoa e sabe chorar diante das belas manifestações da alma humana é alguém que entendeu que não precisa ter medo de nada. Esse sabe quem é Deus! E fica para nós este ensinamento deixado por José: quem aprendeu a se emocionar e a perdoar é alguém feliz e menos escravo do próprio orgulho.
Queres libertar-se do orgulho que mata e nos leva à terrível indiferença? Peça a Deus, e somente a Ele, pois nada nem ninguém pode ocupar o seu lugar em nossa vida, a graça de se emocionar e de dar aquele difícil, mas grandioso primeiro passo nas mais dolorosas situações. E creia: este primeiro passo o conduzirá por um inesperado e maravilhoso caminho, até repousares nas águas doces e serenas do perdão.