Ausência: frustração ou possibilidade?

É duro digerir o sabor de uma ausência. Alguém que parte, vai embora, deixando apenas o silêncio, o barulho do seu silêncio.

Uma presença tem o poder de ocupar um espaço – lugar definido e cheio de significação – no coração, um pedaço que se encaixa com tudo aquilo que é próprio dessa presença.

A ausência sempre dói, deixa um vazio. Mesmo quando não se percebe.

Ninguém constrói a vida com o intuito de ser abandonado, deixado para trás, de ser impossibilitado de contemplar aquilo que seu coração amou. No entanto, a ausência é uma linha que sempre perpassará a trama da existência, e em algum momento – voluntaria ou involuntariamente – ela se fará presença em nossa história. Inúmeras são as ausências: olhares, histórias, palavras que exercem o ofício de passar…
Existem ausências eternas – a morte, por exemplo –, e ausências circunstanciais, tecidas pelo abandono ou pela distância daqueles que se que amam.

A experiência de perder alguém para a eternidade gera uma enorme dor no coração. Contudo, a experiência de perder uma presença em uma ausência ainda presente na existência desinstala profundamente o coração, deixando um gosto de desamparo e frustração. O abandono traduz com maestria um dos maiores desejos da vida: o desejo da presença.

O vazio insere o ser do homem no nada, na náusea da mais profunda descaracterização daquilo que se é. Diante disso, em muitos corações ecoa a silenciosa pergunta: Por quê? Porque agora estou na companhia da solidão e não restou nenhuma palavra para explicar: “Sinto falta da sua voz. Não a ouço, mas ela continua falando dentro de mim…”.

O vazio – ausência que configura a real desconfiguração – coloca o homem diante de sua verdade, revelando a ele sua necessidade de uma Presença que não passe. “Presença que não passe?” – diriam aqueles que jazem sufocados sob o peso da frustração – “Isso é possível? Visto que o abandono é companhia constante, que em algum momento baterá à nossa porta?” A isso responderia: “Não sei. Não quero ter a pretensão de dar pequenas respostas a grandes vazios”. Entretanto, com ousadia, desejo devolver a pergunta: É possível dar “Sentido” a vazios que nasceram em virtude da presença de uma ausência?

Acredito que essa resposta mora em cada um. O coração sempre soube – mesmo que inconscientemente – que a vida nasceu para ser mais que seus próprios limites. Esse é um pressentimento inerente.

Um vazio sempre gerará a frustração, mas esta precisa ser enfrentada e “resignificada”. Amar é uma maneira concreta de fazer isso. Amor: capacidade de guardar o que é bom, de superar distâncias e de superar – até mesmo – o fato de não mais ser querido e acompanhado por alguém.

As ausências se tornam suportáveis e até mesmo aprendizado se o coração consegue descobrir essa “Presença”, que não passa, e n’Ela consegue se ancorar.

Essa Presença é real. Ela acompanha a existência e dá sentido a qualquer vazio, pois tem o amor como essência. Ela nunca vai embora… Quando o olhar descobre tal realidade, ele tem a chance de não mais se entrelaçar apenas no que passa, mas pode descobrir, a partir da ausência, “tijolos” que constroem eternidade, pois provocam o olhar para a busca do Eterno e daquilo que O compõe.

Que o coração possa se enxergar sem ilusões diante das perdas e do real e, assim, possa encontrar – mesmo na ausência – forças para emoldurar com esperança suas dores e sua história.