Podemos dizer que Deus é família primeiro porque o seu ser mais intimo é comunhão: Pai, Filho e Espírito Santo. Antes de toda a eternidade existe esse amor em Deus, antes dos nossos egoísmos e isolamentos. Fomos criados por Deus a partir do amor d’Ele. Não aceitar Seu amor será causa de frustrações, infelizmente freqüentes, quando o individualismo marca o contato entre as pessoas.
Mas Deus é família porque quis entrar pela porta de casa na humildade que Ele mesmo criara. Jesus Cristo, Verbo de Deus encarnado, nosso Salvador, viveu o relacionamento contidiano de uma família. Belém, Jerusalém, fuga para o Egito ou outros possíveis lugares, mas especialmente a casa de Nazaré. Cerca de trinta anos de afeto, aquecido pelo fogo de um lar simples e verdadeiro: Jesus, Maria e José. Olhar para essa casa é aprender de novo o valor da família.
Maria e José, pessoas que vieram da fé, foram conduzidos por Deus, momento por momento, aprendendo e crescendo tanto, que ficavam admirados com o que diziam a respeito do menino (cf. Lc 2, 22-40). Sua experiência é luz também para nós, que não temos prontas as nossas famílias, chamadas a cada dia a crescer, montando peça por peça a obra de arte que lhes foi confiada.
Em casa, os pais vivem a alegria do primeiro filho, sabendo-se participantes da obra de Deus, pois Ele cria porque é bom, porque ama. Sua tarefa é continuação da iniciativa amorosa de Deus, destinada a se perpetuar. E, quando os esposos vivem intensamente sua vocação, cada filho será como o primeiro e sua vinda ao mundo repetirá a admiração diante da maravilha que lhes foi dada pelo próprio Senhor.
Ainda que tenham sido publicadas estatísticas reveladoras do “declínio” do casamento, muita gente tem coragem de retornar o que pode parecer superado. Os cristãos são chamados a lançar sobre a família as luzes nascidas de sua experiência de fé.
Vivamos revestidos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e, sobretudo, caridade (cf. Cl 3, 12-21), começando em nossas casas, tendo como modelo a Família de Nazaré.
(Artigo extraído do livro “Quero a misericórdia”)