Combatentes na provação

Assim como Jesus sofreu perseguições também os que o seguem sofrerão. Ele próprio disse: “O discípulo não está acima do seu mestre…” (Mt 10,24a). O discípulo acabará vivendo aquilo que o mestre viveu. Se trataram assim a Jesus, o que não farão conosco? Jesus deixa bem claro: “Se alguém quer vir em meu seguimento, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. (Mc 8,34b).

Aí está o nosso adestramento. O Senhor não tem receio de fazer-nos passar pela provação. Ele sabe que precisamos ser provados.

É a única maneira de criarmos têmpera e nos tornarmos os valentes guerreiros de que o Senhor precisa. Não estranhe: os seus combatentes passam por muitas tribulações. Eles são testados no fogo da provação.

Não é possível ser cristão e não ser perseguido. Quem não passa, como Jesus, por perseguições, controvérsias e tribulações de todo tipo, é porque não está vivendo um autêntico cristianismo. Jesus nos mostra isso como bem-aventurança:

“Felizes sois vós quando vos insultam, vos perseguem e mentindo dizem contra vós toda a espécie de mal por minha causa. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque grande é a vossa recompensa nos céus: foi assim, com efeito, que perseguiram os profetas que vos precederam” (Mt 5,11-12a).

Profeta não é aquele que adivinha o futuro, e sim aquele através de quem Deus fala. Somos os meios que Deus usa para falar. Justamente por causa disso, aqueles que não aceitam a Jesus e ao Evangelho, acabam nos agredindo. Na verdade, eles investem contra Aquele que fala e faz em nós. Mas somos nós que acabamos sendo atingidos.

Deus nos usa como luz. Por isso incomodamos os que não são d’Ele. E por incomodarmos, eles vêm contra nós.

Somos motivo de questionamento para as pessoas que não se importam com Deus.

Quero lhes contar o seguinte: uma pessoa muito próxima a mim, contava que aqueles que viviam na sua casa lhe diziam: “Você é como a nossa “consciência”, vive nos acusando. Sua presença, seu jeito, suas palavras nos acusam”. Essa pessoa não fazia nada disso…, mas os outros se sentiam acusados e agredidos só porque ela lutava para ser de Deus e testemunhar isso com a vida.

Portanto, não se iluda! Se somos de Deus, se vivemos de modo cristão, acabamos por incomodar. E é esse incômodo que pode salvar. Na verdade, não somos nós que incomodamos. É o Evangelho que vivemos. A luz de Deus que está em nós.

No livro de Jeremias lemos o seguinte:

“Escuto as ameaças da multidão – terror de todos os lados: “Denunciai-o!” – “Sim, vamos denunciá-lo!”. Todos os meus amigos íntimos espreitam uma vacilação minha: “Talvez, em sua ingenuidade, se deixe enganar e alcançaremos nosso objetivo; dele nos vingaremos”. Mas o Senhor está comigo qual guerreiro temível; meus perseguidores tropeçarão, não alcançarão seu objetivo” (Jr 20,10-11a).

Guerreiro temível, poderoso guerreiro, valente guerreiro, no hebraico se expressa por uma palavra só: “Guibor”. Deus está querendo fazer de cada um de nós um guerreiro valente: que não tem medo e enfrenta o combate.

Na Bíblia de Jerusalém a tradução é “homem de guerra”. Isso aponta a identidade da pessoa. Quando dizemos cão de caça, não estamos falando de um cão qualquer, um vira-latas que caça galinhas. Trata-se de um cão de caça. Igualmente conosco: o Senhor nos criou para sermos “homens de guerra”. Mas, infelizmente, o mundo nos fez pessoas frágeis: medrosas, inseguras, quebradiças….

O inimigo nos trouxe excesso de conforto para nos tornar “moles”. Somos uma geração que não agüenta dor alguma: vivemos recorrendo a analgésicos. Não agüentamos uma caminhada longa. Mas não fomos feitos para isto; pelo contrário: a nossa natureza é de guerreiros. Somos imagem e semelhança de Deus. Se o nosso Deus é “guerreiro”, nós também o somos. Precisamos voltar à nossa origem: fomos feitos para a guerra: para a luta, para a vitória, não para sermos “moles”. É para isso que o Senhor está nos treinando.

O termo “guibor” quer dizer guerreiro: um guerreiro provado. Deus quer e precisa nos provar. Precisamos passar pela prova: somente assim, criaremos têmpera. Essa têmpera é necessária para não sermos derrotados. Deus nos prova na vida, no sofrimento, e na dor, para sermos aprovados e assim conquistarmos a vitória.

Não tenha medo da perseguição. Nosso Deus é um “guibor”. Por isso, mesmo o fraco e o enfermo diga: eu sou um “guibor”. Sim, eu sou guerreiro.

Do livro: “Combatentes na provação” de padre Jonas Abib.